Inconformismo salutar
Pedro J. Bondaczuk
O inconformismo é marca
registrada de heróis e santos, de artistas e cientistas, das pessoas
que, de fato, fazem a diferença no mundo. Nem todos concordam. Há
moralistas, por exemplo, que pregam que o conformismo é uma virtude.
Que quando não podemos modificar determinada situação, nitidamente
ruim, devemos nos conformar com ela, nos adaptar e tocar a vida.
Se as coisas fossem assim, o
homem ainda estaria vivendo nas cavernas, se alimentando da caça e
dos frutos que colhia, a mercê do acaso e dos elementos. Claro que
em algumas coisas, que não sejam essenciais, devemos nos conformar,
para sermos felizes. Por exemplo, se não temos riquezas, isso não
deve nos desesperar, desde que tenhamos o suficiente para viver.
Afinal, que valor intrínseco têm essas bugigangas, pelas quais
muitos empenham a vida?
Mas de nada adianta a pessoa
ser criativa, gerar milhões e milhões de ideias e ter uma
infinidade de conhecimentos se mantiver somente para si própria os
frutos do seu privilegiado cérebro. Tudo isso será inútil se não
causar efeitos positivos no mundo. Como todos nós, sem exceções,
esse pensador e criador irá morrer. E se não partilhar com os
outros o que souber, tudo o que sabe irá se perder com sua morte.
Ideias, por melhores que
sejam, só têm valor quando partilhadas. Quando geram efeito
multiplicador, que implique em avanços da coletividade. Quando
projetam sombras, que outros transformem em atos. Conheço muitos
indivíduos bem-dotados mentalmente que enterram seus talentos, por
não saberem como os transformar em dinheiro. Quem age assim comete
um dos maiores pecados que uma pessoa pode cometer: o da omissão.
Saber muito, afinal, é tão importante? Claro que sim!
Muitos espíritos retrógrados
atribuem ao conhecimento todos os problemas que a humanidade enfrenta
na atualidade. Em certos aspectos, não deixam de ter razão. Por
exemplo, o avanço da tecnologia, que resultou na invenção do
automóvel, do avião e de outros meios de locomoção que utilizam o
petróleo como combustível, reduzindo distâncias e “encolhendo”
o mundo, resultou, em pouco mais de um século, numa poluição do
Planeta que 12 mil anos de civilização não haviam produzido.
Só que o “remédio” que
eles receitam é, na verdade, veneno. Defendem o desprezo ao
conhecimento, o que levaria o homem de volta à caverna primitiva. Só
outro conhecimento, mais avançado, poderá resolver este e outros
tantos problemas que a tecnologia gerou.
Vivemos numa época em que as
pessoas têm verdadeira obsessão pelo novo. Palavras como mudança,
modernidade e novidade, entre outras tantas de igual significado,
frequentam, amiúde, todas as conversas e são repetidas bilhões de
vezes, todos os dias, mundo afora. É errado? Depende!
Convém observar que é
rematada tolice, senão estúpido desperdício, desprezar,
liminarmente, tudo o que já existe, se estiver funcionando e
satisfazendo as necessidades das pessoas. Mudanças são importantes,
de fato, mas apenas se forem para melhor, evidentemente. Nem sempre
são.
Não raro, valores
fundamentais são derrubados, apenas por serem “antigos”, sem que
nada de melhor seja criado para substituí-los. O moderno não passa
do velho com roupagem nova. O correto é pensar, sim, em inovação,
mas sem dispensar, sem mais e nem menos, a tradição.
Embora com critério –
conservando o que funciona bem e, se preciso, melhorando-o – temos,
portanto, sempre, que mudar o que requeira mudanças: comportamentos,
atitudes, pensamentos, sentimentos e objetivos, entre outras tantas
coisas. Mas, reitero, sempre em sentido evolutivo, com critério e
com rigorosa análise dos nossos passos.
Mudanças consistentes e
necessárias significam evolução, amadurecimento, sabedoria. Claro
que não podemos sair por aí mudando tudo e todos afoitamente.
Corremos o risco de gerar “Frankensteins”, em vez de belos e
aperfeiçoados espécimes. Mudanças, no entanto, fazem parte da
vida.
A natureza nos muda
diariamente, ora para melhor, ora para pior, mas nos deixando sempre
diferentes do que fomos ontem. Henri Bérgson escreveu o seguinte a
esse respeito: “Para um ser consciente, existir consiste em mudar,
mudar para amadurecer, amadurecer para se criar a si mesmo
indefinidamente”. Devemos nos criar do berço à tumba, sem cessar.
Mas sempre com critério e bom-senso.
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