Modo
de ser
Pedro
J. Bondaczuk
“O
estilo faz o homem”, dizem os dogmáticos, do alto da sua
arrogância e rigidez mental. Discordo. Entendo que seja exatamente o
oposto. Ou seja, que é o homem que cria seu estilo, de acordo com o
que gosta, faz e é. Trata-se do nosso distintivo pessoal, da nossa
característica, da nossa personalidade, no sentido lato do termo.
Escrevi muito a esse propósito e o farei, certamente, mais vezes,
sempre que julgar isso oportuno.
Há
vários tipos de estilo, como o de se vestir (a tal da moda), de
falar, de andar, de comer, de amar e vai por aí afora. Cada qual
desenvolve o seu, de conformidade com o que gosta e é. Nas artes,
por exemplo, o estilo pode ser definido como o conjunto de
características que unificam ou distinguem o trabalho dos artistas,
grupos ou correntes. Pode haver “semelhantes”, mas nunca iguais.
E
por que? Porque não há igualdade física, ou mental, ou psicológica
entre as pessoas, mesmo entre gêmeos univitelinos. Como na natureza
não há duas folhas rigorosamente iguais em todo o mundo. A vida é
caracterizada pela diversidade, pela variedade e não pela
uniformidade. Os estilos, no caso, podem até parecer, à primeira
vista, iguaizinhos, cópias perfeitas um do outro, mas à menor
análise, ostentam suas diferenças, mesmo que mínimas, em
pequeníssimos detalhes.
A
diversidade impera no mundo. É a lei fundamental da natureza. Já em
literatura, estilo é a forma particular, extra formal do escritor
usar a linguagem (que é igual para todos) de maneira
particularíssima e única para compor suas obras, mas sem burlar as
normas do idioma que utiliza, nem as gramaticais e nem as semânticas.
Eu,
por exemplo, tenho o meu e ele está de tal sorte consolidado que,
qualquer leitor, minimamente atento, reconhece à distância meus
textos, mesmo que não os assine. São a minha cara! Não quero, com
isso, dizer que meu estilo seja excelente ou horroroso. Aliás, esse
tipo de avaliação é subjetivo, já que não há nenhum parâmetro
de aferição que seja consensual e lhe confira objetividade.
Um
amigo desafiou-me a fazer uma avaliação pública do meu estilo, daí
trazer à baila, hoje, neste espaço, esse tema. Não tenho como
fazer uma autocrítica isenta e objetiva a esse propósito. Qualquer
coisa que disser a respeito será somente “minha opinião”, que
pode não expressar a realidade, sei lá. Por força, até, da
coerência, gosto do meu estilo. Caso não gostasse... óbvio,
adotaria outro, e não este que me caracteriza. A análise, portanto,
tem que ser feita pela ótica dos que me apreciam – dos que me
honram com sua fidelidade – e, para fazer o contraponto, dos que me
detestam, e que encontram uma infinidade de defeitos no que escrevo.
Todo
homem público que se preze (e o escritor certamente o é) tem que se
habituar a encarar críticas e elogios com a mesma serenidade e
extrair, de ambos, o que houver de melhor (isto, claro, se houver
alguma coisa positiva a ser extraída; não raro, não há). Para os
que me apreciam como escritor, meu estilo é caracterizado pela
simplicidade e pela clareza. É este, pelo menos, meu esforço e
objetivo. Ou seja, o de fazer-me entendido por todos, não importando
o grau cultural de quem me lê. Daí minha preocupação constante de
não usar os jargões típicos das disciplinas de que trato.
Quando
abordo um assunto filosófico, por exemplo, busco trocar todas as
expressões características da Filosofia (e esta tem uma infinidade
delas) em miúdos, mesmo correndo o risco de meus textos ficarem
bastante extensos, por serem tão explicativos. E daí?! Qual o
problema? Pra que economizar papel, em detrimento da clareza? Tenho,
ademais, o mesmo procedimento em relação à economia, às ciências,
aos esportes, etc.etc.etc. Há quem goste deste estilo, caso
contrário eu não teria tantos leitores.
Para
meus detratores, contudo, sou retórico e discursivo (e admito isso,
pois é proposital, de caso pensado) em demasia. Utilizo, conforme
eles, inúmeras “muletas” em meus textos, no seu entender
supérfluas e, portanto, prescindíveis, descartáveis e
desnecessárias, a pretexto de torná-los coloquiais. Nesse caso, sou
réu confesso. Valho-me, de fato, desse recurso, condenado como o que
há de pior pelos críticos de ocasião. E daí? Essas “muletas”
invalidam minha maneira de me expressar? Tornam minha expressão
obscura, ou confusa, ou hermética? Disfarçam falta de conteúdo?
Claro que não! Então, ora, ora, ora, não me encham o saco!!!
Ademais,
não será por causa de avaliações superficiais e arrogantes como
estas que mudarei minha forma de comunicação. Não se mexe em time
que está ganhando. E este vem dando de goleada na ignorância, no
pessimismo, no mau humor e na prepotência.
Nessa
questão de estilo, gosto de parodiar aquele slogan que existia no
País no tempo da ditadura militar em relação ao Brasil: “ame-o
ou deixe-o”! Dou plena liberdade a quem me lê e não aprecia o que
escrevo. Se não gostar da minha forma de escrever, parodio o citado
slogan e intimo: “Ame-a, ou procure outros espaços, outros
textos, outros redatores que mais lhes satisfaçam”. Ou que se
submetam à sua arrogante coação.
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