Literatura
infantil
Pedro J. Bondaczuk
Muitos torcem o nariz quando o assunto se refere a histórias para
crianças. Todavia, não há público mais exigente e,
simultaneamente, mais fiel do que este. Ao escritor compete a difícil
tarefa de interessá-lo no seu texto, torná-lo cúmplice, fazer com
que mergulhe de cabeça na leitura e, além de aprender alguma coisa,
se divirta.
Não é qualquer um que consegue essa façanha. Já tentei fazer
literatura infantil e dei com os burros n’água, ou seja,
fracassei. Não é a minha praia. Daí minha sincera admiração e
meu profundo respeito pelos que contam com este talento.
Ao contrário de livros para adultos, em que não se precisa pensar
na idade dos que os irão ler, quando se trata de uma história para
crianças, deve-se atentar para a faixa etária do potencial leitor.
O nível de compreensão de um menininho ou menininha de quatro anos,
por exemplo, não é, obviamente, o mesmo de um que tenha seis, oito
ou dez anos. Há escritor que se especializa em cada uma dessas
faixas. E quase sempre se dá bem. Público para consumir seus livros
é que não falta.
Aquilo que no tempo em que eu era criança era destinado a quem
tivesse seis anos, hoje é voltado à turminha menor, “mais verde”,
a das creches, ou seja, ao pessoal de dois a quatro anos. Muitos dos
que integram essa faixa (se não todos), já estão alfabetizados. A
alfabetização é cada dia mais precoce. Não faço juízo de valor
sobre se isso é bom ou ruim, pois não sou psicólogo. Minha
intuição, porém, cochicha-me no ouvido que isso é ótimo.
A minha geração é anterior ao advento da televisão. Computador,
então, nem pensar. Hoje, surpreendo-me com as observações do meu
neto João Vítor, que no próximo mês completará nove anos, que já
compreende coisas que só vim a compreender com o dobro da sua idade.
Há pérolas da literatura infantil que são atemporais, que
encantaram meus avós e hoje encantam meus netos. São os casos,
entre outros, dos livros de histórias de Andersen, de Grimm e de
tantos e tantos outros. Mas quando se fala nesse gênero, não se
pode esquecer, jamais, desse mágico das letras nacionais, que foi
Monteiro Lobato.
Há, hoje, uma infinidade de ótimos escritores para essa faixa
etária. Não citarei nenhum, obviamente, por receio de cometer
injustiças (e cometeria, certamente, dada, felizmente, a imensa
quantidade deles). São essas pessoas talentosas que estão
preparando nossos leitores do futuro. Prestam-nos, portanto,
inestimável serviço e é mister que os homenageemos, mesmo que com
o mero reconhecimento da sua importância e valor.
Foram os escritores de literatura infantil do nosso tempo que nos
despertaram o gosto pelas letras. “Viajamos” para mundos
distantes nas asas da sua imaginação. Podemos (e devemos),
portanto, atribuir-lhes pelo menos uma parte (a outra fica por conta
dos nossos professores) da responsabilidade de termos nos tornado
escritores.
Tenho por critério valorizar em grau maior quem faz o que não
consigo fazer. Não que não valorize os que fazem o que também
faço. Não é isso. Mas é óbvio que meu respeito e minha admiração
pelos que me superam nesse aspecto, até por questão de lógica, são
superlativos. E como não demonstro a menor aptidão para a
literatura infantil.... Tenho esse pessoal na mais alta conta. Creio
que você, caro leitor, também o tenha. Se não tem, deveria ter.
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