Friday, July 06, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Terremoto monetário


Terremoto monetário



Pedro J. Bondaczuk


A crise econômica do México, que estourou em 20 de dezembro passado, provocou verdadeiro terremoto financeiro em todo o mundo. Países que não tinham nada a ver com o caso e cujos programas de ajuste são mais sólidos e consistentes do que o mexicano – casos do Brasil e da Argentina – passaram a ser encarados pelos detentores do capital especulativo da mesma forma, como farinhas do mesmo saco.

De uma hora para outra, alguns milhões de dólares deixaram São Paulo, Rio e Buenos Aires. As bolsas nesses três centros despencaram. Desconfiados de que corriam os mesmos riscos enfrentados no mercado mexicano, onde sofreram prejuízos impossíveis ainda de dimensionar – provavelmente no mesmo montante de recursos arrolados para socorrer esse país, ou US$ 50 bilhões – os investidores estrangeiros de curtíssimo prazo bateram em retirada da América Latina.

Como todo terremoto, este também conta com abalos secundários, que ascenderam a milhares de pequenos sismos, considerados de acomodação. Daí um certo nervosismo no mercado, onde os boatos de todos os tipos não param de surgir de manhã para morrer à tarde.

Foi para evitar que esses tremores abalassem a estrutura da economia brasileira e produzissem estragos que o Banco Central adotou o chamado sistema de bandas de flutuação do real em relação ao dólar (e vice-versa). Alguns gostaram da medida – no caso os exportadores, que ainda as acharam tímidas – que as vinham reivindicando desde a instituição da âncora cambial para segurar a nova moeda. Outros – os importadores – detestaram a providência. E acenam com uma onda de aumentos de alguns produtos – importados, obviamente – com a consequente elevação da inflação.

A maioria da população, porém, sequer entendeu toda essa história. A intervenção do governo, todavia, mostrou que este está atento ao atual cataclismo financeiro mundial. Ao adotar as bandas para conter as especulações – internas e externas – e a evasão de divisas, permite a ocorrência de um ajuste cambial sem comprometer, no entanto, o programa de estabilização da moeda.

Por enquanto, a economia será mantida em banho-maria, através de uma gestão conservadora, até porque o momento não é para ousadias. Mas, como sempre acontece nessas circunstâncias, o mercado mundial acabará por se acomodar. Virão para cá – já que o País tem um potencial de crescimento muito grande – capitais permanentes, sempre bem vindos, ao contrário dos especulativos. Preocupante, mesmo, é o déficit nas contas do governo registrado em fevereiro (mês curtíssimo), que ultrapassou R$ 1 bilhão. Nele é que se precisa ficar de olho.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, da Folha do Taquaral, em 11 de março de 1995).


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

No comments: