Transição com esperanças
Pedro J. Bondaczuk
É comum ouvir-se que o Plano
Brasil Novo ou Plano Collor, como se queira dizer, é muito duro e a
sociedade ainda não conseguiu desvencilhar-se do impacto que ele deu
em nosso povo. Os economistas e técnicos ligados ao Ministério da
Economia, procuram oferecer explicações, a fim de esclarecer quanto
a detalhes que possam parecer pouco explicativos. No entanto, e ainda
faz pouco o senhor Antônio Kandir, secretário do Ministério que
tem como titular a professora Zélia Cardoso de Mello, afirmou que no
momento o governo já tem equilibrado o sistema econômico do País e
que com mais alguns dias, haveremos de respirar atmosfera mais
tranquila. Quis ele se referir ao mal-estar de certa parte da
população que se assustou com as medidas iniciais. Afirmou ainda
aquela autoridade que o fato dos consumidores já se mostrarem
lépidos na procura do que precisam, é sinal positivo de que toda a
poeira está se assentando. E tomara que assim seja e a nossa torcida
é para que, finalmente, tenhamos encontrado a paz e a crença
necessárias para que o País entre em ritmo normal de trabalho e de
vida.
Até nossos dias, o povo
brasileiro tem sido heroico para conquistar a situação que merece
no concerto das nações civilizadas. Depois do período ditatorial
porque passou o Brasil, com a eleição de Tancredo Neves, renasceram
as esperanças de todo povo em pautar caminhos mais seguros. Era
preciso fazer muita coisa, como enxugar a máquina administrativa,
estabelecer novas regras dentro das atividades políticas, acertar o
problema das dívidas interna e externa, enfim, encontrar a chave de
todas as soluções que deveriam pôr os brasileiros dentro de um
clima mais calmo. Mas Tancredo Neves não pôde responder a seu
desiderato e aos interesses de todos os brasileiros. Veio o penúltimo
presidente e todo mundo já sabe o que aconteceu. O País caiu no
desânimo diante de uma crise de arrepiar os cabelos. Tudo passou a
ser terrível pesadelo.
A inflação começou a
devastar a vida nacional. Ninguém acenava para um instante de paz. A
economia desceu fundo. O então presidente deu um grito de esperança
diante do Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte: "Inflação,
nunca mais!" Mas não pôde sustentar as suas frases de
patriotismo instantâneo. O seu ânimo não demorou a empalidecer.
Tudo ficou como antes no quartel de Abrantes. E o processo
inflacionário ligou-se à desenfreada corrupção. O País afundava
como um transatlântico à deriva, em mar encapelado e violento.
Porém, os brasileiros, como
gente de boa índole, não perdeu a fé nos seus destinos e em
eleição livre, elegeu aquele que lhe parecia o melhor, com uma
razoável diferença de votos que se aproximou de cinco milhões de
eleitores.
Esta foi a trajetória de uma
página longa e dolorosa para um povo que já se desesperava com a
inflação indomável e com o completo desequilíbrio da vida
nacional.
Estamos, agora, no começo de
uma nova era. Mais um pouco e, como no dizer do economista Antônio
Kandir, teremos condições de sair do buraco e reencontrar o caminho
que nos conduza ao embasamento de uma economia saudável, dentro de
um prazo que possa corresponder às expectativas de todo brasileiro.
Temos de crer. Porque é confiando que poderemos atender aos
propósitos de uma população ordeira cuja única preocupação é
assistir ao renascer de um País consubstanciado nos alicerces da paz
e do florescimento, com justiça e conforme os direitos a que faz jus
a nossa gente.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 27 de março de 1990)
No comments:
Post a Comment