Thursday, July 26, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Os frutos da experiência


Os frutos da experiência

Pedro J. Bondaczuk

A população toda está ansiosa para colher com rapidez os frutos sazonados desta movimentada experiência colocada em prática pelo governo Fernando Collor de Mello na área econômica. Não há ninguém no País que não esteja de pleno acordo com a erradicação total daquele processo inflacionário descontrolado, transtornando por muito tempo a vida de tanta gente. Por sinal, nos últimos tempos, todos os governos procuraram controlar esse fenômeno na medida do possível. No início da década dos anos 60, ao assumir o governo, o então presidente Jânio Quadros, adotando medidas rigorosas de contenção à espiral inflacionária, ameaçou a todos, dizendo abertamente que "a hora era de apertar os cintos".

Logo a seguir, nos anos 70, o então ministro Delfim Netto chegou a anunciar o "milagre econômico" de uma inflação permanente em torno de 13%, porém, de sentido inteiramente artificial. E o que dizer do então ministro Mário Henrique Simonsen, fazendo das tripas coração, tentando segurar a taxa de inflação na casa dos 5% ao mês?

Por outro lado, não se diga ter o governo José Sarney permanecido totalmente omisso à questão. Foram lançados em sua administração quatro planos distintos, todos caindo melancolicamente na vala comum do fracasso. Contou o Plano Cruzado, por exemplo, com o apoio de toda a Nação. Funcionou a contento nos primeiros meses de implantação, todavia, com o correr do tempo, acabou em completo malogro. E no final de seu mandato, desolado, em meio a uma fogueira inflacionária de 70% ao mês, disse de viva voz não ter o seu governo condições e instrumentos para debelar o processo de inflação instaurado no País. Dando uma de Pilatos, nada mais fez que lavar as mãos, desejando apenas boa sorte a seu sucessor.

A verdade é que os brasileiros querem trabalhar e produzir dentro de um sistema de estabilidade econômica. A moeda precisa ter um valor intrínseco como retribuição efetiva. Aliás, como o Hino Nacional ou a nossa bandeira, a moeda deveria também representar um dos símbolos nacionais. Lamentavelmente, há muito tempo perdeu ela consistência. Pretende agora o Banco Central ser um verdadeiro guardião de nossa moeda, dentro de uma preocupação das mais louváveis. Entretanto, a pretensão nesse sentido se nos afigura das mais difíceis, de alcance problemático, não tanto pela ineficiência de dispositivos afins, mas pela formação de mentalidade de nossa gente, pois, o governo gasta sempre mais daquilo que arrecada; o cidadão que vende não se contenta com margens pequenas de lucros, isto até por razões óbvias, enquanto o cidadão que compra, consumista ao exagero, pensa que o mundo vai acabar amanhã.

A estabilidade socioeconômica é desejada por todos. Deixando de lado aspectos negativos do plano, não se pode negar a ele condições para o alcance desse objetivo. Entretanto, o caminho a seguir será um tanto ingrato. É o caso até de se conjeturar se um eventual sucesso será mesmo duradouro. A impressão clara é de que a sociedade e o País, ambos a um só tempo, não se encontravam suficientemente preparados para receber e assimilar as novas regras de comportamento, apesar do projeto governamental reunir muito "engenho e arte", daí ter o Congresso Nacional enorme responsabilidade na conversão das propostas em lei.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 29 de março de 1990)



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