Ajuste aos novos tempos
Pedro J. Bondaczuk
O comércio está na
expectativa de que o processo de vendas será reativado nesta
primeira quinzena de abril, levando em conta o apreciável volume de
moeda colocada em circulação através do pagamento de salários em
geral. Passada toda aquela confusão estabelecida logo após o
lançamento de inúmeras medidas no campo da economia, apanhando a
todos de surpresa, as coisas começam agora a funcionar em clima de
normalidade, apesar de muitos transtornos em tantos setores da vida
brasileira. Certamente irão perdurar ainda por bom espaço de tempo,
isto porque as mudanças foram um tanto profundas, alcançando as
áreas do trabalho e da produção de maneira efetiva.
Há pois sinais evidentes de
ajustes das pessoas em relação à nova filosofia de comportamento
exigida pelo governo de Fernando Collor de Mello. Entretanto, aquele
hábito de desfrutar sempre de um padrão de vida aceitável
continuará inalterado. Acha-se ele acrisolado nos costumes de nossa
gente. Bastou o comércio utilizar aquela antiga modalidade do
pagamento em parcelas mensais, por força de lances de criatividade,
e a venda de bens duráveis aumentou nos últimos dias de março.
Aliás, o empresário Aldo Lorenzetti reconheceu o aquecimento do
mercado de eletrodomésticos na praça de Campinas, acontecimento que
não se repetiu em outras cidades, inclusive na região da Grande São
Paulo.
Por outro lado, entende aquele
empresário que, apesar da aplicação de uma política atraente para
os preços na área do comércio, o setor da indústria não se
mostra sensível a reduzir os preços da fabricação de seus
produtos, daí não se acreditar na possibilidade de eventual
explosão do consumo. Registre-se o detalhe de que a taxa de juros
praticada no mercado ainda permanece em patamar elevado, forçando
inclusive o presidente da Federação do Comércio do Estado de São
Paulo, Abram Szajman, a deslocar-se rumo a Brasília, no intuito de
colocar o presidente Fernando Collor de Mello a par da situação
existente entre nós.
Seja lá como for, o Plano
Collor mexeu realmente com a vida de todas as pessoas. A maioria
ficou mesmo aturdida com o lançamento das medidas de impacto. A
falta de liquidez no mercado é notória, sendo adotada para valer,
objetivando a redução da taxa inflacionária a posições
toleráveis. As perspectivas de uma ampla recessão econômica não
se acham totalmente descartadas. Assim, não se acredita apanhe a
grande massa assalariada do País o dinheiro pago a título de
salários e saia por aí a comprar de forma adoidada. Parece que as
coisas estão mudando. Pelo visto, as pessoas passarão a pensar duas
vezes antes de gastar. É o ajuste aos novos tempos...
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 10 de abril de 1990)
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