País
onde tudo é superlativo
Pedro J. Bondaczuk
A China é, mesmo, um país fascinante, onde tudo é
dimensionado em termos gigantescos, grandiosos, superlativos, exagerados até.
Civilização milenar (é o país mais antigo do mundo entre os que conservaram,
além do nome, as características nacionais básicas), abriga, na terceira maior
extensão territorial do Planeta (com 9.960.547 quilômetros quadrados), cerca de
um bilhão e cem milhões de habitantes, ou seja, um quarto de toda a humanidade.
Mencionar tudo o que essa sociedade nacional, (um
tanto misteriosa, para não dizer exótica), tem de grande, ocuparia, também, um
espaço exagerado. Esse preâmbulo destina-se a ressaltar que, entre os títulos
de “mais e maiores” que a China detém, estão, sem dúvida, as revoluções e fases
históricas.
Apenas neste século, faltando, ainda, 16 anos para o
seu final, os chineses já experimentaram pelo menos dez grandes mudanças
institucionais (se for incluída a atual). Entre estas, está a aprovada ontem
pelo seu Parlamento (também exagerado, de 2.700 membros).
Em 1911, por exemplo, Sun Yat-Sen implantava a
República no país, forçando o imperador a abdicar do trono. Virou jardineiro do
palácio que habitava. Em 1917, a China foi convulsionada por sangrenta e longa
guerra civil. Em 1935, os comunistas locais empreenderam o mais prolongado
êxodo de que se tem notícia na história, a célebre Grande Marcha, feita ao
longo de 9.600 quilômetros, que durou catorze anos. Em 1949, Mao Tse-Tung, um
dos protagonistas dessa epopéia, ascendeu ao poder, fazendo com que o seu
outrora aliado e depois mais ferrenho inimigo, o general Chiang-Kai-Shek, se
refugiasse na ilha de Taiwan (atualmente conhecida como República de Formosa,
embora os chineses a considerem mero território rebelde).
No período de Mao, o país teve grandes movimentos
políticos, como a Campanha das Cem Flores, em 1956; o Salto à Frente, em 1958;
a Revolução Cultural, em 1966 e vai por aí afora, todos com o mesmo objetivo:
conseguir, no mais curto prazo, o máximo de desenvolvimento, para alimentar,
vestir, educar e dar trabalho à imensa legião e pessoas que o país abriga.
Entretanto, de todas as revoluções e movimentos que
a China já teve, possivelmente o atual seja o que é visto com a maior
expectativa pelo Ocidente. Até por uma questão puramente pragmática, ou seja, a
conquista do maior mercado potencial do Planeta, ainda praticamente virgem, e
que agora toma gosto pelas delícias consumistas do capitalismo.
Se vai dar certo, ou não, mais esta experiência
chinesa, é impossível de se prever. Mas uma coisa é certa: tão maiúsculo, como
tudo o que se refere à China, é o desejo de que a nova mentalidade dessa
potência marxista não sofra outras decepcionantes soluções de continuidade,
para que a sua estatística de fracassos não fique, também, entre as maiores do
mundo.
(Artigo publicado na página 9, Internacional, do
Correio Popular, em 1º de junho de 1984)
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