Thursday, September 18, 2014

Crer ou não crer...

Pedro J. Bondaczuk

A crença, seja no que for, é um comportamento estritamente pessoal. Eu sei no que creio, embora nem sempre (ou quase nunca) consiga justificar o por quê. Quanto ao que os outros crêem, tenho que acreditar no que dizem ou escrevem a respeito. Não há outro jeito. E jamais terei certeza se estão ou não mentindo. Comprovar, portanto, se estão sendo sinceros ou não, não tenho como. Ninguém tem. Não temos o dom de ler pensamentos. Ninguém tem. Por alguma razão, que só ele sabe, meu suposto interlocutor pode estar tentando me convencer que crê em algo em que talvez não creia. Compete-me, apenas, acreditar ou não.  

Há coisas, notadamente as que se vêem, portanto concretas, que não há como alguém deixar de acreditar, a menos que seja completo alienado mental, e em grau extremo. Por exemplo, se eu mostrar este objeto cilíndrico que tenho agora em minha mão, repleto de tinta, que serve para escrever, à pessoa que está neste momento ao meu lado e lhe disser que se trata de uma caneta, não haverá como ela não acreditar (a menos, claro, que se trate, como ressalvei, de alguém no extremo grau de alienação, que não é o caso). Todavia, se afirmar que anjos existem, o resultado poderá ser bastante diverso. A pessoa tanto poderá acreditar que sim, como poderá, também, achar que sou alguém dado a fantasias e elucubrações, quando não um maluco.

Isso ocorre não somente com o que se vê ou deixe de ver, mas também com o que se ouve ou se lê. Exemplo clássico disso é o que se refere à ida do homem à Lua. Nenhum de nós pode assegurar que foi mesmo (e foram umas três ou quatro missões, não me recordo agora exatamente quantas), porquanto não estivemos nas cápsulas espaciais que conduziram os astronautas ao satélite natural da Terra. Mas a imensa maioria mundo afora, muitos nascidos vinte ou trinta anos depois desse feito, acreditam sem pestanejar nele. Os que viram, pela televisão, Neil Armstrong pisar no solo lunar, crêem mais intensamente. Afinal, viram a façanha com os próprios olhos. Ou pelo menos afirmam crer.

Conheço, todavia, dezenas de pessoas que acreditam (ou dizem acreditar) que tudo não passou de uma farsa, de um truque, desses tão comuns no cinema. Esses céticos são ridicularizados pelos que acreditam sem vacilações. Muitos, que intimamente não crêem na veracidade da façanha, dizem crer, apenas para não serem vítimas de chacotas. Mas provar, provar de fato, sem que reste a mais remota sombra de dúvida, ninguém pode (a não ser os que participaram diretamente do empreendimento). Apesar, reitero, das descidas no solo lunar terem sido transmitidas pela televisão. Afinal, imagens podem ser enganadoras e não raro são.

Não entrarei em outras crenças, porquanto algumas são tão sensíveis e explosivas que já causaram, ao longo da história, guerras, conflitos sangrentos e muitas mortes e desgraças. Por isso, acho contraproducente, na verdade uma tolice, alguém tentar fazer proselitismo. Ou seja, buscar impor aos outros o que acredita. Muitos agem assim, com religiões, ideologias, visões de vida, moral, costumes e outras tantas coisas mais, não raro com o uso da força, da tortura até, quando não da morte do incréu, em fogueiras (queimadas vivas) e com outros tantos expedientes mortais para “convencer” os recalcitrantes. Há os que, no momento de apuro, até podem se manifestar como “convertidos”. Ninguém, no entanto, tem condições de comprovar a sinceridade de tais conversões.          

Vários leitores, certamente, concordarão com estas colocações, mas jamais saberei quantos, quem e por que. Outros tantos (talvez a maioria) discordarão enfaticamente (alguns, até, raivosamente), embora vários por razões equivocadas ou até mesmo sem razão alguma. Como no primeiro caso, também jamais saberei quantos, quem e por que. A menos que todos se manifestem (no que  não creio). E que eu “acredite” no seu ceticismo. O dramaturgo e poeta alemão, Berthold Brecht, escreveu um pequeno poema, quase um aforismo, bastante revelador a propósito, que partilho com vocês:

Acredite apenas

“Acredite apenas no que seus olhos vêem e seus ouvidos ouvem!
Também não acredite no que seus olhos vêem e seus ouvidos ouvem!
Saiba também que não crer algo significa algo crer!”

Já que citei Berthold Brecht, vou nesse embalo e partilho com vocês este outro pequeno poema dele, também parecido com um aforismo, tão controvertido quanto o anterior:

A exceção e a regra

“Estranhem o que não for estranho.
Tomem por inexplicável o habitual.
Sintam-se perplexos ante o cotidiano.
Tratem de achar um remédio para o abuso.
mas não se esqueçam que o abuso é sempre a regra”.

Acreditem se quiserem em tudo o que expus. Juro, todavia, que não estou tentando fazer proselitismo que, se tentasse, no caso, não me traria nenhum proveito. Porquanto jamais saberei quem acreditou de fato, quantos acreditaram e por quais razões no que escrevi. Minha única expectativa é que, pelo menos, os leitores reflitam a respeito, mesmo que considere “bobagem” essas digressões, pois a reflexão é sempre saudabilíssimo exercício para o cérebro.

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