Aplainar arestas
Pedro J. Bondaczuk
A Trigésima Nona Exposição
de Animais e Produtos Derivados do Vale do Rio Grande, com realização
na cidade de Barretos, vem de ser cancelada. Como nos anos
anteriores, também neste mês de abril seriam apresentados nesse
certame cerca de 450 exemplares das raças gir e nelore, além de 250
equinos de qualidade apurada. Aliás, as exposições levadas a
efeito em Barretos desfrutaram sempre de conceito nacional,
despertando as atenções e os interesses de centenas de criadores.
Entretanto, no corrente ano, diante das implicações ocasionadas
pelo funcionamento do Plano Collor ou Brasil Novo, como queiram, a
exposição programada deixará de ser realizada. O dinheiro
arrecadado através de leilões pela comissão organizadora estava
aplicado junto à rede bancária. Como aconteceu com todos os
poupadores ou investidores, naquela tarde de 16 de março último,
também o numerário necessário às despesas da trigésima nona
exposição ficou bloqueado, à disposição do Banco Central. E sem
dinheiro vivo, como se diz em linguagem comum, nada feito.
Ao tomar posse recentemente no
cargo de ministro da Agricultura, o pecuarista Antônio Cabrera Mano
Filho anunciou a abertura de nova fase às atividades do campo,
prometendo inclusive a liberação de créditos no total de Cr$ 14
bilhões, isto para atendimento a diversos setores da agricultura.
Por sinal, logo após a divulgação desse informe, as lideranças
rurais de todas as regiões do País passaram a locomover-se rumo a
Brasília, evidentemente com o propósito de abocanhar uma fatia
desse bolo apetitoso. E o movimento foi tão intenso nos últimos
dias no gabinete do ministro, obrigando o serviço de copa a
suspender até o oferecimento do tradicional cafezinho.
Certamente, o cancelamento
daquela promoção de animais em Barretos, de uma forma ou de outra,
significará na prática um acúmulo acentuado de perdas. De fato, os
expositores deixarão de vender os seus produtos, enquanto muitos
criadores ficarão impedidos também de aprimorar a raça de
determinadas espécies. E acima de tudo, no fundo, quem perderá
ainda mais com o cancelamento da exposição será a cidade de
Barretos, frustrando-se assim as expectativas de bons negócios.
A verdade é que, se de um
lado o Plano Collor estancou o processo inflacionário ameaçando o
Brasil todo, de outro, acabou provocando também uma série de
sequelas, como é o caso por exemplo do cancelamento da exposição
de Barretos. Caberá pois ao novo ministro da Agricultura a tarefa um
tanto árdua de aplainar as arestas destoantes assinaladas nesse
importante setor da vida brasileira, face à aplicação do conjunto
de medidas editadas pelo atual governo. Sem dúvida alguma, outros
eventos no gênero precisam contar com o apoio e a colaboração
daquela pasta. Do contrário, sejamos francos, todo aquele anúncio
de autêntica revolução na agricultura ficará circunscrito apenas
ao simples uso da retórica, tão conhecido já pelos homens do
campo.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 19 de abril de 1990)
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