Tuesday, July 31, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Inflação e recessão


Inflação e recessão


Pedro J. Bondaczuk


A inflação brasileira, se ainda não está vencida, pelo menos está domada, alcançando taxa acumulada anual de um único dígito em 1996: 9,2%, conforme o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), da Fundação Getúlio Vargas, divulgado na sexta-feira.

O resultado frustrou os pessimistas e surpreendeu os otimistas e o próprio governo. As previsões, no fim de 1995, eram quase unânimes de que a taxa anualizada ficaria ao redor de 20%.

Alcançou menos da metade dessa cifra, o que se constitui em importante vitória para o País, que não faz muito tempo chegou a acumular 5.000%. O empenho deve ser no sentido de uma redução ainda mais expressiva para 1997, para que o Brasil atinja o mesmo patamar de uma Suíça, de um Japão ou de uma Alemanha.

Mas que essas baixas taxas não venham acompanhadas de indesejáveis sequelas, como a recessão, o desemprego e a paralisia nas atividades econômicas. O País precisa crescer, e muito, a uma taxa mínima média de 4% ao ano, para que possa saldar a mais grave das dívidas que tem: a social.

Outro dado que merece menção (e sobretudo comemoração) é a constatação de que os preços nos hipermercados estão, neste mês, no mesmo patamar dos de julho de 1994, quando da criação do Plano Real. Toda a "gordura" que haviam adquirido na conversão da URV, portanto, acabou sendo "queimada".

A partir de agora, qualquer redução que vier a ocorrer será de fato real, fazendo com que os salários se valorizem, sem a necessidade de reajustes, aumentando o poder de compra dos trabalhadores e, por consequência, o seu padrão de vida.

O IGP-M anualizado de 1996 é a menor taxa já apurada pela FGV desde 1957, quando foi de 2,6%. E poderia ter sido ainda mais baixa, não fossem três "vilões", exatamente os setores mais carentes do País e que devem demandar todas as atenções do governo: Habitação (25,72%), Transportes e comunicação (17,39%) e Saúde e cuidados pessoais (14,44%).

É certo que a tendência do valor do aluguel é decrescente, dada a preponderância da oferta de imóveis sobre a procura nas principais cidades brasileiras. E isso ocorre não por causa do aumento de unidades habitacionais para o trabalhador, mas porque muitas pessoas que há quatro ou cinco anos moravam em casas alugadas, tiveram que se mudar para favelas, por não terem mais condições de pagar.

O governo tem sido extremamente moroso nesse aspecto. Os financiamentos são escassos, em valores aquém dos preços de mercado e as exigências são excessivas. Faltam recursos para bancar moradias às pessoas de baixa renda ou para incentivar outros projetos, do tipo mutirões ou cestas de materiais de construção.

Mas investimentos nessa área, além da relevância social, trazem retorno para o governo, por serem geradores de empregos, aumentando a arrecadação da Previdência Social.

Quanto aos transportes públicos, são caros, insuficientes e de má qualidade. O governo tem grande responsabilidade pelos aumentos verificados nas passagens ao autorizar reajustes dos combustíveis, inclusive o que entra em vigor depois de amanhã. Mas é lícito comemorar esta vitória na luta contra a inflação.

(Editorial número um, publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 30 de dezembro de 1996).

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