Monday, July 02, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Consumo sob controle


Consumo sob controle


Pedro J. Bondaczuk


A normalidade do mundo dos negócios começa a voltar de modo um tanto tímido. Passados já 15 dias do lançamento do Plano Collor, em meio a uma situação atípica, as coisas passam a ganhar novo aspecto, tornando válido aquele velho ditado de que após a tormenta vem a bonança. Aos poucos a sociedade brasileira principia a ajustar-se às exigências do plano, permanecendo no entanto atenta quanto às implicações das medidas tomadas de impacto. Há realmente muita confiança no desempenho satisfatório desse elenco de providências, de acordo com os últimos resultados das pesquisas de opinião pública levadas a efeito por empresas conceituadas nesse setor de atividade.

No fundo mesmo, convenhamos, a população quer trabalhar e produzir a contento, participando também de um processo de consumo dos mais evoluídos. A preocupação de todos é aquela de desfrutar de padrões de vida aceitáveis, de ter a casa para morar, o emprego ou qualquer atividade para o respectivo sustento. E como corolário desse sistema, o brasileiro não dispensa os passeios e distrações. Apenas uma minoria ficará com as atenções voltadas para a especulação no mercado financeiro, como acontecia anteriormente à edição do plano. Não se entenda, por outro lado, seja classificado de especulador o cidadão que procurou as cadernetas de poupança para a colocação de reservas de dinheiro, conseguido muitas vezes através de sacrifícios.

Portanto, o reaquecimento das vendas nos últimos dias deve ser encarado pelo prisma da naturalidade. A corrida às lojas sempre constituiu um fenômeno normal na vida dos brasileiros. Certa feita, o ex-ministro Camilo Penna chegou a afirmar que a nossa inflação era decorrência da mentalidade exageradamente consumista do povo brasileiro. De fato, alguns gastam mais, outros menos, tudo, no entanto, dentro dos parâmetros da normalidade. Lamentavelmente, o governo deixou de estimular o hábito da poupança, tornando-a atraente, proporcionando, inclusive, como vem de acontecer agora, uma efetiva desconfiança no sistema implantado entre nós.

Provavelmente haverá uma boa movimentação nas lojas no mês de abril, face ao informe de colocação no meio circulante da soma respeitável de US$ 10 bilhões, de acordo com a previsão da folha de pagamento referente a março, compreendendo os órgãos oficiais e o setor privado. Não se pode esperar pois pela ocorrência de uma explosão de consumo, até porque os preços, no geral, estão situados em patamares excessivamente elevados, daí não ter vingado a proposta de determinadas áreas de Brasília a respeito da ampla campanha publicitária aconselhando o povo a não gastar, tudo ficando restrito apenas ao apelo do presidente Fernando Collor de Mello, dando ênfase principalmente à particularidade da pechincha.

Passado todo esse entrevero provocado pelo lançamento do Plano Collor, espera-se para abril uma reativação do consumo, evidentemente em consonância aos novos princípios estabelecidos no mercado, ficando extinta porém aquela histeria coletiva observada no final do governo de José Sarney, quando os preços dispararam de forma desordenada da noite para o dia. Assim, tornando-se efetivo o processo de estabilidade, dificilmente irá ocorrer a explosão no consumo.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 30 de março de 1990)



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