Sunday, July 01, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Consumidor sai lesado


Consumidor sai lesado

Pedro J. Bondaczuk

O consumidor, no Brasil, a despeito de ter ganhado um código para a proteção de seus direitos e de ser aliciado com toda a espécie de propaganda e de chamariz comercial, como os sorteios de automóveis e viagens, continua sendo desrespeitado, sem a menor cerimônia. Principalmente nos preços que lhe são cobrados em ocasiões especiais, como Dia da Criança, Natal ou Ano Novo.

É o que vem se verificando, atualmente, em vários pontos do comércio. O mesmo produto é cobrado mais caro às vezes em até 130% de uma loja vizinha para outra. Na pressa de realizar a sua compra, o cidadão paga o que lhe é exigido sem maiores reclamações.

Os comerciantes culpam o Congresso pela não-aprovação do ajuste fiscal, que viabilizaria o plano do ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, atribuindo o enlouquecimento dos preços à inflação.

O governo, no entanto, atribui à pura ganância dos empresários os aumentos abusivos, sem que haja justificativas lógicas para isso. No meio desse tiroteio verbal está o atarantado consumidor, arcando com os desajustes econômicos que há anos, há mais de uma década, atormentam os brasileiros.

O desrespeito pelo verdadeiro motor da economia, o comprador, é tão grande, que não faz muito um burocrata de plantão pretendeu estabelecer uma multa para as pessoas que não pedissem nota fiscal. Seria engraçado, se não fosse patético, trágico ou seja que qualificação depreciativa se deseje usar.

O caminho para deter a escandalosa sonegação de impostos não passa e nem deve passar por aí. Seria mais uma lesão, somada às tantas já sofridas, aos direitos do consumidor. Os impostos referentes à fabricação e circulação de mercadorias já estão incorporados nos preços. Com ou sem a correspondente nota fiscal, é o comprador, e somente ele, que arca com os tributos. O comerciante, apenas, tem a obrigação de repassar ao seu legítimo destinatário, o governo, o montante arrecadado.

Quando esse dinheiro é embolsado, o cidadão perde duplamente. Paga o produto adquirido com o imposto incluso e sai prejudicado com a falta de verba do Estado para a saúde, a educação e a segurança pública, isso quando os recursos arrecadados não vão engordar as contas bancárias de algum anão do Orçamento ou de alguma empreiteira no superfaturamento de alguma obra inútil ou dispensável.

O que ocorre nestes dias de festas é um abuso inominável com o consumidor, que vê o seu 13º salário, no qual deposita tantas esperanças ao longo do ano, virar fumaça nas narinas de fogo do dragão da inflação.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 24 de dezembro de 1993).



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