Saturday, July 14, 2018

CRÔNICA DO DIA - Parabéns, Campinas "do meu andar"...


Parabéns, Campinas “do meu andar”…

Pedro J. Bondaczuk

Campinas, ao completar, neste julho de 2018, 244 anos de fundação, é uma cidade “jovem”, podemos assim dizer. Se compararmos sua idade à de localidades multimilenares, como Jericó, Damasco, Biblos e Beirute, entre outras – todas com mais de 10 mil anos de existência – seria “um bebê”. O que é notável, porém, é o fato de que, em tão pouco tempo, ela tenha se tornado essa metrópole gigante, progressista e vibrante, modelo de desenvolvimento inclusive para povos tidos e havidos como mais desenvolvidos do que nós. E tudo isso foi construído por pouco mais do que três gerações de campineiros!! É admirável!!!

Pensem nisso. Pensem quantas etapas tiveram que ser queimadas para que Campinas superasse, em todos os parâmetros possíveis, cidades já nem digo multimilenares, mas multicentenárias, tanto do Brasil quanto de várias partes do mundo. Isso diz muito da operosidade do campineiro. Além do que, a cidade teve que “renascer das cinzas”, em decorrência da epidemia (na verdade foram seis epidemias em nove anos) de febre amarela, que em fins do século XIX quase apagou Campinas do mapa. Mais de três mil campineiros morreram na oportunidade! E essa cifra só não foi maior, porque muitos dos mais de vinte mil moradores, que puderam sair daqui, saíram para outras localidades, reduzindo a população a algo em torno de cinco mil habitantes, se tanto.

Muitos, porém, decidiram aqui permanecer, na tentativa de salvar a cidade da extinção. Entre estes, destacam-se os que se tornaram mártires dessa empreitada, como Ângelo Simões, José Paulino, Costa Aguiar e Irmã Serafina, entre um punhado de tantos outros. Dentre estes, merece especial destaque o sanitarista (fundador do Instituto Butantã) Emílio Ribas, natural de Pindamonhangaba, pelo seu desprendimento e suas peritas ações.

O historiador Jorge Alves de Lima trata desse episódio dramático (e heroico) de Campinas em seu livro “O ovo da serpente”. Destaca, por exemplo, as duras condições que o sanitarista enfrentou no combate à doença, ao constatar: “Emílio Ribas tinha dificuldades de trazer pacientes, porque o hospital era muito perto do cemitério”. Houve momento em que os mortos eram tantos, que não se dava conta de sepultá-los. A ação desse médico tem que ser destacada, embora muitos outros se destacaram no combate à febre amarela, por um motivo principal. Ele tinha a convicção, por exemplo, de que o transmissor da doença era o mosquito “Aedes Aegypti”, embora houvesse ceticismo a respeito. Para provar sua tese, deixou-se picar por um inseto contaminado. E… ficou doente.

Jorge Alves de Lima resume assim a ousada atuação de Emílio Ribas: “Ele enfrentou de maneira destemida, corajosa, foi valente, não abandonou a cidade, contraiu a febre amarela, escapou e voltou e salvou Campinas”. E a cidade hoje ai está, vibrante, dinâmica e progressista. Como a mitológica fênix, portanto, “renasceu das próprias cinzas”.

Caminhando, hoje, por suas ruas, praças e avenidas, sinto a presença dos pioneiros fundadores, como o bandeirante Barreto Leme. E dos tantos heróis que a cidade produziu. Dos que projetaram (e projetam) Campinas nas artes (como por exemplo Carlos Gomes, José Pancetti e Guilherme de Almeida, entre tantos outros), nas ciências, nos esportes, na política, na economia, enfim, na cultura em geral. Sinto a força, a energia e o espírito de luta que emanam do seu povo. E faço minhas as palavras do poeta gaúcho Mário Quintana, que escreveu (para Porto Alegre), estes versos, que cabem como uma luva para o que sinto em relação a Campinas que tanto amo, ao ensejo de seu 244º aniversário:

Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso

Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso...”


PARABÉNS, CAMPINAS, MEU AMOR!!!!!

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