Enfrentar os desafios
Pedro J. Bondaczuk
Falando em recente seminário
realizado no Rio de Janeiro, em meio à discussão de temas
relacionados às estratégias empresariais para acompanhar este
período de modernidade instalado agora no Brasil pelo governo do
presidente Fernando Collor de Mello, o presidente da Fiat brasileira,
Silvano Valentino, mostrou aos participantes do encontro a notória
contradição existente entre nós em matéria de preços. Assinalou
aquele empresário o fato de que grande parte das matérias-primas
utilizadas pela indústria automobilística custam aqui no Brasil o
dobro do valor pago pelos fabricantes de automóveis, tanto na Europa
como nos Estados Unidos. Até o aço, em que pesem todos os subsídios
concedidos pelo governo, é comercializado aqui no Brasil a preços
bem superiores aos praticados na Europa.
Convenhamos, situação
idêntica ocorre também em outros setores da vida brasileira, ainda
há pouco, segundo notícias veiculadas em São Paulo e Rio de
Janeiro, empresas de conceito na área da construção civil passaram
a protestar contra os preços excessivamente altos cobrados na
comercialização de uma série de materiais utilizados nesse setor
de atividade. Chegou-se a comentar, inclusive, a possibilidade do
País importar cimento e pedras do Exterior. Tudo seria vendido aqui
a preços menores. E da ideia lançada à consecução desse
objetivo, como se costuma dizer, estamos praticamente a um passo,
pois, a União Trading, do Rio de Janeiro, trabalha no momento para a
importação junto ao mercado grego de importante remessa de cimento.
Apesar do pagamento de taxas
alfandegárias e dos fretes marítimos, o cimento da Grécia pode ser
vendido entre nós a preços inferiores ao produto brasileiro.
Não se sabe ainda ao certo
como pode ser útil e proveitoso ao Brasil o processo de abertura
ampla do nosso mercado à competição estrangeira. Não há dúvida
alguma de que, em muitos casos, o procedimento nesse sentido pode
apresentar resultados satisfatórios. Por outro lado, não há como
acreditar esteja o atual governo interessado em aceitar excessos,
proporcionando a transformação, por exemplo, de grande parte da
indústria aqui instalada em sucata. Assim, toda essa movimentação
objetivando a abertura do comércio de automóveis ao Exterior, de
uma forma ou de outra, deve ser encarada com as ressalvas e cautelas
de mister. Acima de determinadas vantagens e conveniências nesse
campo deve prevalecer, isto sim, o interesse maior da nacionalidade.
No final da última semana,
inaugurando a Exposição de Gado de Uberaba, disse o presidente
Fernando Collor de Mello "ser um homem de lutas, de desafios, de
enfrentar os problemas e resolvê-los" e, para tanto, necessita
do apoio de todo o povo. De fato, muitos problemas estão aí como
autênticos desafios para o nosso presidente. Tudo leva a crer, o
apoio reivindicado não será negado, desde que se aplique uma dose
"de engenho e arte" no contorno ou solução das questões
em foco. E para início de conversa, sejamos francos, automóveis e
cimento estão já na crista da onda, isto como se costuma dizer em
linguagem popular.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular em 9 de maio de 1990)
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