Saturday, July 21, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Espetáculo do crescimento


Espetáculo do crescimento



Pedro J. Bondaczuk


O ano chega ao último trimestre, com a macroeconomia – aquela dos principais indicadores econômicos nacionais, como taxa de inflação, saldo da balança comercial, risco Brasil, etc – mostrando cifras alentadoras. O mercado financeiro está eufórico. Os investidores na Bolsa de Valores não param de comemorar. Isto levou, inclusive, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a garantir, semanas atrás, em um arroubo de entusiasmo (que a oposição acusou de ser exagerado e prematuro), a anunciar que “o espetáculo do crescimento” estava próximo de começar. Será? Todos torcem que sim. Principalmente os milhões de pais de família afetados por um escandaloso e persistente desemprego, que teima em não ceder.

Os milhões de desempregados, pelo País afora, posto que um tanto cépticos, esperam, ardorosamente, que o Brasil volte, de fato, a crescer. Que a economia deixe o estado atual de estagnação e volte a registrar taxas de expansão de pelo menos 4% ao ano. Mas que o “bolo” da riqueza nacional seja partilhado com mais censo de justiça.

Dois mil e três, convenhamos, até aqui, não se mostrou dos mais favoráveis para a maioria esmagadora dos brasileiros. É certo que o governo atual previu, assim que tomou posse, em 1º de janeiro, que o ano seria de “semeadura”. Ou seja, dedicado ao controle da inflação, que ameaçava, àquela altura, disparar, desenfreada, e anular as poucas conquistas anteriores, conseguidas a duríssimas penas e apregoadas aos quatro ventos como “sensacionais”. Não foram!

Lula, em seu primeiro discurso como presidente, pediu paciência e um voto de confiança à população. Os brasileiros tiveram que conviver, de janeiro para cá, por exemplo, com taxas de juros estratosféricas, para deter a escalada inflacionária. Eles ainda estão em níveis desencorajadores, embora estejam sendo gradativamente afrouxados. Que caiam mais e mais.

Em vez de serem criados novos empregos, para cumprir promessa de campanha, o que se viu foram demissões e mais demissões, agravando o problema social do País, que já era gravíssimo e se tornou muito pior. Nesse aspecto, porém, convém ressaltar que o atual governo não tem a culpa que procuram lhe atribuir. Afinal, “herdou” taxas de desemprego como poucas vezes foram vistas quer no Brasil, quer no mundo.

Por exemplo, pesquisa feita pela Aliance Capital mostra que nosso País, entre tantos recordes negativos, detém um outro, que já vem de longa data, de pelo menos sete anos. Perdeu, nesse período, 20% dos postos de trabalho no setor industrial (vinte, em cada cem empregos na indústria, foram suprimidos!) entre 1992 e 2002. E essa perda, ressalta a prestigiosa empresa, “está bem acima da média mundial”.

Com a inflação controlada, porém, com a cotação do dólar em níveis bem mais realistas do que a do ano passado, e com a extraordinária performance do comércio exterior, é lícito que o brasileiro recupere a esperança, posto que ainda timidamente, e aposte que 2004 venha a marcar, de fato, o momento da “grande virada” nacional. Não custa acreditar! Afinal, a esperança não é a profissão por excelência do nosso povo?!!



(Editorial da Folha do Taquaral de 20 de outubro de 2003).


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