A Voz de Blumenau
Pedro
J. Bondaczuk
A escritora catarinense
Urda Alice Klueger desenvolve, desde 1979, ano de publicação de seu primeiro
livro (“Verde Vale”, já em décima edição), intensa atividade literária. Nestes
últimos 35 anos, por exemplo, publicou (se as informações de que disponho
estiverem corretas), outras catorze obras, além da que mencionei (que relata a
saga da família alemã Sonne na colonização do Vale do Itajaí, em Santa
Catarina). São eles:
“As brumas dançam sobre
o espelho do rio” (romance histórico, 1981), “No tempo das tangerinas” (romance
histórico que é continuação de “Verde Vale”, cuja décima segunda edição será
lançada, oficialmente, em 27 de setembro, em Blumenau, 1983), “Vem, vamos
remar” (relato, já em quarta edição, 1986), “Te levanta e voa” (romance, 1989),
“Cruzeiros do Sul” (romance histórico, 1991), “Recordações de amar em Cuba II”
(relato, 1995), “A vitória de Vitória” (romance infantil, em segunda edição,
1998), “Entre condores e lhamas” (relato de viagens pela região dos Andes,
1999), “Crônicas de Natal e histórias de minha avó” (crônica memorialística,
2002), “Amada América” (crônicas de viagem, 2003), “O povo das Conchas”
(paradidático, sobre sua pesquisa pré-histórica dos sambaquis,. 2004),
“Histórias d’além mar” (crônicas de viagem, 2004), “Sambaqui” (pesquisa
pré-histórica, 2008) e “Meu cachorro Atahualpa” (relato sobre seu amigo de
quatro patas, 2010).
Trechos de várias
dessas obras já foram publicados neste espaço, em diversos sábados em que Urda
participa, desde 2009, da coluna semanal “Porta Aberta”. Entre seus temas,
volta e meia estão presentes personagens, coisas, fatos e problemas de sua
cidade natal. Não cometeria nenhum exagero, portanto, se a chamasse de “A Voz
de Blumenau”, que ela, de fato, é. Pelo contrário, apenas faria justiça.
Sua atividade
literária, porém, não se restringe aos livros que escreve e edita, o que, por
si só, já é trabalho digno de um Hércules de saias. Afinal, ao longo de todos
estes anos, Urda se fez presente em diversas antologias, além de ter
colaborado, e ainda colaborar, com vários jornais e revistas, inclusive do
Exterior. Publicou, por exemplo, 150 crônicas no jornal “A Notícia”, de
Joinville. Com o “Expresso das nove”, de Açores, Portugal, contribuiu com
aproximadamente 130 textos. Foi, ainda, durante muito tempo, cronista do
“Diário Catarinense”, de Florianópolis. Não foram apenas estas suas aparições
na imprensa, mas creio que as que citei são suficientes para ilustrar seu vigor
intelectual e seu entusiasmo pela Literatura. Não por acaso, é membro da
Academia Catarinense de Letras. Até uma biografia de Urda já foi escrita, o que
atesta sua relevância como escritora. Trata-se do livro-reportagem da
jornalista Camila Morgana Lourenço, intitulado “Retrato literário: Urda Alice
Klueger e o fazer literário” (publicação conjunta de Itajaí-Univale e
Blumenau-Edifurb, datada de 2005).
“No tempo das
tangerinas” (cuja décima segunda edição, reitero, estará sendo lançada em, 27
de setembro), que é a saga da segunda geração da família Sonne – apresentada em
“Verde Vale” – esteve na lista do Vestibular em três anos consecutivos: 2003,
2004 e 2005. Até conhecer os textos de Urda, meu conhecimento sobre escritores
catarinenses era restritíssimo. Conhecia, além do seu astro maior, o poeta João
Cruz e Souza, no meu entender o maior expoente do Simbolismo no Brasil (cujos
livros não me canso de ler, reler e citar sempre que posso), um ou outro nome,
mais em evidência. Entre eles destaco Afonso d’Escragnolle Taunay, Leonardo
Boff, Luís Delfino e o poeta Lindolfo Bell. Hoje, todavia, minha biblioteca já
conta com livros de pelo menos uma dezena de (excelentes) autores de Santa
Catarina.
Só isso, para mim, é
algo que não tem preço, em termos de ampliação de meus conhecimentos de
Literatura Brasileira, tão rica e, no entanto, tão mal divulgada. Cito, para
encerrar estes breves comentários, o depoimento da escritora Mariana Klueger
(autora do livro “Os aromas do deserto”). Convidada a escrever o texto da
orelha de “No tempo das tangerinas” (na sua sétima edição, embora não saiba se
ele permanece na décima segunda), ela confessou ter ficado sumamente emocionada
ao reler esse romance histórico. E explicou por que: “Emoção da saudade.
Saudade de um tempo que não voltará, mas que ainda aproveitei o meu cadinho.
Cadinho com cheiro de tangerina, de tardes frias e noites de terral, de vacas mugindo
e de leite recém tirado. De aipim frito e chá de mate quente. E o calor da
emoção percorrendo minha cabeça a medida que a história se desenrolava e me
transportava para uma infância de banhos de ribeirão, passeios de carroça,
frutas roubadas ainda verdes, olhos doces de meu avô que tudo via e sabia, mas
tudo perdoava, rindo por baixo de seus ruivos bigodes. O namoro de Terezinha
(quantos de nós também passamos por algo assim?), e a torcida para dar certo no
final. A brasilidade aflorada na sua força total. A luta do homem do campo, do
imigrante. Enfim tudo o que me levou a me emocionar, vai levar você, leitor, a
viajar no tempo das tangerinas”. Faça, de fato, essa viagem, sendo ou não do
Vale do Itajaí. Garanto que você vai adorar!
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