Inflação e recessão
Pedro J. Bondaczuk
A inflação brasileira, se
ainda não está vencida, pelo menos está domada, alcançando taxa
acumulada anual de um único dígito em 1996: 9,2%, conforme o Índice
Geral de Preços do Mercado (IGP-M), da Fundação Getúlio Vargas,
divulgado na sexta-feira.
O resultado frustrou os
pessimistas e surpreendeu os otimistas e o próprio governo. As
previsões, no fim de 1995, eram quase unânimes de que a taxa
anualizada ficaria ao redor de 20%.
Alcançou menos da metade
dessa cifra, o que se constitui em importante vitória para o País,
que não faz muito tempo chegou a acumular 5.000%. O empenho deve ser
no sentido de uma redução ainda mais expressiva para 1997, para que
o Brasil atinja o mesmo patamar de uma Suíça, de um Japão ou de
uma Alemanha.
Mas que essas baixas taxas não
venham acompanhadas de indesejáveis sequelas, como a recessão, o
desemprego e a paralisia nas atividades econômicas. O País precisa
crescer, e muito, a uma taxa mínima média de 4% ao ano, para que
possa saldar a mais grave das dívidas que tem: a social.
Outro dado que merece menção
(e sobretudo comemoração) é a constatação de que os preços nos
hipermercados estão, neste mês, no mesmo patamar dos de julho de
1994, quando da criação do Plano Real. Toda a "gordura"
que haviam adquirido na conversão da URV, portanto, acabou sendo
"queimada".
A partir de agora, qualquer
redução que vier a ocorrer será de fato real, fazendo com que os
salários se valorizem, sem a necessidade de reajustes, aumentando o
poder de compra dos trabalhadores e, por consequência, o seu padrão
de vida.
O IGP-M anualizado de 1996 é
a menor taxa já apurada pela FGV desde 1957, quando foi de 2,6%. E
poderia ter sido ainda mais baixa, não fossem três "vilões",
exatamente os setores mais carentes do País e que devem demandar
todas as atenções do governo: Habitação (25,72%), Transportes e
comunicação (17,39%) e Saúde e cuidados pessoais (14,44%).
É certo que a tendência do
valor do aluguel é decrescente, dada a preponderância da oferta de
imóveis sobre a procura nas principais cidades brasileiras. E isso
ocorre não por causa do aumento de unidades habitacionais para o
trabalhador, mas porque muitas pessoas que há quatro ou cinco anos
moravam em casas alugadas, tiveram que se mudar para favelas, por não
terem mais condições de pagar.
O governo tem sido
extremamente moroso nesse aspecto. Os financiamentos são escassos,
em valores aquém dos preços de mercado e as exigências são
excessivas. Faltam recursos para bancar moradias às pessoas de baixa
renda ou para incentivar outros projetos, do tipo mutirões ou cestas
de materiais de construção.
Mas investimentos nessa área,
além da relevância social, trazem retorno para o governo, por serem
geradores de empregos, aumentando a arrecadação da Previdência
Social.
Quanto aos transportes
públicos, são caros, insuficientes e de má qualidade. O governo
tem grande responsabilidade pelos aumentos verificados nas passagens
ao autorizar reajustes dos combustíveis, inclusive o que entra em
vigor depois de amanhã. Mas é lícito comemorar esta vitória na
luta contra a inflação.
(Editorial número um,
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 30 de
dezembro de 1996).
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