O pior da reunificação
Pedro J.
Bondaczuk
O processo de reunificação das duas Alemanhas começará a
ser implementado, de fato, a partir da próxima segunda-feira, com a unificação
econômica, monetária e social. Ou seja, o tiro de partida nessa corrida será
dado através do trajeto mais difícil e traumatizante e de maiores conseqüências
do percurso.
Num primeiro instante, os dois lados, Ocidental e
Oriental, do futuro Estado germânico, vão ser afetados, embora em graus
diferentes. O Leste vai pagar mais, em sacrifícios, agora, para um lucro
posterior maior.
O desemprego, certamente, irá se acentuar e um pouco do
ufanismo, da euforia da restauração territorial alemã serão esfriados, nos dois
setores, diante de questões práticas, como emprego, moradia e previdência. Será
necessária uma forte liderança para amortecer o descontentamento inicial.
Prevê-se que, superada a contento esta fase, em mais três
ou quatro anos os resultados da reunificação já poderão ser sentidos
positivamente, com ampla reativação econômica, tendente a tornar a economia da
Alemanha possivelmente tão sólida e próspera – senão mais – quanto a dos
Estados Unidos.
Como se vê, a parte pior do processo de reunificação não é
a que se refere às relações externas do novo Estado. A questão da filiação
germânica à Organização do Tratado do Atlântico Norte, tida, hoje, como um
grande empecilho para que Moscou dê o sinal verde da união política, vai ser
resolvida da maneira mais previsível. Ou seja, o presidente soviético, Mikhail
Gorbachev, acabará cedendo, não sem extrair alguma vantagem disso, já que esse
é o grande trunfo, a melhor carta que dispõe na atualidade, para conseguir os
preciosos dólares de que necessita para financiar as reformas econômicas em seu
país.
Uma outra controvérsia acerca da reunificação surge agora.
É a que se refere à cidade que deverá ser escolhida para ser a capital da
Alemanha forte. Bonn, que é a sede da atual Alemanha Ocidental, e uma Berlim
reunificada, disputam a primazia.
É evidente que, por uma série de fatores, a segunda leva
uma certa vantagem, embora não em sentido prático. O nacionalismo, certamente,
deverá prevalecer, fazendo a balança pender em favor das pretensões
berlinenses. Afinal, trata-se de uma metrópole multissecular, um símbolo da
grandeza e da tragédia germânicas neste turbulento século.
É verdade que Bonn é mais pacata, silenciosa e planejada.
E conta com melhor infra-estrutura. Todavia, a cidade de Frederico, o Grande,
leva a vantagem da simbologia. No mais, levando em conta a capacidade de organização
dos alemães, não se deve temer que a reunificação venha a esbarrar em algum
obstáculo de última hora.
Tudo está rigorosamente planejado para ocorrer sem maiores
traumas, bem de conformidade com o extraordinário espírito de ordem e
racionalidade dos germânicos.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 26
de junho de 1990).
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