Wednesday, July 11, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Deflação de setembro


Deflação de setembro


Pedro J. Bondaczuk


O brasileiro convive com um fato inusitado neste mês de setembro: a deflação. Só não se pode dizer que seja inédito, porque o País teve um fenômeno parecido há nove anos, em 1986, na vigência do Plano Cruzado. A diferença é que naquela época, salários e preços estavam congelados e agora não. Todavia, não é a única.

Naquela ocasião, havia uma euforia consumista, o emprego era pleno e as empresas reabriam contratações. Existia esperança. Agora, o que se verifica é exatamente o oposto. As vendas, apesar de ligeira recuperação, continuam baixas, demissões se sucedem --- no comércio, indústria e prestação de serviços --- e o ambiente é de expectativa medrosa quanto ao amanhã, de pessimismo e de medo, em um clima característico de recessão.

Sabia-se que a derrubada da inflação teria um custo, embora não se esperasse que socialmente fosse tão elevado. Por sinal, não eram sacrifícios que Fernando Henrique Cardoso prometia, ao longo de sua vitoriosa campanha presidencial, no ano passado.

Pelo contrário, insinuava-se com a retomada do crescimento econômico, com a ampliação dos empregos e com a ênfase em medidas tendentes a solucionar a grave crise social brasileira, que se agrava à medida em que o tempo passa.

Por isso, fica-se até sem saber se a ocorrência da deflação é um fato para ser comemorado ou lamentado. Esse fenômeno, sempre que ocorre em algum país, é reflexo, em geral, de recessão, que é a última coisa de que o Brasil precisa.

A impressão, que cada vez mais se acentua, é a de que a equipe econômica aplicou o remédio certo a uma economia doente, mas na dosagem inadequada, carregada de exagero. Não previu os efeitos colaterais, que se mostram tão perniciosos (ou mais) do que a doença que se pretendeu curar.

Que vantagem, por exemplo, um trabalhador desempregado leva com a chamada inflação negativa, se não tem renda para adquirir sequer os produtos básicos que necessita para a manutenção da sua família?

Estratégias antiinflacionárias como a adotada pelo atual governo, embora funcionem (como está comprovado) só podem e devem ser desenvolvidas em sociedades em que existam mecanismos de proteção social que, evidentemente, não é o nosso caso.

A economia não é uma ciência exata e as fórmulas existentes não podem ser aplicadas a torto e a direito, sem uma aguçada sensibilidade política. Quando o são, trazem males maiores do que aquele que se pretendeu combater, no caso a inflação.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 20 de setembro de 1995).


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