Saturday, July 28, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Incentivos à pesquisa


Incentivos à pesquisa



Pedro J. Bondaczuk


A ministra Zélia Cardoso de Mello começou, ontem, em São Paulo, uma série de contatos com empresários paulistas de vários setores da economia, com o objetivo de discutir a implementação do Plano de Competitividade Industrial, elaborado no ano passado.

Tal programa tem por finalidade estimular a modernização do parque fabril brasileiro, com medidas de curto, médio e longo prazos, tendo por pontos centrais o binômio qualidade/preços. Ou seja, a produção de bens de melhor qualidade, em quantidades maiores, que resultem na queda de seu custo unitário.

Depreende-se que o plano não será impositivo. Não vai, portanto, obrigar que nenhum empresário o adote. Sua implementação deverá acontecer mediante estímulos governamentais em termos de crédito e de redução da carga tributária.

O ponto central do projeto é o incentivo à pesquisa nacional, hoje relegada a mera manifestação de intenções por parte da maioria do empresariado. O País precisa, todavia, desenvolver sua própria tecnologia, rompendo, dessa maneira, a camisa de força da dependência externa em algo de tamanha relevância.

Afinal, inteligência não é monopólio de qualquer povo ou sociedade nacional. O Brasil dispõe de gente brilhante, capaz de desenvolver novos métodos e processos industriais até mesmo de alta sofisticação, desde que devidamente estimulada e apoiada.

Os projetos, todavia, devem ser voltados à iniciativa privada, mais ágil e prática do que os organismos estatais. Para tanto, será necessário desentupir alguns canais, hoje absolutamente fechados, para promover um intercâmbio entre universidade e empresa.

Vários centros universitários possuem trabalhos notáveis na área tecnológica, em setores vitais para a economia brasileira, que estão engavetados por falta de interesse. Tal desinteresse, todavia, não se deve a nenhum comodismo, mas na maioria das vezes se prende ao desconhecimento dessas pesquisas.

Além do aproveitamento daquilo que já existe, em termos de produtos e processos, é necessário que mais e mais empresários se conscientizem de que pesquisar é muito mais do que mero exercício acadêmico. Necessita-se, agora, que se passe uma borracha no passado recente e que se parta para uma nova era.

O País deve procurar, cada vez mais, sua absoluta autossuficiência em tudo o que for possível, para que jamais venha a ser atropelado por crises externas, como a do Golfo Pérsico e a da ausência de inversões provenientes do Exterior.

O principal, o Brasil possui: recursos humanos. Precisa, apenas, de vontade política e de nova mentalidade em relação ao papel da pesquisa num desenvolvimento econômico autossustentado.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 22 de janeiro de 1991).

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