Racionalização tardia
Pedro J. Bondaczuk
O governo
do presidente Fernando Collor colocou em vigor, desde quarta-feira,
uma série de medidas destinadas a atenuar o impacto da guerra no
Golfo Pérsico sobre a economia do País. Vários analistas
econômicos internacionais de renome admitiram que o Brasil será um
dos países mais atingidos por esse dramático acontecimento, a
despeito de não participar, direta ou indiretamente, dele.
Afinal,
o mercado mundial de petróleo tem mostrado uma irritante
instabilidade, com os preços do barril do produto oscilando ao sabor
das notícias provenientes do Oriente Médio, com altas absurdas e
quedas bruscas, como a verificada na quinta-feira, quando se informou
do sucesso da ofensiva aérea aliada contra o Iraque e o Kuwait
ocupado, de US$ 10 num único dia, nível de baixa recorde em todos
os tempos.
A
cada elevação, o País é obrigado a desembolsar milhões, às
vezes bilhões de dólares a mais, de suas minguadas reservas de
morda forte.
Atualmente,
o Brasil importa cerca de 40% do petróleo que consome, pagando um
pesado tributo pela opção feita, décadas atrás, pelo transporte
rodoviário de alto custo num país que não é autossuficiente em
matéria de combustíveis.
As
medidas de racionalização do consumo de energia, anunciadas nesta
semana, foram adotadas tardiamente. Nem seria necessário que
ocorresse uma guerra para que elas se tornassem necessárias. Quanto
menos o País queimar no escapamento dos automóveis, mais dinheiro
irá restar para investimentos de absoluta prioridade, que vêm sendo
adiados, sabe-se lá até quando, como educação, saúde e
habitação.
Além
disso, o cidadão precisa conscientizar-se que toda a economia que
ele fizer redundará em seu próprio benefício. Será um dinheiro a
mais que ficará em seu bolso, para satisfazer outras necessidades
que não sejam as de transporte.
Se
a guerra tiver curta duração, conforme se espera – neste caso,
cerca de três meses – o País poderá não somente sair incólume
da crise, como até mesmo levar algumas vantagens. Principalmente se
as autoridades da área energética tiverem agilidade suficiente para
a aquisição de petróleo nos momentos de euforia do mercado, como o
de quinta-feira, com a brusca queda de preço do produto.
Mesmo
finda a crise no Oriente Médio, todavia, o bom senso manda que as
medidas racionalizadoras de consumo sejam mantidas, em especial
quando se sabe que as reservas petrolíferas conhecidas não são tão
altas como alguns ainda pensam e devem se esgotar em duas ou três
décadas, conforme parecer de especialistas internacionais, caso seja
mantida a demanda atual.
(Editorial
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 20 de
janeiro de 1991).
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