Tuesday, September 16, 2014

A Voz de Blumenau

Pedro J. Bondaczuk

A escritora catarinense Urda Alice Klueger desenvolve, desde 1979, ano de publicação de seu primeiro livro (“Verde Vale”, já em décima edição), intensa atividade literária. Nestes últimos 35 anos, por exemplo, publicou (se as informações de que disponho estiverem corretas), outras catorze obras, além da que mencionei (que relata a saga da família alemã Sonne na colonização do Vale do Itajaí, em Santa Catarina). São eles:

“As brumas dançam sobre o espelho do rio” (romance histórico, 1981), “No tempo das tangerinas” (romance histórico que é continuação de “Verde Vale”, cuja décima segunda edição será lançada, oficialmente, em 27 de setembro, em Blumenau, 1983), “Vem, vamos remar” (relato, já em quarta edição, 1986), “Te levanta e voa” (romance, 1989), “Cruzeiros do Sul” (romance histórico, 1991), “Recordações de amar em Cuba II” (relato, 1995), “A vitória de Vitória” (romance infantil, em segunda edição, 1998), “Entre condores e lhamas” (relato de viagens pela região dos Andes, 1999), “Crônicas de Natal e histórias de minha avó” (crônica memorialística, 2002), “Amada América” (crônicas de viagem, 2003), “O povo das Conchas” (paradidático, sobre sua pesquisa pré-histórica dos sambaquis,. 2004), “Histórias d’além mar” (crônicas de viagem, 2004), “Sambaqui” (pesquisa pré-histórica, 2008) e “Meu cachorro Atahualpa” (relato sobre seu amigo de quatro patas, 2010).

Trechos de várias dessas obras já foram publicados neste espaço, em diversos sábados em que Urda participa, desde 2009, da coluna semanal “Porta Aberta”. Entre seus temas, volta e meia estão presentes personagens, coisas, fatos e problemas de sua cidade natal. Não cometeria nenhum exagero, portanto, se a chamasse de “A Voz de Blumenau”, que ela, de fato, é. Pelo contrário, apenas faria justiça.

Sua atividade literária, porém, não se restringe aos livros que escreve e edita, o que, por si só, já é trabalho digno de um Hércules de saias. Afinal, ao longo de todos estes anos, Urda se fez presente em diversas antologias, além de ter colaborado, e ainda colaborar, com vários jornais e revistas, inclusive do Exterior. Publicou, por exemplo, 150 crônicas no jornal “A Notícia”, de Joinville. Com o “Expresso das nove”, de Açores, Portugal, contribuiu com aproximadamente 130 textos. Foi, ainda, durante muito tempo, cronista do “Diário Catarinense”, de Florianópolis. Não foram apenas estas suas aparições na imprensa, mas creio que as que citei são suficientes para ilustrar seu vigor intelectual e seu entusiasmo pela Literatura. Não por acaso, é membro da Academia Catarinense de Letras. Até uma biografia de Urda já foi escrita, o que atesta sua relevância como escritora. Trata-se do livro-reportagem da jornalista Camila Morgana Lourenço, intitulado “Retrato literário: Urda Alice Klueger e o fazer literário” (publicação conjunta de Itajaí-Univale e Blumenau-Edifurb, datada de 2005).

“No tempo das tangerinas” (cuja décima segunda edição, reitero, estará sendo lançada em, 27 de setembro), que é a saga da segunda geração da família Sonne – apresentada em “Verde Vale” – esteve na lista do Vestibular em três anos consecutivos: 2003, 2004 e 2005. Até conhecer os textos de Urda, meu conhecimento sobre escritores catarinenses era restritíssimo. Conhecia, além do seu astro maior, o poeta João Cruz e Souza, no meu entender o maior expoente do Simbolismo no Brasil (cujos livros não me canso de ler, reler e citar sempre que posso), um ou outro nome, mais em evidência. Entre eles destaco Afonso d’Escragnolle Taunay, Leonardo Boff, Luís Delfino e o poeta Lindolfo Bell. Hoje, todavia, minha biblioteca já conta com livros de pelo menos uma dezena de (excelentes) autores de Santa Catarina.

Só isso, para mim, é algo que não tem preço, em termos de ampliação de meus conhecimentos de Literatura Brasileira, tão rica e, no entanto, tão mal divulgada. Cito, para encerrar estes breves comentários, o depoimento da escritora Mariana Klueger (autora do livro “Os aromas do deserto”). Convidada a escrever o texto da orelha de “No tempo das tangerinas” (na sua sétima edição, embora não saiba se ele permanece na décima segunda), ela confessou ter ficado sumamente emocionada ao reler esse romance histórico. E explicou por que: “Emoção da saudade. Saudade de um tempo que não voltará, mas que ainda aproveitei o meu cadinho. Cadinho com cheiro de tangerina, de tardes frias e noites de terral, de vacas mugindo e de leite recém tirado. De aipim frito e chá de mate quente. E o calor da emoção percorrendo minha cabeça a medida que a história se desenrolava e me transportava para uma infância de banhos de ribeirão, passeios de carroça, frutas roubadas ainda verdes, olhos doces de meu avô que tudo via e sabia, mas tudo perdoava, rindo por baixo de seus ruivos bigodes. O namoro de Terezinha (quantos de nós também passamos por algo assim?), e a torcida para dar certo no final. A brasilidade aflorada na sua força total. A luta do homem do campo, do imigrante. Enfim tudo o que me levou a me emocionar, vai levar você, leitor, a viajar no tempo das tangerinas”. Faça, de fato, essa viagem, sendo ou não do Vale do Itajaí. Garanto que você vai adorar!


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