Caindo na realidade
Pedro
J. Bondaczuk
A incerteza é a única
certeza que existe, neste momento, na economia brasileira, além, é
claro, da profunda depressão (um degrau além da recessão) que
paralisa o País, e de seu reflexo social mais sensível (e mais
perverso): o desemprego. A despeito do que afirma o presidente
Fernando Henrique Cardoso, de que ao término da atual "tempestade"
econômica, o real vai sobreviver (e mais forte do que atualmente),
suas palavras já não convencem. Nos últimos dias, o Planalto fez
tantas afirmações, desmentidas pelos fatos, que nem os mais
ingênuos acreditam mais nesse tipo de declaração.
O ministro Pedro Malan e o
próprio FHC sustentaram, perante a opinião pública, desde quando
começou a sangria nas reservas de dólares do Brasil, em setembro do
ano passado, que o real não seria, em hipótese nenhuma,
desvalorizado, apesar da sua sabida e comprovada sobrevalorização.
Mas foi. Na véspera da efetiva desvalorização, ambos reiteraram a
promessa. E o que aconteceu? A desvalorização (que se feita em
outubro, por exemplo, poderia ser bem absorvida), pegou todo mundo de
surpresa, dentro e fora do País. E a credibilidade do Brasil, que já
não era das maiores, se esfacelou.
Todavia, os compromissos
assumidos com a população, e em seguida descumpridos, não pararam
por aí. E nem se fala mais naquelas promessas de resgate social,
feitas na primeira posse de FHC, em 1º de janeiro de 1995, já que
este não vai ocorrer mesmo no atual governo. A impressão que fica é
a de que o presidente e sua equipe econômica estão desorientados,
tontos, perdidos, sem saber que rumo tomar. Dizem uma coisa num dia e
fazem outra, ao contrário do prometido na véspera, no seguinte.
Por exemplo, o novo presidente
do Banco Central, Francisco Lopes, após a desvalorização do real,
ocorrida na data do anúncio da sua escolha para o cargo, em
substituição a Gustavo Franco, deu a entender que a política
cambial vigente iria mudar muito pouco, "quase nada".
Somente o sistema de banda (o piso e o teto da flutuação da cotação
do dólar) ficaria mais amplo. Assegurou que o câmbio não seria, em
hipótese nenhuma, liberado. E o que aconteceu? No dia seguinte,
aquilo que assegurava na véspera que não iria ocorrer, ocorreu.
Tão logo foi anunciada a
desvalorização da moeda brasileira, a equipe econômica acenou com
a possibilidade de redução dos escandalosos juros praticados no
País, que além de afetarem as empresas e provocarem uma onda de
desemprego poucas vezes vista, sequer conseguiram segurar o capital
especulativo (só nos 15 primeiros dias do ano, cerca de US$ 5
bilhões já saíram do Brasil). Quatro dias depois, no entanto,
foram elevados novamente, para o patamar de 40% em média. Como
acreditar, pois, em declarações provenientes do Planalto?
Para "felicidade" do
governo, caiu em seu colo o bode expiatório perfeito, para levar a
culpa, interna e externamente, da falta de rumo na política
econômica (existe alguma atualmente?): o ex-presidente da República
e atual governador de Minas Gerais, Itamar Franco. Desde quando este
anunciou a moratória nas dívidas do Estado, por absoluta falta de
condições de pagamento, transformou-se no "Judas de sábado de
Aleluia", que todo o mundo malhou. Entre seus detratores
destacaram-se, como os mais afoitos e rancorosos, conhecidos setores
da mídia, que contrariando todos os princípios do bom jornalismo,
não se limitam a dar as notícias, mas insistem em fazer parte
delas.
Chegaram ao cúmulo de afirmar
que Itamar "derrubou as bolsas" no mundo todo. Eta
mineirinho poderoso! O pior é que muita gente, que se diz
politicamente esclarecida, acredita nessa tolice. Ou finge acreditar,
no afã de bajular os poderosos do momento.
No dia 19 passado, o
economista norte-americano, Jeffrey Sachs, em artigo publicado na
Folha de S. Paulo, acentuou: "O histórico do FMI se conserva
perfeito: cinco grandes pacotes de socorro desde meados de 1997,
cinco grandes fracassos. O último trem a descarrilar foi o do
Brasil. Tudo isso poderia ter sido evitado". E como poderia! O
eleitorado teve essa chance de mudança, em outubro do ano passado.
Perdeu a oportunidade. Agora, só resta torcer para 2002 chegar
depressa e que até lá surjam líderes autênticos, com propostas
sólidas e factíveis, que de fato governem e não se limitem a fazer
vagas e retóricas declarações acadêmicas.
(Editorial publicado na Folha
do Taquaral na segunda quinzena de janeiro de 1999)
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