Tuesday, July 03, 2018

DURETO DO ARQUIVO - Enfrentar os desafios


Enfrentar os desafios


Pedro J. Bondaczuk


Falando em recente seminário realizado no Rio de Janeiro, em meio à discussão de temas relacionados às estratégias empresariais para acompanhar este período de modernidade instalado agora no Brasil pelo governo do presidente Fernando Collor de Mello, o presidente da Fiat brasileira, Silvano Valentino, mostrou aos participantes do encontro a notória contradição existente entre nós em matéria de preços. Assinalou aquele empresário o fato de que grande parte das matérias-primas utilizadas pela indústria automobilística custam aqui no Brasil o dobro do valor pago pelos fabricantes de automóveis, tanto na Europa como nos Estados Unidos. Até o aço, em que pesem todos os subsídios concedidos pelo governo, é comercializado aqui no Brasil a preços bem superiores aos praticados na Europa.

Convenhamos, situação idêntica ocorre também em outros setores da vida brasileira, ainda há pouco, segundo notícias veiculadas em São Paulo e Rio de Janeiro, empresas de conceito na área da construção civil passaram a protestar contra os preços excessivamente altos cobrados na comercialização de uma série de materiais utilizados nesse setor de atividade. Chegou-se a comentar, inclusive, a possibilidade do País importar cimento e pedras do Exterior. Tudo seria vendido aqui a preços menores. E da ideia lançada à consecução desse objetivo, como se costuma dizer, estamos praticamente a um passo, pois, a União Trading, do Rio de Janeiro, trabalha no momento para a importação junto ao mercado grego de importante remessa de cimento.

Apesar do pagamento de taxas alfandegárias e dos fretes marítimos, o cimento da Grécia pode ser vendido entre nós a preços inferiores ao produto brasileiro.

Não se sabe ainda ao certo como pode ser útil e proveitoso ao Brasil o processo de abertura ampla do nosso mercado à competição estrangeira. Não há dúvida alguma de que, em muitos casos, o procedimento nesse sentido pode apresentar resultados satisfatórios. Por outro lado, não há como acreditar esteja o atual governo interessado em aceitar excessos, proporcionando a transformação, por exemplo, de grande parte da indústria aqui instalada em sucata. Assim, toda essa movimentação objetivando a abertura do comércio de automóveis ao Exterior, de uma forma ou de outra, deve ser encarada com as ressalvas e cautelas de mister. Acima de determinadas vantagens e conveniências nesse campo deve prevalecer, isto sim, o interesse maior da nacionalidade.

No final da última semana, inaugurando a Exposição de Gado de Uberaba, disse o presidente Fernando Collor de Mello "ser um homem de lutas, de desafios, de enfrentar os problemas e resolvê-los" e, para tanto, necessita do apoio de todo o povo. De fato, muitos problemas estão aí como autênticos desafios para o nosso presidente. Tudo leva a crer, o apoio reivindicado não será negado, desde que se aplique uma dose "de engenho e arte" no contorno ou solução das questões em foco. E para início de conversa, sejamos francos, automóveis e cimento estão já na crista da onda, isto como se costuma dizer em linguagem popular.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular em 9 de maio de 1990)



Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

No comments: