Amar e tratar de amor
Pedro
J. Bondaczuk
O amor é tema
recorrente na pauta de praticamente todos os escritores, não importa sua
tendência, nacionalidade, estilo, gênero que adote ou época em que viva.
Pode-se dizer que quase todos os textos literários (que ascendem aos bilhões,
se não mais) têm esse sentimento como foco. Variam, apenas, as situações, ou
seja, com ele sendo realizado em sua plenitude, ou impedido e contrariado por
algo ou alguém. Não creio que reste qualquer aspecto original, a propósito, a
ser dito ou escrito, que ninguém, em algum tempo ou lugar, não o tenha feito.
Portanto, se houver quem se preocupe exclusivamente com originalidade, este é o
tema menos oportuno a abordar. E por que o abordo com tanta insistência, se não
há nada de novo a ser dito a respeito?
Bem, tenho uma série de
motivos. Primeiro, não pretendo ser original, mas apenas apresentar minha visão
pessoal de mundo, com clareza e honestidade. Segundo, porque sempre amei, amo e
acredito que amarei até meu derradeiro momento na Terra. E a melhor maneira de
escrever, de fazer Literatura minimamente boa e séria, é ter por base nossas
próprias experiências. Ademais, creio que haja várias maneiras de amar e nem
sempre a minha será a mesma (ou melhor ou pior) do que a do leitor. Terceiro,
porque sou frequentemente – instado, ou pessoalmente, ou por telefone, ou por
carta, ou, principalmente, por e-mail – a tratar do tema. É sinal de que minhas
abordagens a respeito, se não são originais (e creio que não sejam) são, pelo
menos, convincentes. E não sou diferente de nenhum escritor. Não escrevo para
meu próprio deleite, mas para que outros (e quanto maior for seu número, tanto
melhor) leiam.
Há inúmeras outras
razões, mas entendo que as citadas sejam as principais. Das minhas mais de 2.600
crônicas, no mínimo metade versam sobre amor. Dos mil e tantos poemas, a
totalidade trata desse sentimento, de uma forma ou de outra, assim como mais de
uma centena de contos que já produzi. Haja originalidade, caso este fosse meu
objetivo! Mas não é. Em música clássica, há muitas composições que não passam
de “variações em torno do mesmo tema”. Nem por isso, são de qualidade inferior,
ruim e/ou duvidosa, portanto, desprezíveis. Algumas (e não poucas) são geniais.
É o que faço (ou pelo menos, busco fazer) em relação ao amor. Promovo uma
incansável variação (e põe variação nisso!) em torno de um mesmíssimo
tema.
Até porque, amar, ao
contrário do que possa parecer, não é tão fácil quanto se apregoa. Para que
esse sentimento se manifeste e se realize, em sua plenitude, temos que abrir
mão de grande parcela do nosso egoísmo, do nosso superlativo amor próprio e do
nosso arraigado e não raro exacerbado egocentrismo.Precisamos fazer da pessoa a
que amamos “o centro do mundo”, e não mais nós. Quantos estão dispostos, mas
dispostos mesmo, a isso? Creio que poucos, pouquíssimos. Apregoar o amor não é
difícil, pelo contrário. Senti-lo, também, não chega a beirar a impossibilidade
e não envolve maior complexidade. Mas vivê-lo em sua plenitude é que são elas!
Conservá-lo intacto, e se possível ampliá-lo cada vez mais ao longo de nossas
vidas, é que é o grande desafio.
Para isso, temos que
relevar, principalmente, os defeitos alheios, que a rigor não são maiores do
que os nossos, sem ares de superioridade e sem tentativas de imposições. No
início de relacionamentos, tudo isso nem é raro. O nível de tolerância é maior
por causa da mútua atração, sobretudo a física. Eros comanda as coisas. O
instinto erótico, ou seja, o da preservação da espécie, fala mais alto. Não
raro, essa instintiva atração sexual é confundida com amor quando é, apenas,
“uma” de suas características, uma espécie de “efeito colateral”.. Posso ser
irresistivelmente atraído por determinada mulher sem amá-la (e vice-versa).
Podemos até nos detestar e, ainda assim, gerarmos um filho. Isso é muito mais
comum do que as pessoas ousam admitir.
Na sequência do
relacionamento, na rotina do dia a dia, o que antes não incomodava (e se
incomodasse, suportávamos com resignação) passa a incomodar bastante. Muitas
vezes, torna-se intolerável. E daí para a ruptura (não raro dramática e às
vezes até violenta) é só um piscar de olhos. Por maior e mais genuíno que seja
o amor, a falta de “cultivo” lhe é fatal.,Ele esfria, amolece, míngua e se os
outrora apaixonados não reacenderem a chama primitiva, caso ainda seja possível
reacender, morre de morte natural. E há casos em que até se transforma em ódio,
ora se há. Isso nem mesmo é raro. Aliás, é bastante comum.
Referi-me, até aqui,
especificamente ao amor entre um homem e uma mulher, sempre guiado pelo
instinto erótico, com vistas à reprodução, mesmo que o casal negue tal
finalidade ditada pela natureza, e seja sincero na negativa, porquanto esse
objetivo final é inconsciente. E em outros tantos casos, esse sentimento é mais
presente, desinteressado, genuíno e resistente? Tenho lá minhas dúvidas. O
escritor judeu Kalman Schulman foi extremamente feliz quando constatou: “Amar a
humanidade é fácil, o difícil é amar seres humanos”. Ou seja, manifestar amor,
em abstrato, genericamente, não envolve qualquer dificuldade. Complicado é
exercitá-lo no dia-a-dia, com pessoas reais, concretas, de carne, osso e
vísceras, com seus defeitos, idiossincrasias, interesses e contradições. Mas...
este é outro assunto que fica para outra vez.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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