Tuesday, July 24, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Expectativa pelo Real


Expectativa pelo Real

Pedro J. Bondaczuk

O Real entra em vigor dentro de duas semanas, mas a expectativa criada em torno da nova moeda, apesar da sua introdução haver sido anunciada com antecedência ainda maior do que aquela que o governo havia se comprometido, está provocando retração nos negócios.

As reações diante dessa nova etapa do plano de estabilização econômica, elaborado pelo ex-ministro e atual candidato à Presidência, Fernando Henrique Cardoso, variam de acordo com o grau de comprometimento social de pessoas ou grupos e com seus interesses pessoais.

Quando se fala em dinheiro, raros são aqueles que raciocinam em termos de País. Prevalece aquele famoso ditado: "Mateus, primeiro os teus". Os que torcem, por razões políticas ou, principalmente, financeiras pelo fracasso do ajuste, levantam uma série de hipóteses alarmistas.

Há os que dizem, por exemplo, que a inflação vai baixar somente nos meses que coincidirem com os dois turnos eleitorais, para em seguida sofrer uma explosão. Outra corrente, encabeçada pelo próprio governo, diz temer que haja uma tresloucada e insensata corrida às compras.

Essas pessoas argumentam que, com taxas baixas de inflação, o trabalhador terá seu salário valorizado. E se sentirá tentado a comprar mais, principalmente alimentos, dos quais se viu privado em virtude dos sucessivos achatamentos salariais. Tomara que isso de fato ocorra. E que o governo tenha competência para administrar a super safra deste ano, impedindo que a demanda supere a oferta. Não acreditamos, porém, nessa hipótese.

Os salários foram tão achatados, de uns anos para cá, que eventuais ganhos ditados pela queda da inflação serão insuficientes para provocar a temida "explosão de consumo". Existe outra corrente que lucra, e muito, com a inflação. Para esse grupo, o sucesso do plano pode representar o fim dos ganhos exorbitantes sem fazer força.

Claro que essa ala tudo fará para que o Real perca rapidamente sua realeza e se deteriore tão rapidamente, ou mais, do que o cruzeiro. São os atacados pelo vício da avareza, os apátridas e os socialmente inconscientes. São egoístas que se julgam bafejados pelos deuses que se acham muito espertos, e querem levar vantagem em tudo. Oxalá, essas cassandras de mau agouro estejam erradas e que o Brasil, finalmente, encontre o caminho do desenvolvimento com justiça social.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, da Folha do Taquaral, em 11 de junho de 1994).



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