Desindexação à vista
Pedro
J. Bondaczuk
O
presidente Fernando Henrique Cardoso está determinado a desindexar a
economia brasileira até o próximo dia 1°, primeiro aniversário do
Real, com algumas exceções, como os tributos e a caderneta de
poupança. O processo de desindexação vai começar pelo lado mais
fácil, pelo menos em termos operacionais, ou seja, pelos salários.
São sempre eles!
Caso
prevaleça a vontade do governo, os reajustes deverão ocorrer,
doravante, mediante livre negociação entre as partes: os sindicatos
representativos dos trabalhadores de cada categoria e as
correspondentes entidades sindicais patronais.
Os
setores melhor organizados da sociedade aprovam e aplaudem a medida,
confiantes em sua força. Estes não têm (ou presumem não ter) o
que temer e nada a perder. Outros, no entanto, certamente vão sair
prejudicados.
Sindicatos
nanicos dificilmente vão conseguir qualquer coisa perante os
patrões. Não contam com nenhum poder de barganha, especialmente os
que representam aquelas categorias cujas funções não exigem
qualquer especialização. Estes setores contam com fartura de
estoque de mão de obra. Pela lei natural da oferta e da procura,
seus salários jamais conseguirão subir a um patamar além do
mínimo.
É
muito difícil qualquer brasileiro, pelo menos desta geração, fazer
uma previsão sobre se a desindexação total da economia vai ser boa
ou ruim. Ninguém tem experiência suficiente que o credencie a
afirmar se vai funcionar ou não.
Desde
1965, mecanismos indexadores vários têm funcionado no Brasil,
atrelando a correção monetária ora aos vários índices de
inflação (e ultimamente há muitos, dos mais variados institutos de
pesquisa) ora a outras taxas quaisquer, das tantas que existem por
aí. Poucos conhecem, portanto, como é a economia desindexada.
Outra
dúvida que persiste é se os agentes econômicos vão respeitar, de
fato, a desindexação. O mais provável é que ela continue, embora
de forma informal, por haver se incorporado à nossa cultura. Até
porque, o próprio governo dá mau exemplo, mantendo a cobrança de
tributos indexada (à Unidade Fiscal de Referência, Ufir, em termos
federais, e a outros índices estaduais e municipais).
A
rigor, a correção monetária, como vigorou no Brasil, é uma
criação absolutamente nossa, tupiniquim, e não existe em lugar
algum do mundo. Suas consequências foram a permanente realimentação
inflacionária, fato que o governo pretende evitar a partir de agora.
Se vai conseguir ou não é coisa para ser conferida futuramente.
(Editorial
publicado na Folha do Taquaral em 17 de junho de 1995)
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