Incentivos à pesquisa
Pedro
J. Bondaczuk
A ministra
Zélia Cardoso de Mello começou, ontem, em São Paulo, uma série de
contatos com empresários paulistas de vários setores da economia,
com o objetivo de discutir a implementação do Plano de
Competitividade Industrial, elaborado no ano passado.
Tal
programa tem por finalidade estimular a modernização do parque
fabril brasileiro, com medidas de curto, médio e longo prazos, tendo
por pontos centrais o binômio qualidade/preços. Ou seja, a produção
de bens de melhor qualidade, em quantidades maiores, que resultem na
queda de seu custo unitário.
Depreende-se
que o plano não será impositivo. Não vai, portanto, obrigar que
nenhum empresário o adote. Sua implementação deverá acontecer
mediante estímulos governamentais em termos de crédito e de redução
da carga tributária.
O
ponto central do projeto é o incentivo à pesquisa nacional, hoje
relegada a mera manifestação de intenções por parte da maioria do
empresariado. O País precisa, todavia, desenvolver sua própria
tecnologia, rompendo, dessa maneira, a camisa de força da
dependência externa em algo de tamanha relevância.
Afinal,
inteligência não é monopólio de qualquer povo ou sociedade
nacional. O Brasil dispõe de gente brilhante, capaz de desenvolver
novos métodos e processos industriais até mesmo de alta
sofisticação, desde que devidamente estimulada e apoiada.
Os
projetos, todavia, devem ser voltados à iniciativa privada, mais
ágil e prática do que os organismos estatais. Para tanto, será
necessário desentupir alguns canais, hoje absolutamente fechados,
para promover um intercâmbio entre universidade e empresa.
Vários
centros universitários possuem trabalhos notáveis na área
tecnológica, em setores vitais para a economia brasileira, que estão
engavetados por falta de interesse. Tal desinteresse, todavia, não
se deve a nenhum comodismo, mas na maioria das vezes se prende ao
desconhecimento dessas pesquisas.
Além
do aproveitamento daquilo que já existe, em termos de produtos e
processos, é necessário que mais e mais empresários se
conscientizem de que pesquisar é muito mais do que mero exercício
acadêmico. Necessita-se, agora, que se passe uma borracha no passado
recente e que se parta para uma nova era.
O
País deve procurar, cada vez mais, sua absoluta autossuficiência em
tudo o que for possível, para que jamais venha a ser atropelado por
crises externas, como a do Golfo Pérsico e a da ausência de
inversões provenientes do Exterior.
O
principal, o Brasil possui: recursos humanos. Precisa, apenas, de
vontade política e de nova mentalidade em relação ao papel da
pesquisa num desenvolvimento econômico autossustentado.
(Editorial
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 22 de
janeiro de 1991).
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