Terremoto monetário
Pedro J. Bondaczuk
A crise econômica do México,
que estourou em 20 de dezembro passado, provocou verdadeiro terremoto
financeiro em todo o mundo. Países que não tinham nada a ver com o
caso e cujos programas de ajuste são mais sólidos e consistentes do
que o mexicano – casos do Brasil e da Argentina – passaram a ser
encarados pelos detentores do capital especulativo da mesma forma,
como farinhas do mesmo saco.
De uma hora para outra, alguns
milhões de dólares deixaram São Paulo, Rio e Buenos Aires. As
bolsas nesses três centros despencaram. Desconfiados de que corriam
os mesmos riscos enfrentados no mercado mexicano, onde sofreram
prejuízos impossíveis ainda de dimensionar – provavelmente no
mesmo montante de recursos arrolados para socorrer esse país, ou US$
50 bilhões – os investidores estrangeiros de curtíssimo prazo
bateram em retirada da América Latina.
Como todo terremoto, este
também conta com abalos secundários, que ascenderam a milhares de
pequenos sismos, considerados de acomodação. Daí um certo
nervosismo no mercado, onde os boatos de todos os tipos não param de
surgir de manhã para morrer à tarde.
Foi para evitar que esses
tremores abalassem a estrutura da economia brasileira e produzissem
estragos que o Banco Central adotou o chamado sistema de bandas de
flutuação do real em relação ao dólar (e vice-versa). Alguns
gostaram da medida – no caso os exportadores, que ainda as acharam
tímidas – que as vinham reivindicando desde a instituição da
âncora cambial para segurar a nova moeda. Outros – os importadores
– detestaram a providência. E acenam com uma onda de aumentos de
alguns produtos – importados, obviamente – com a consequente
elevação da inflação.
A maioria da população,
porém, sequer entendeu toda essa história. A intervenção do
governo, todavia, mostrou que este está atento ao atual cataclismo
financeiro mundial. Ao adotar as bandas para conter as especulações
– internas e externas – e a evasão de divisas, permite a
ocorrência de um ajuste cambial sem comprometer, no entanto, o
programa de estabilização da moeda.
Por enquanto, a economia será
mantida em banho-maria, através de uma gestão conservadora, até
porque o momento não é para ousadias. Mas, como sempre acontece
nessas circunstâncias, o mercado mundial acabará por se acomodar.
Virão para cá – já que o País tem um potencial de crescimento
muito grande – capitais permanentes, sempre bem vindos, ao
contrário dos especulativos. Preocupante, mesmo, é o déficit nas
contas do governo registrado em fevereiro (mês curtíssimo), que
ultrapassou R$ 1 bilhão. Nele é que se precisa ficar de olho.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, da Folha do Taquaral, em 11 de março de 1995).
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