Crer ou não crer...
Pedro
J. Bondaczuk
A crença, seja no que
for, é um comportamento estritamente pessoal. Eu sei no que creio, embora nem
sempre (ou quase nunca) consiga justificar o por quê. Quanto ao que os outros
crêem, tenho que acreditar no que dizem ou escrevem a respeito. Não há outro
jeito. E jamais terei certeza se estão ou não mentindo. Comprovar, portanto, se
estão sendo sinceros ou não, não tenho como. Ninguém tem. Não temos o dom de
ler pensamentos. Ninguém tem. Por alguma razão, que só ele sabe, meu suposto
interlocutor pode estar tentando me convencer que crê em algo em que talvez não
creia. Compete-me, apenas, acreditar ou não.
Há coisas, notadamente
as que se vêem, portanto concretas, que não há como alguém deixar de acreditar,
a menos que seja completo alienado mental, e em grau extremo. Por exemplo, se
eu mostrar este objeto cilíndrico que tenho agora em minha mão, repleto de
tinta, que serve para escrever, à pessoa que está neste momento ao meu lado e
lhe disser que se trata de uma caneta, não haverá como ela não acreditar (a
menos, claro, que se trate, como ressalvei, de alguém no extremo grau de
alienação, que não é o caso). Todavia, se afirmar que anjos existem, o resultado
poderá ser bastante diverso. A pessoa tanto poderá acreditar que sim, como
poderá, também, achar que sou alguém dado a fantasias e elucubrações, quando
não um maluco.
Isso ocorre não somente
com o que se vê ou deixe de ver, mas também com o que se ouve ou se lê. Exemplo
clássico disso é o que se refere à ida do homem à Lua. Nenhum de nós pode
assegurar que foi mesmo (e foram umas três ou quatro missões, não me recordo
agora exatamente quantas), porquanto não estivemos nas cápsulas espaciais que
conduziram os astronautas ao satélite natural da Terra. Mas a imensa maioria
mundo afora, muitos nascidos vinte ou trinta anos depois desse feito, acreditam
sem pestanejar nele. Os que viram, pela televisão, Neil Armstrong pisar no solo
lunar, crêem mais intensamente. Afinal, viram a façanha com os próprios olhos.
Ou pelo menos afirmam crer.
Conheço, todavia,
dezenas de pessoas que acreditam (ou dizem acreditar) que tudo não passou de
uma farsa, de um truque, desses tão comuns no cinema. Esses céticos são ridicularizados
pelos que acreditam sem vacilações. Muitos, que intimamente não crêem na
veracidade da façanha, dizem crer, apenas para não serem vítimas de chacotas.
Mas provar, provar de fato, sem que reste a mais remota sombra de dúvida,
ninguém pode (a não ser os que participaram diretamente do empreendimento).
Apesar, reitero, das descidas no solo lunar terem sido transmitidas pela
televisão. Afinal, imagens podem ser enganadoras e não raro são.
Não entrarei em outras
crenças, porquanto algumas são tão sensíveis e explosivas que já causaram, ao
longo da história, guerras, conflitos sangrentos e muitas mortes e desgraças.
Por isso, acho contraproducente, na verdade uma tolice, alguém tentar fazer
proselitismo. Ou seja, buscar impor aos outros o que acredita. Muitos agem
assim, com religiões, ideologias, visões de vida, moral, costumes e outras
tantas coisas mais, não raro com o uso da força, da tortura até, quando não da
morte do incréu, em fogueiras (queimadas vivas) e com outros tantos expedientes
mortais para “convencer” os recalcitrantes. Há os que, no momento de apuro, até
podem se manifestar como “convertidos”. Ninguém, no entanto, tem condições de
comprovar a sinceridade de tais conversões.
Vários leitores,
certamente, concordarão com estas colocações, mas jamais saberei quantos, quem
e por que. Outros tantos (talvez a maioria) discordarão enfaticamente (alguns,
até, raivosamente), embora vários por razões equivocadas ou até mesmo sem razão
alguma. Como no primeiro caso, também jamais saberei quantos, quem e por que. A
menos que todos se manifestem (no que
não creio). E que eu “acredite” no seu ceticismo. O dramaturgo e poeta
alemão, Berthold Brecht, escreveu um pequeno poema, quase um aforismo, bastante
revelador a propósito, que partilho com vocês:
Acredite apenas
“Acredite
apenas no que seus olhos vêem e seus ouvidos ouvem!
Também
não acredite no que seus olhos vêem e seus ouvidos ouvem!
Saiba
também que não crer algo significa algo crer!”
Já que citei Berthold
Brecht, vou nesse embalo e partilho com vocês este outro pequeno poema dele,
também parecido com um aforismo, tão controvertido quanto o anterior:
A exceção e a regra
“Estranhem
o que não for estranho.
Tomem
por inexplicável o habitual.
Sintam-se
perplexos ante o cotidiano.
Tratem
de achar um remédio para o abuso.
mas
não se esqueçam que o abuso é sempre a regra”.
Acreditem se quiserem
em tudo o que expus. Juro, todavia, que não estou tentando fazer proselitismo
que, se tentasse, no caso, não me traria nenhum proveito. Porquanto jamais
saberei quem acreditou de fato, quantos acreditaram e por quais razões no que
escrevi. Minha única expectativa é que, pelo menos, os leitores reflitam a
respeito, mesmo que considere “bobagem” essas digressões, pois a reflexão é
sempre saudabilíssimo exercício para o cérebro.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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