Monday, July 23, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Ajuste aos novos tempos


Ajuste aos novos tempos


Pedro J. Bondaczuk


O comércio está na expectativa de que o processo de vendas será reativado nesta primeira quinzena de abril, levando em conta o apreciável volume de moeda colocada em circulação através do pagamento de salários em geral. Passada toda aquela confusão estabelecida logo após o lançamento de inúmeras medidas no campo da economia, apanhando a todos de surpresa, as coisas começam agora a funcionar em clima de normalidade, apesar de muitos transtornos em tantos setores da vida brasileira. Certamente irão perdurar ainda por bom espaço de tempo, isto porque as mudanças foram um tanto profundas, alcançando as áreas do trabalho e da produção de maneira efetiva.

Há pois sinais evidentes de ajustes das pessoas em relação à nova filosofia de comportamento exigida pelo governo de Fernando Collor de Mello. Entretanto, aquele hábito de desfrutar sempre de um padrão de vida aceitável continuará inalterado. Acha-se ele acrisolado nos costumes de nossa gente. Bastou o comércio utilizar aquela antiga modalidade do pagamento em parcelas mensais, por força de lances de criatividade, e a venda de bens duráveis aumentou nos últimos dias de março. Aliás, o empresário Aldo Lorenzetti reconheceu o aquecimento do mercado de eletrodomésticos na praça de Campinas, acontecimento que não se repetiu em outras cidades, inclusive na região da Grande São Paulo.

Por outro lado, entende aquele empresário que, apesar da aplicação de uma política atraente para os preços na área do comércio, o setor da indústria não se mostra sensível a reduzir os preços da fabricação de seus produtos, daí não se acreditar na possibilidade de eventual explosão do consumo. Registre-se o detalhe de que a taxa de juros praticada no mercado ainda permanece em patamar elevado, forçando inclusive o presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, Abram Szajman, a deslocar-se rumo a Brasília, no intuito de colocar o presidente Fernando Collor de Mello a par da situação existente entre nós.

Seja lá como for, o Plano Collor mexeu realmente com a vida de todas as pessoas. A maioria ficou mesmo aturdida com o lançamento das medidas de impacto. A falta de liquidez no mercado é notória, sendo adotada para valer, objetivando a redução da taxa inflacionária a posições toleráveis. As perspectivas de uma ampla recessão econômica não se acham totalmente descartadas. Assim, não se acredita apanhe a grande massa assalariada do País o dinheiro pago a título de salários e saia por aí a comprar de forma adoidada. Parece que as coisas estão mudando. Pelo visto, as pessoas passarão a pensar duas vezes antes de gastar. É o ajuste aos novos tempos...

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 10 de abril de 1990)


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