"Vacina" contra a
inflação
Pedro J. Bondaczuk
O governo iniciou, há alguns
dias, a veiculação de anúncios institucionais na televisão,
convocando a população a "vacinar-se" contra o vírus da
inflação. O objetivo, evidentemente, é o de extinguir, ou pelo
menos diminuir bastante, a cultura inflacionária, que já se tornou
um verdadeiro vício no País, autêntica mania nacional.
É claro que o combate a esse
fenômeno que desorganiza qualquer economia não é tão simples e as
causas dele são bem mais complexas do que possa parecer ao leigo.
Ademais, a maior parte das elevações de preço, principalmente no
comércio, não é fruto de má fé ou de desmedida ganância.
Mas as altas têm um pouco de
influência --- o quanto, ainda não se sabe --- dessa verdadeira
psicose inflacionária que nos domina e uma grande componente também
de incompetência administrativa, de ineficiência na gestão de
negócios, que impede o corte de despesas operacionais inúteis e que
são repassadas, invariavelmente, para o custo final das mercadorias.
Quem tem um pouco de
paciência, ao fazer suas compras, e principalmente tempo para
pesquisar, geralmente lucra. Encontra artigos bons e baratos em
estabelecimentos cujos donos já entenderam que o segredo do bom
negociante é a obtenção de elevados lucros em quantidade de
produtos vendidos e na frequência dessas vendas, e nunca
unitariamente.
Quem cobra caro por um
determinado bem, às vezes o dobro daquilo que o seu concorrente está
pedindo, pode até fazer um, ou dois, ou mil bons negócios. Mas não
forma freguesia. O cliente que se sentir lesado pode até ser
daqueles que não gostam de reclamar, por uma questão de
temperamento. Porém, certamente, jamais voltará a comprar ali. A
médio prazo, o vendedor careiro ficará em sérias enrascadas,
conforme mostra a própria experiência do dia a dia.
Ninguém está disposto a
sustentar a ganância de uns e a incompetência administrativa de
muitos, indefinidamente. Daí a necessidade da concorrência em todos
os setores, do fim dos cartéis e monopólios, da extinção de
determinadas entidades cujo papel é padronizar os preços --- sempre
para o alto, evidentemente --- de determinados ramos de negócios,
estabelecendo autêntica ditadura sobre os afiliados e impedindo o
funcionamento das sábias (porque naturais) leis de mercado livre,
baseadas na oferta e procura.
Nesse aspecto, o consumidor
pode ajudar a vencer a inflação, desde que o governo faça,
realmente, sua parte. Desde que não gaste mais do que arrecada e não
emita moeda que não esteja rigorosamente lastreada na produção.
Mesmo que a influência desse comportamento prudente do comprador nas
taxas finais seja de escassos pontos percentuais, cumulativamente os
benefícios acabam por ser sentidos. Por isso, "vacinemo-nos"
todos contra o vírus inflacionário.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 16 de outubro de 1990).
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