Wednesday, July 25, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Transição com esperanças


Transição com esperanças


Pedro J. Bondaczuk


É comum ouvir-se que o Plano Brasil Novo ou Plano Collor, como se queira dizer, é muito duro e a sociedade ainda não conseguiu desvencilhar-se do impacto que ele deu em nosso povo. Os economistas e técnicos ligados ao Ministério da Economia, procuram oferecer explicações, a fim de esclarecer quanto a detalhes que possam parecer pouco explicativos. No entanto, e ainda faz pouco o senhor Antônio Kandir, secretário do Ministério que tem como titular a professora Zélia Cardoso de Mello, afirmou que no momento o governo já tem equilibrado o sistema econômico do País e que com mais alguns dias, haveremos de respirar atmosfera mais tranquila. Quis ele se referir ao mal-estar de certa parte da população que se assustou com as medidas iniciais. Afirmou ainda aquela autoridade que o fato dos consumidores já se mostrarem lépidos na procura do que precisam, é sinal positivo de que toda a poeira está se assentando. E tomara que assim seja e a nossa torcida é para que, finalmente, tenhamos encontrado a paz e a crença necessárias para que o País entre em ritmo normal de trabalho e de vida.

Até nossos dias, o povo brasileiro tem sido heroico para conquistar a situação que merece no concerto das nações civilizadas. Depois do período ditatorial porque passou o Brasil, com a eleição de Tancredo Neves, renasceram as esperanças de todo povo em pautar caminhos mais seguros. Era preciso fazer muita coisa, como enxugar a máquina administrativa, estabelecer novas regras dentro das atividades políticas, acertar o problema das dívidas interna e externa, enfim, encontrar a chave de todas as soluções que deveriam pôr os brasileiros dentro de um clima mais calmo. Mas Tancredo Neves não pôde responder a seu desiderato e aos interesses de todos os brasileiros. Veio o penúltimo presidente e todo mundo já sabe o que aconteceu. O País caiu no desânimo diante de uma crise de arrepiar os cabelos. Tudo passou a ser terrível pesadelo.

A inflação começou a devastar a vida nacional. Ninguém acenava para um instante de paz. A economia desceu fundo. O então presidente deu um grito de esperança diante do Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte: "Inflação, nunca mais!" Mas não pôde sustentar as suas frases de patriotismo instantâneo. O seu ânimo não demorou a empalidecer. Tudo ficou como antes no quartel de Abrantes. E o processo inflacionário ligou-se à desenfreada corrupção. O País afundava como um transatlântico à deriva, em mar encapelado e violento.

Porém, os brasileiros, como gente de boa índole, não perdeu a fé nos seus destinos e em eleição livre, elegeu aquele que lhe parecia o melhor, com uma razoável diferença de votos que se aproximou de cinco milhões de eleitores.

Esta foi a trajetória de uma página longa e dolorosa para um povo que já se desesperava com a inflação indomável e com o completo desequilíbrio da vida nacional.

Estamos, agora, no começo de uma nova era. Mais um pouco e, como no dizer do economista Antônio Kandir, teremos condições de sair do buraco e reencontrar o caminho que nos conduza ao embasamento de uma economia saudável, dentro de um prazo que possa corresponder às expectativas de todo brasileiro. Temos de crer. Porque é confiando que poderemos atender aos propósitos de uma população ordeira cuja única preocupação é assistir ao renascer de um País consubstanciado nos alicerces da paz e do florescimento, com justiça e conforme os direitos a que faz jus a nossa gente.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 27 de março de 1990)


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