Wednesday, July 18, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Racionalização tardia


Racionalização tardia



Pedro J. Bondaczuk


O governo do presidente Fernando Collor colocou em vigor, desde quarta-feira, uma série de medidas destinadas a atenuar o impacto da guerra no Golfo Pérsico sobre a economia do País. Vários analistas econômicos internacionais de renome admitiram que o Brasil será um dos países mais atingidos por esse dramático acontecimento, a despeito de não participar, direta ou indiretamente, dele.

Afinal, o mercado mundial de petróleo tem mostrado uma irritante instabilidade, com os preços do barril do produto oscilando ao sabor das notícias provenientes do Oriente Médio, com altas absurdas e quedas bruscas, como a verificada na quinta-feira, quando se informou do sucesso da ofensiva aérea aliada contra o Iraque e o Kuwait ocupado, de US$ 10 num único dia, nível de baixa recorde em todos os tempos.

A cada elevação, o País é obrigado a desembolsar milhões, às vezes bilhões de dólares a mais, de suas minguadas reservas de morda forte.

Atualmente, o Brasil importa cerca de 40% do petróleo que consome, pagando um pesado tributo pela opção feita, décadas atrás, pelo transporte rodoviário de alto custo num país que não é autossuficiente em matéria de combustíveis.

As medidas de racionalização do consumo de energia, anunciadas nesta semana, foram adotadas tardiamente. Nem seria necessário que ocorresse uma guerra para que elas se tornassem necessárias. Quanto menos o País queimar no escapamento dos automóveis, mais dinheiro irá restar para investimentos de absoluta prioridade, que vêm sendo adiados, sabe-se lá até quando, como educação, saúde e habitação.

Além disso, o cidadão precisa conscientizar-se que toda a economia que ele fizer redundará em seu próprio benefício. Será um dinheiro a mais que ficará em seu bolso, para satisfazer outras necessidades que não sejam as de transporte.

Se a guerra tiver curta duração, conforme se espera – neste caso, cerca de três meses – o País poderá não somente sair incólume da crise, como até mesmo levar algumas vantagens. Principalmente se as autoridades da área energética tiverem agilidade suficiente para a aquisição de petróleo nos momentos de euforia do mercado, como o de quinta-feira, com a brusca queda de preço do produto.

Mesmo finda a crise no Oriente Médio, todavia, o bom senso manda que as medidas racionalizadoras de consumo sejam mantidas, em especial quando se sabe que as reservas petrolíferas conhecidas não são tão altas como alguns ainda pensam e devem se esgotar em duas ou três décadas, conforme parecer de especialistas internacionais, caso seja mantida a demanda atual.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 20 de janeiro de 1991).


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