Tuesday, July 10, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Novo déficit comercial


Novo déficit comercial


Pedro J. Bondaczuk


O País registrou em 1996 outro déficit na balança comercial, que embora não chegue ainda a ser preocupante, dada a grande reserva monetária com que conta, poderia ter sido evitado. As exportações até que tiveram desempenho aceitável, embora pudessem ser melhores, caso contassem com os necessários incentivos fiscais. Mantiveram-se, virtualmente, estáveis.

Ocorre que as importações seguiram em um crescendo durante o ano todo. Fossem somente de máquinas e equipamentos, para a modernização do parque industrial brasileiro, ou de produtos que ajudassem a manter os preços internos sob controle, como estratégia de contenção da inflação, seria compreensível e desejável.

Mas não foram. Comprou-se de tudo no Exterior: o necessário e o desnecessário, a mercadoria de boa qualidade e os bagulhos produzidos alhures, o que era barato e o evidentemente caro.

O País importou, em 1996, produtos absolutamente supérfluos. Alguns podem ser produzidos, com vantagens em todos os sentidos e a custos muito mais baixos, até em fabriquetas de fundo de quintal.

E essa importação supérflua não foi pequena. Foi despendida, nessas compras inúteis e desnecessárias, a "bagatela" de US$ 1 bilhão. Ou seja, praticamente a metade do déficit da balança comercial.

Chegou-se ao requinte do desperdício de se importar penas de aves para a confecção de travesseiros, cestos de palha, varas de pescar e outras tantas bobagens do gênero. Se os importadores trouxeram para cá esses produtos, é porque havia mercado para eles. Ninguém faz investimentos sequer para empatar, quanto mais para perder.

Parece que está de volta (se é que em algum momento deixou de existir) aquela mentalidade um tanto quanto provinciana que imperou entre nós de achar que tudo o que traga inscrito a palavra "made in" qualquer lugar é superior ao que nós produzimos internamente.

Alguns setores industriais brasileiros apresentam defasagens tecnológicas consideráveis, por terem permanecido por muitos anos sem investir, sempre a pretexto de alguma coisa. Ora era por culpa da inflação, ora por indefinições na política econômica, ora mediante qualquer outra desculpa.

Em um mundo globalizado, onde os mercados tornam-se crescentemente seletivos, essa atitude é suicídio. Nestes casos, a concorrência é válida. Ou força a modernização, ou provoca o fechamento de quem não tenha capacidade de produzir boas mercadorias a custos competitivos.

Muitos dos produtos colocados à disposição do consumidor brasileiro são ruins e caros. Até 1994, o Brasil registrou, ano após ano, sucessivos superávits na balança comercial, em muitos casos com o sacrifício do mercado interno.

Houve anos em que o saldo superavitário chegou aos US$ 14 bilhões, garantindo o pagamento aos credores internacionais. Sobre as importações, pesavam taxações enormes.

Mas o tempo do protecionismo passou. O Brasil assumiu compromissos na Organização Mundial de Comércio para a abertura do seu mercado. E de fato abriu. Em alguns casos, exagerou e "escancarou". Está aí a importação desse US$ 1 bilhão de produtos supérfluos, contrariando a prudência e o bom senso.

(Editorial número um, publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 3 de janeiro de 1997).


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

No comments: