Mundo perde a guerra da droga
Pedro
J. Bondaczuk
“O mundo está perdendo a guerra
para os narcotraficantes”. Essa constatação, feita recentemente pelo presidente
norte-americano, George Bush, foi reforçada, ontem, em Bogotá, por uma comissão
do Parlamento Andino, que informou acerca do crescimento nas duas pontas da
escala de envenenamento e corrupção: na produção de drogas e no seu consumo.
A despeito de campanhas,
palestras, artigos e toda a espécie de alertas feitos por diversos meios, mais
e mais jovens continuam se viciando, cometendo esse lento e doloroso suicídio,
e enriquecendo os grandes cartéis do crime organizado.
Nos Estados Unidos, por exemplo,
há pontos de venda de crack (um resíduo da cocaína usado para fumar, ao invés
de se aspirar, conforme se faz com o pó maldito) em tamanha profusão quanto há
de botequins vendendo bebidas alcoólicas.
Aliás, ambas as drogas
transformam seres humanos brilhantes, gente útil e produtiva, em verdadeiros
rebotalhos. Em pessoas inúteis para a família, para os amigos, para a sociedade
e até (e principalmente) para si próprias.
Por maiores que sejam as
campanhas para a erradicação das plantações de coca, de papoula, de maconha e
de outras matérias-primas para entorpecentes, estas prosseguem se multiplicando
a uma velocidade estonteante. Para cada pé dessas plantas arrancado, são
plantados, em média, três. E por quê? Porque a procura pelos tóxicos segue
aumentando. E o esquema do vício é sempre o mesmo.
Os futuros “zumbis”, ou
mortos-vivos de amanhã, são aliciados em portas de escolas, de clubes e de
outros locais freqüentados em especial por adolescentes. A princípio, as drogas
são oferecidas gratuitamente. Os asquerosos agentes de corrupção procuram
passar a idéia para os garotões de que o uso dos produtos que querem impingir é
“coisa para homem”.
Falam com um hipócrita entusiasmo
dos “efeitos maravilhosos” que tais substâncias vão lhes causar, mesmo sabendo
que não há qualquer maravilha no vício. Indefesos, muitas vezes precisando se
auto-afirmar em virtude do tratamento equivocado que recebem dos pais (que
procuram “comprar” os filhos ao invés de lhes dedicar um genuíno afeto), esses
quase meninos findam por ceder aos apelos dos aliciadores. E com isso,
decretam, na maioria das vezes, o seu próprio fim.
Autocondenam-se à morte, lenta,
sofrida, dolorosa, angustiante, repleta de medos e de delírios. E o que
acontece com os bandidos que estão por trás de tudo isso? Não os “mulas”, que
transportam a droga. Não os “bagrinhos”, que as vendem. Não os pés de chinelo,
que aliciam novos viciados. Mas os cabeças dessa trama diabólica, considerados
pelas Nações Unidas como “inimigos da humanidade”.
Estes ficam cada vez mais ricos,
mandam os filhos estudar na Suíça, são chamados de “doutor” e podem até acabar
fazendo carreira na política!
(Artigo
publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 16 de junho de
1989).
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