Incansável
busca
Pedro
J. Bondaczuk
O
sucesso, seja no que for que fizermos (óbvio) será sempre
bem-vindo. Sua obtenção é objetivo permanente em tudo o que
fazemos. Ninguém entra em um empreendimento, seja de que natureza
for – um negócio comercial, a busca de um amor, um relacionamento
harmonioso e estável, a redação e publicação de um livro, etc. –
para fracassar. Caso tenha a ideia de fracasso em mente, mesmo que
remota, é melhor nem começar nada.
O
sucesso é sinal de que fomos competentes, previdentes e aplicados em
determinado empreendimento. Todavia, temos que ter em mente que ele
não é duradouro (nada é). Todo êxito que obtivermos, por maior
que seja, é apenas parcial. O sucesso completo e definitivo acontece
(quando acontece), e quando ocorre é raramente, em casos, por
exemplo, como o de Steve Jobs, cuja obra e vida são reconhecidas por
quase todas as pessoas que o conheceram ou ouviram falar ou leram a
seu respeito, como notáveis e úteis. Ou como as biografias e
realizações de alguns outros gênios: Thomas Alva Edison, Albert
Einstein, Isaac Newton e uns poucos outros.
Acho
interessante o que escreveu a respeito o romancista italiano Alberto
Moravia: “O sucesso é como um jantar pesado – cumpre comê-lo
todo, digeri-lo, eliminá-lo. E depois se preparar para outro
jantar”. Ou seja, depois de gozarmos a justa euforia do êxito,
devemos colocar à nossa frente novos objetivos a conquistar e agir
com a mesma competência, previdência e aplicação nesse novo
empreendimento com que agimos no anterior. E isso a vida inteira.
A
busca do sucesso pode ser comparada, metaforicamente, à jornada dos
argonautas em busca do tosão de ouro. Esta é uma das sagas
literárias de que mais gosto, pelo seu simbolismo. Comparo-a ao
nosso empenho (quando o temos) em busca da concretização dos nossos
ideais. Para que o leitor compreenda melhor meu raciocínio, fazem-se
necessárias algumas explicações. O tosão de ouro, ou velo de ouro
(chamado, ainda, de velino ou velocino, como esclarece a enciclopédia
eletrônica Wikipédia), “é, na mitologia grega, a lã de ouro do
carneiro alado Crisômalo”.
A
jornada para o resgate dessa preciosidade é narrada por vários
escritores, entre os quais Gustav Schwab, em seu excelente livro “Os
Argonautas”. A Wikipédia esclarece, ainda, que Jasão e seus
seguidores precisavam recuperar o velo, que fora perdido e estava
pendurado num carvalho sagrado na Cólquida, ao sul das montanhas do
Cáucaso, para que esse líder tribal assumisse o trono de Iolco, na
Tessália. Essa lenda tão antiga, que já era muito popular nos
tempos do poeta Homero, serve, a caráter, para ilustrar as
dificuldades e obstáculos que tendem a aparecer em nosso caminho, em
nossa busca pelo sucesso. E, reitero, por um êxito apenas parcial,
já que o completo e definitivo só ocorre (quando ocorre) após
nossa morte. E implica na soma de todas as vitórias que viermos a
conquistar, das ínfimas às maiúsculas e soberbas.
O conceito de sucesso é bastante subjetivo e pode
ter conotação específica para cada um de nós, dependendo da nossa
personalidade, visão de vida e expectativas. O dinheiro, por
exemplo, é parâmetro para a maioria. A pessoa simples, que passa
por privações e que sequer é levada em conta, como se fosse mera
sombra ou até menos, por não possuir bens, tem como meta,
evidentemente, o ter, não o ser.
Não se entra aqui no mérito se essa ambição é
válida ou não, se traz ou não felicidade. Mas, para um monge
tibetano, por exemplo, ou para um ermitão do Oriente Médio, ou para
qualquer outro indivíduo que se despoje de aspirações materiais, a
acumulação de objetos, seja qual for o seu valor intrínseco, ou
sua natureza, ou sua escassez, pouco ou nada significa. Para tais
pessoas, juntar coisas não representa ser bem-sucedido.
Provavelmente, significa o contrário. Para elas, o que conta é o
autoconhecimento, a iluminação espiritual, a contemplação da
natureza etc.
O
leitor atento irá perceber que já tratei de tudo isso, em muitos
textos anteriores, mas a reiteração desses conceitos só confirma
minha convicção na sua pertinência e exatidão. Queremos
sempre, é óbvio, ser bem-sucedidos em nossos empreendimentos, sejam
de que natureza forem. Mas para alcançarmos o sucesso, é
indispensável que tenhamos objetivos. Queremos ser bem-sucedidos no
quê?
Os
objetivos tanto podem ser a conquista de um amor, como afirmei acima,
quanto o cultivo de uma profunda amizade; tanto a ascensão
profissional ou social, quanto a glória, o poder, a fortuna e assim
por diante. Mas não basta impor metas, se não estivermos preparados
para chegar onde queremos. O sucesso requer disciplina, preparo e,
sobretudo, persistência. Esses pré-requisitos são válidos para
toda e qualquer empreitada. Antes de estabelecermos alguma meta,
porém, é necessário que nos avaliemos com rigor, sem nos
subestimarmos e nem superestimarmos, conhecendo bem até onde podemos
evoluir (sempre podemos melhorar em alguma coisa). Afinal, o escritor
Gustave Flaubert constata que “o sucesso é uma consequência e não
um objetivo”. E ele está coberto de razão.
É
voz corrente que o sucesso transforma para pior as pessoas. Que os
bem-sucedidos se tornam arrogantes, prepotentes e indiferentes. Em
alguns casos, isso, de fato, ocorre, mas está longe de ser a regra.
É mera exceção. Quem age assim, é bem-sucedido por pouco tempo.
Não tarda para que despenque da sua arrogância. Seu sucesso é
parcial e transitório.
O
fracassado, sim, é perigoso. Alimenta antagonismos, mágoas,
ressentimentos e desejos de vingança. Busca derrubar todos que vê
pela frente. Por isso, sou levado a concordar com Sommerset Maugham,
quando constata: “A ideia de que o sucesso deteriora as pessoas,
fazendo-as vaidosas, egoístas e complacentes consigo próprias é
errônea. Ao contrário, para a maioria delas, torna-as modestas,
tolerantes e gentis. O fracasso é que faz as pessoas cruéis e
amargas”. Apostemos, pois, no sucesso e saibamos saboreá-lo,
sempre, com humildade, tolerância e gentileza e, principalmente, sem
acomodação.
O
escritor William Faulkner, notoriamente um homem bem-sucedido na
vida, como um dos maiores clássicos da literatura norte-americana e
mundial, tinha uma tese bem peculiar acerca do sucesso. Afirmava que
se tratava de um "matador" da criatividade, dessa ânsia de
perfeição que todas as pessoas devem ter, seja qual for a sua
atividade, até o último instante da existência. O italiano Alberto
Morávia expressou a mesma ideia, de outra forma, como citei.
Estariam
ambos com a razão? Os fracassados seriam os verdadeiros gênios das
artes e das ciências? Seriam os chamados donos da verdade?
Enxergariam aquilo que eventualmente ninguém mais vê? Claro que
não! E nem os dois escritores fizeram qualquer apologia do fracasso.
Ambos quiseram, apenas, alertar sobre a tendência que todos temos à
acomodação, a "dormir sobre os louros" conquistados.
Afinal, o satisfeito consigo próprio é, na verdade, um derrotado.
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