Novo déficit comercial
Pedro J. Bondaczuk
O País registrou em 1996
outro déficit na balança comercial, que embora não chegue ainda a
ser preocupante, dada a grande reserva monetária com que conta,
poderia ter sido evitado. As exportações até que tiveram
desempenho aceitável, embora pudessem ser melhores, caso contassem
com os necessários incentivos fiscais. Mantiveram-se, virtualmente,
estáveis.
Ocorre que as importações
seguiram em um crescendo durante o ano todo. Fossem somente de
máquinas e equipamentos, para a modernização do parque industrial
brasileiro, ou de produtos que ajudassem a manter os preços internos
sob controle, como estratégia de contenção da inflação, seria
compreensível e desejável.
Mas não foram. Comprou-se de
tudo no Exterior: o necessário e o desnecessário, a mercadoria de
boa qualidade e os bagulhos produzidos alhures, o que era barato e o
evidentemente caro.
O País importou, em 1996,
produtos absolutamente supérfluos. Alguns podem ser produzidos, com
vantagens em todos os sentidos e a custos muito mais baixos, até em
fabriquetas de fundo de quintal.
E essa importação supérflua
não foi pequena. Foi despendida, nessas compras inúteis e
desnecessárias, a "bagatela" de US$ 1 bilhão. Ou seja,
praticamente a metade do déficit da balança comercial.
Chegou-se ao requinte do
desperdício de se importar penas de aves para a confecção de
travesseiros, cestos de palha, varas de pescar e outras tantas
bobagens do gênero. Se os importadores trouxeram para cá esses
produtos, é porque havia mercado para eles. Ninguém faz
investimentos sequer para empatar, quanto mais para perder.
Parece que está de volta (se
é que em algum momento deixou de existir) aquela mentalidade um
tanto quanto provinciana que imperou entre nós de achar que tudo o
que traga inscrito a palavra "made in" qualquer lugar é
superior ao que nós produzimos internamente.
Alguns setores industriais
brasileiros apresentam defasagens tecnológicas consideráveis, por
terem permanecido por muitos anos sem investir, sempre a pretexto de
alguma coisa. Ora era por culpa da inflação, ora por indefinições
na política econômica, ora mediante qualquer outra desculpa.
Em um mundo globalizado, onde
os mercados tornam-se crescentemente seletivos, essa atitude é
suicídio. Nestes casos, a concorrência é válida. Ou força a
modernização, ou provoca o fechamento de quem não tenha capacidade
de produzir boas mercadorias a custos competitivos.
Muitos dos produtos colocados
à disposição do consumidor brasileiro são ruins e caros. Até
1994, o Brasil registrou, ano após ano, sucessivos superávits na
balança comercial, em muitos casos com o sacrifício do mercado
interno.
Houve anos em que o saldo
superavitário chegou aos US$ 14 bilhões, garantindo o pagamento aos
credores internacionais. Sobre as importações, pesavam taxações
enormes.
Mas o tempo do protecionismo
passou. O Brasil assumiu compromissos na Organização Mundial de
Comércio para a abertura do seu mercado. E de fato abriu. Em alguns
casos, exagerou e "escancarou". Está aí a importação
desse US$ 1 bilhão de produtos supérfluos, contrariando a prudência
e o bom senso.
(Editorial número um,
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 3 de janeiro
de 1997).
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