Friday, July 13, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Desindexação à vista


Desindexação à vista



Pedro J. Bondaczuk


O presidente Fernando Henrique Cardoso está determinado a desindexar a economia brasileira até o próximo dia 1°, primeiro aniversário do Real, com algumas exceções, como os tributos e a caderneta de poupança. O processo de desindexação vai começar pelo lado mais fácil, pelo menos em termos operacionais, ou seja, pelos salários. São sempre eles!

Caso prevaleça a vontade do governo, os reajustes deverão ocorrer, doravante, mediante livre negociação entre as partes: os sindicatos representativos dos trabalhadores de cada categoria e as correspondentes entidades sindicais patronais.

Os setores melhor organizados da sociedade aprovam e aplaudem a medida, confiantes em sua força. Estes não têm (ou presumem não ter) o que temer e nada a perder. Outros, no entanto, certamente vão sair prejudicados.

Sindicatos nanicos dificilmente vão conseguir qualquer coisa perante os patrões. Não contam com nenhum poder de barganha, especialmente os que representam aquelas categorias cujas funções não exigem qualquer especialização. Estes setores contam com fartura de estoque de mão de obra. Pela lei natural da oferta e da procura, seus salários jamais conseguirão subir a um patamar além do mínimo.

É muito difícil qualquer brasileiro, pelo menos desta geração, fazer uma previsão sobre se a desindexação total da economia vai ser boa ou ruim. Ninguém tem experiência suficiente que o credencie a afirmar se vai funcionar ou não.

Desde 1965, mecanismos indexadores vários têm funcionado no Brasil, atrelando a correção monetária ora aos vários índices de inflação (e ultimamente há muitos, dos mais variados institutos de pesquisa) ora a outras taxas quaisquer, das tantas que existem por aí. Poucos conhecem, portanto, como é a economia desindexada.

Outra dúvida que persiste é se os agentes econômicos vão respeitar, de fato, a desindexação. O mais provável é que ela continue, embora de forma informal, por haver se incorporado à nossa cultura. Até porque, o próprio governo dá mau exemplo, mantendo a cobrança de tributos indexada (à Unidade Fiscal de Referência, Ufir, em termos federais, e a outros índices estaduais e municipais).

A rigor, a correção monetária, como vigorou no Brasil, é uma criação absolutamente nossa, tupiniquim, e não existe em lugar algum do mundo. Suas consequências foram a permanente realimentação inflacionária, fato que o governo pretende evitar a partir de agora. Se vai conseguir ou não é coisa para ser conferida futuramente.

(Editorial publicado na Folha do Taquaral em 17 de junho de 1995)


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

No comments: