Expectativa pelo Real
Pedro J. Bondaczuk
O Real entra em vigor dentro
de duas semanas, mas a expectativa criada em torno da nova moeda,
apesar da sua introdução haver sido anunciada com antecedência
ainda maior do que aquela que o governo havia se comprometido, está
provocando retração nos negócios.
As reações diante dessa nova
etapa do plano de estabilização econômica, elaborado pelo
ex-ministro e atual candidato à Presidência, Fernando Henrique
Cardoso, variam de acordo com o grau de comprometimento social de
pessoas ou grupos e com seus interesses pessoais.
Quando se fala em dinheiro,
raros são aqueles que raciocinam em termos de País. Prevalece
aquele famoso ditado: "Mateus, primeiro os teus". Os que
torcem, por razões políticas ou, principalmente, financeiras pelo
fracasso do ajuste, levantam uma série de hipóteses alarmistas.
Há os que dizem, por exemplo,
que a inflação vai baixar somente nos meses que coincidirem com os
dois turnos eleitorais, para em seguida sofrer uma explosão. Outra
corrente, encabeçada pelo próprio governo, diz temer que haja uma
tresloucada e insensata corrida às compras.
Essas pessoas argumentam que,
com taxas baixas de inflação, o trabalhador terá seu salário
valorizado. E se sentirá tentado a comprar mais, principalmente
alimentos, dos quais se viu privado em virtude dos sucessivos
achatamentos salariais. Tomara que isso de fato ocorra. E que o
governo tenha competência para administrar a super safra deste ano,
impedindo que a demanda supere a oferta. Não acreditamos, porém,
nessa hipótese.
Os salários foram tão
achatados, de uns anos para cá, que eventuais ganhos ditados pela
queda da inflação serão insuficientes para provocar a temida
"explosão de consumo". Existe outra corrente que lucra, e
muito, com a inflação. Para esse grupo, o sucesso do plano pode
representar o fim dos ganhos exorbitantes sem fazer força.
Claro que essa ala tudo fará
para que o Real perca rapidamente sua realeza e se deteriore tão
rapidamente, ou mais, do que o cruzeiro. São os atacados pelo vício
da avareza, os apátridas e os socialmente inconscientes. São
egoístas que se julgam bafejados pelos deuses que se acham muito
espertos, e querem levar vantagem em tudo. Oxalá, essas cassandras
de mau agouro estejam erradas e que o Brasil, finalmente, encontre o
caminho do desenvolvimento com justiça social.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, da Folha do Taquaral, em 11 de junho de 1994).
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