Espetáculo do crescimento
Pedro
J. Bondaczuk
O ano chega
ao último trimestre, com a macroeconomia – aquela dos principais
indicadores econômicos nacionais, como taxa de inflação, saldo da
balança comercial, risco Brasil, etc – mostrando cifras
alentadoras. O mercado financeiro está eufórico. Os investidores na
Bolsa de Valores não param de comemorar. Isto levou, inclusive, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva a garantir, semanas atrás, em
um arroubo de entusiasmo (que a oposição acusou de ser exagerado e
prematuro), a anunciar que “o espetáculo do crescimento” estava
próximo de começar. Será? Todos torcem que sim. Principalmente os
milhões de pais de família afetados por um escandaloso e
persistente desemprego, que teima em não ceder.
Os milhões
de desempregados, pelo País afora, posto que um tanto cépticos,
esperam, ardorosamente, que o Brasil volte, de fato, a crescer. Que a
economia deixe o estado atual de estagnação e volte a registrar
taxas de expansão de pelo menos 4% ao ano. Mas que o “bolo” da
riqueza nacional seja partilhado com mais censo de justiça.
Dois mil e
três, convenhamos, até aqui, não se mostrou dos mais favoráveis
para a maioria esmagadora dos brasileiros. É certo que o governo
atual previu, assim que tomou posse, em 1º de janeiro, que o ano
seria de “semeadura”. Ou seja, dedicado ao controle da inflação,
que ameaçava, àquela altura, disparar, desenfreada, e anular as
poucas conquistas anteriores, conseguidas a duríssimas penas e
apregoadas aos quatro ventos como “sensacionais”. Não foram!
Lula, em
seu primeiro discurso como presidente, pediu paciência e um voto de
confiança à população. Os brasileiros tiveram que conviver, de
janeiro para cá, por exemplo, com taxas de juros estratosféricas,
para deter a escalada inflacionária. Eles ainda estão em níveis
desencorajadores, embora estejam sendo gradativamente afrouxados. Que
caiam mais e mais.
Em vez de
serem criados novos empregos, para cumprir promessa de campanha, o
que se viu foram demissões e mais demissões, agravando o problema
social do País, que já era gravíssimo e se tornou muito pior.
Nesse aspecto, porém, convém ressaltar que o atual governo não tem
a culpa que procuram lhe atribuir. Afinal, “herdou” taxas de
desemprego como poucas vezes foram vistas quer no Brasil, quer no
mundo.
Por
exemplo, pesquisa feita pela Aliance Capital mostra que nosso País,
entre tantos recordes negativos, detém um outro, que já vem de
longa data, de pelo menos sete anos. Perdeu, nesse período, 20% dos
postos de trabalho no setor industrial (vinte, em cada cem empregos
na indústria, foram suprimidos!) entre 1992 e 2002. E essa perda,
ressalta a prestigiosa empresa, “está bem acima da média
mundial”.
Com a
inflação controlada, porém, com a cotação do dólar em níveis
bem mais realistas do que a do ano passado, e com a extraordinária
performance do comércio exterior, é lícito que o brasileiro
recupere a esperança, posto que ainda timidamente, e aposte que 2004
venha a marcar, de fato, o momento da “grande virada” nacional.
Não custa acreditar! Afinal, a esperança não é a profissão por
excelência do nosso povo?!!
(Editorial
da Folha do Taquaral de 20 de outubro de 2003).
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