Consumo sob controle
Pedro J. Bondaczuk
A normalidade do mundo dos
negócios começa a voltar de modo um tanto tímido. Passados já 15
dias do lançamento do Plano Collor, em meio a uma situação
atípica, as coisas passam a ganhar novo aspecto, tornando válido
aquele velho ditado de que após a tormenta vem a bonança. Aos
poucos a sociedade brasileira principia a ajustar-se às exigências
do plano, permanecendo no entanto atenta quanto às implicações das
medidas tomadas de impacto. Há realmente muita confiança no
desempenho satisfatório desse elenco de providências, de acordo com
os últimos resultados das pesquisas de opinião pública levadas a
efeito por empresas conceituadas nesse setor de atividade.
No fundo mesmo, convenhamos, a
população quer trabalhar e produzir a contento, participando também
de um processo de consumo dos mais evoluídos. A preocupação de
todos é aquela de desfrutar de padrões de vida aceitáveis, de ter
a casa para morar, o emprego ou qualquer atividade para o respectivo
sustento. E como corolário desse sistema, o brasileiro não dispensa
os passeios e distrações. Apenas uma minoria ficará com as
atenções voltadas para a especulação no mercado financeiro, como
acontecia anteriormente à edição do plano. Não se entenda, por
outro lado, seja classificado de especulador o cidadão que procurou
as cadernetas de poupança para a colocação de reservas de
dinheiro, conseguido muitas vezes através de sacrifícios.
Portanto, o reaquecimento das
vendas nos últimos dias deve ser encarado pelo prisma da
naturalidade. A corrida às lojas sempre constituiu um fenômeno
normal na vida dos brasileiros. Certa feita, o ex-ministro Camilo
Penna chegou a afirmar que a nossa inflação era decorrência da
mentalidade exageradamente consumista do povo brasileiro. De fato,
alguns gastam mais, outros menos, tudo, no entanto, dentro dos
parâmetros da normalidade. Lamentavelmente, o governo deixou de
estimular o hábito da poupança, tornando-a atraente,
proporcionando, inclusive, como vem de acontecer agora, uma efetiva
desconfiança no sistema implantado entre nós.
Provavelmente haverá uma boa
movimentação nas lojas no mês de abril, face ao informe de
colocação no meio circulante da soma respeitável de US$ 10
bilhões, de acordo com a previsão da folha de pagamento referente a
março, compreendendo os órgãos oficiais e o setor privado. Não se
pode esperar pois pela ocorrência de uma explosão de consumo, até
porque os preços, no geral, estão situados em patamares
excessivamente elevados, daí não ter vingado a proposta de
determinadas áreas de Brasília a respeito da ampla campanha
publicitária aconselhando o povo a não gastar, tudo ficando
restrito apenas ao apelo do presidente Fernando Collor de Mello,
dando ênfase principalmente à particularidade da pechincha.
Passado todo esse entrevero
provocado pelo lançamento do Plano Collor, espera-se para abril uma
reativação do consumo, evidentemente em consonância aos novos
princípios estabelecidos no mercado, ficando extinta porém aquela
histeria coletiva observada no final do governo de José Sarney,
quando os preços dispararam de forma desordenada da noite para o
dia. Assim, tornando-se efetivo o processo de estabilidade,
dificilmente irá ocorrer a explosão no consumo.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 30 de março de 1990)
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