Monday, July 09, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - "Vacina" contra a inflação


"Vacina" contra a inflação


Pedro J. Bondaczuk


O governo iniciou, há alguns dias, a veiculação de anúncios institucionais na televisão, convocando a população a "vacinar-se" contra o vírus da inflação. O objetivo, evidentemente, é o de extinguir, ou pelo menos diminuir bastante, a cultura inflacionária, que já se tornou um verdadeiro vício no País, autêntica mania nacional.

É claro que o combate a esse fenômeno que desorganiza qualquer economia não é tão simples e as causas dele são bem mais complexas do que possa parecer ao leigo. Ademais, a maior parte das elevações de preço, principalmente no comércio, não é fruto de má fé ou de desmedida ganância.

Mas as altas têm um pouco de influência --- o quanto, ainda não se sabe --- dessa verdadeira psicose inflacionária que nos domina e uma grande componente também de incompetência administrativa, de ineficiência na gestão de negócios, que impede o corte de despesas operacionais inúteis e que são repassadas, invariavelmente, para o custo final das mercadorias.

Quem tem um pouco de paciência, ao fazer suas compras, e principalmente tempo para pesquisar, geralmente lucra. Encontra artigos bons e baratos em estabelecimentos cujos donos já entenderam que o segredo do bom negociante é a obtenção de elevados lucros em quantidade de produtos vendidos e na frequência dessas vendas, e nunca unitariamente.

Quem cobra caro por um determinado bem, às vezes o dobro daquilo que o seu concorrente está pedindo, pode até fazer um, ou dois, ou mil bons negócios. Mas não forma freguesia. O cliente que se sentir lesado pode até ser daqueles que não gostam de reclamar, por uma questão de temperamento. Porém, certamente, jamais voltará a comprar ali. A médio prazo, o vendedor careiro ficará em sérias enrascadas, conforme mostra a própria experiência do dia a dia.

Ninguém está disposto a sustentar a ganância de uns e a incompetência administrativa de muitos, indefinidamente. Daí a necessidade da concorrência em todos os setores, do fim dos cartéis e monopólios, da extinção de determinadas entidades cujo papel é padronizar os preços --- sempre para o alto, evidentemente --- de determinados ramos de negócios, estabelecendo autêntica ditadura sobre os afiliados e impedindo o funcionamento das sábias (porque naturais) leis de mercado livre, baseadas na oferta e procura.

Nesse aspecto, o consumidor pode ajudar a vencer a inflação, desde que o governo faça, realmente, sua parte. Desde que não gaste mais do que arrecada e não emita moeda que não esteja rigorosamente lastreada na produção. Mesmo que a influência desse comportamento prudente do comprador nas taxas finais seja de escassos pontos percentuais, cumulativamente os benefícios acabam por ser sentidos. Por isso, "vacinemo-nos" todos contra o vírus inflacionário.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 16 de outubro de 1990).



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