Saturday, July 14, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Aplainar arestas


Aplainar arestas


Pedro J. Bondaczuk


A Trigésima Nona Exposição de Animais e Produtos Derivados do Vale do Rio Grande, com realização na cidade de Barretos, vem de ser cancelada. Como nos anos anteriores, também neste mês de abril seriam apresentados nesse certame cerca de 450 exemplares das raças gir e nelore, além de 250 equinos de qualidade apurada. Aliás, as exposições levadas a efeito em Barretos desfrutaram sempre de conceito nacional, despertando as atenções e os interesses de centenas de criadores. Entretanto, no corrente ano, diante das implicações ocasionadas pelo funcionamento do Plano Collor ou Brasil Novo, como queiram, a exposição programada deixará de ser realizada. O dinheiro arrecadado através de leilões pela comissão organizadora estava aplicado junto à rede bancária. Como aconteceu com todos os poupadores ou investidores, naquela tarde de 16 de março último, também o numerário necessário às despesas da trigésima nona exposição ficou bloqueado, à disposição do Banco Central. E sem dinheiro vivo, como se diz em linguagem comum, nada feito.

Ao tomar posse recentemente no cargo de ministro da Agricultura, o pecuarista Antônio Cabrera Mano Filho anunciou a abertura de nova fase às atividades do campo, prometendo inclusive a liberação de créditos no total de Cr$ 14 bilhões, isto para atendimento a diversos setores da agricultura. Por sinal, logo após a divulgação desse informe, as lideranças rurais de todas as regiões do País passaram a locomover-se rumo a Brasília, evidentemente com o propósito de abocanhar uma fatia desse bolo apetitoso. E o movimento foi tão intenso nos últimos dias no gabinete do ministro, obrigando o serviço de copa a suspender até o oferecimento do tradicional cafezinho.

Certamente, o cancelamento daquela promoção de animais em Barretos, de uma forma ou de outra, significará na prática um acúmulo acentuado de perdas. De fato, os expositores deixarão de vender os seus produtos, enquanto muitos criadores ficarão impedidos também de aprimorar a raça de determinadas espécies. E acima de tudo, no fundo, quem perderá ainda mais com o cancelamento da exposição será a cidade de Barretos, frustrando-se assim as expectativas de bons negócios.

A verdade é que, se de um lado o Plano Collor estancou o processo inflacionário ameaçando o Brasil todo, de outro, acabou provocando também uma série de sequelas, como é o caso por exemplo do cancelamento da exposição de Barretos. Caberá pois ao novo ministro da Agricultura a tarefa um tanto árdua de aplainar as arestas destoantes assinaladas nesse importante setor da vida brasileira, face à aplicação do conjunto de medidas editadas pelo atual governo. Sem dúvida alguma, outros eventos no gênero precisam contar com o apoio e a colaboração daquela pasta. Do contrário, sejamos francos, todo aquele anúncio de autêntica revolução na agricultura ficará circunscrito apenas ao simples uso da retórica, tão conhecido já pelos homens do campo.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 19 de abril de 1990)



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