Deflação de setembro
Pedro J. Bondaczuk
O brasileiro convive com um
fato inusitado neste mês de setembro: a deflação. Só não se pode
dizer que seja inédito, porque o País teve um fenômeno parecido há
nove anos, em 1986, na vigência do Plano Cruzado. A diferença é
que naquela época, salários e preços estavam congelados e agora
não. Todavia, não é a única.
Naquela ocasião, havia uma
euforia consumista, o emprego era pleno e as empresas reabriam
contratações. Existia esperança. Agora, o que se verifica é
exatamente o oposto. As vendas, apesar de ligeira recuperação,
continuam baixas, demissões se sucedem --- no comércio, indústria
e prestação de serviços --- e o ambiente é de expectativa medrosa
quanto ao amanhã, de pessimismo e de medo, em um clima
característico de recessão.
Sabia-se que a derrubada da
inflação teria um custo, embora não se esperasse que socialmente
fosse tão elevado. Por sinal, não eram sacrifícios que Fernando
Henrique Cardoso prometia, ao longo de sua vitoriosa campanha
presidencial, no ano passado.
Pelo contrário, insinuava-se
com a retomada do crescimento econômico, com a ampliação dos
empregos e com a ênfase em medidas tendentes a solucionar a grave
crise social brasileira, que se agrava à medida em que o tempo
passa.
Por isso, fica-se até sem
saber se a ocorrência da deflação é um fato para ser comemorado
ou lamentado. Esse fenômeno, sempre que ocorre em algum país, é
reflexo, em geral, de recessão, que é a última coisa de que o
Brasil precisa.
A impressão, que cada vez
mais se acentua, é a de que a equipe econômica aplicou o remédio
certo a uma economia doente, mas na dosagem inadequada, carregada de
exagero. Não previu os efeitos colaterais, que se mostram tão
perniciosos (ou mais) do que a doença que se pretendeu curar.
Que vantagem, por exemplo, um
trabalhador desempregado leva com a chamada inflação negativa, se
não tem renda para adquirir sequer os produtos básicos que
necessita para a manutenção da sua família?
Estratégias
antiinflacionárias como a adotada pelo atual governo, embora
funcionem (como está comprovado) só podem e devem ser desenvolvidas
em sociedades em que existam mecanismos de proteção social que,
evidentemente, não é o nosso caso.
A economia não é uma ciência
exata e as fórmulas existentes não podem ser aplicadas a torto e a
direito, sem uma aguçada sensibilidade política. Quando o são,
trazem males maiores do que aquele que se pretendeu combater, no caso
a inflação.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 20 de setembro de 1995).
No comments:
Post a Comment