Os frutos da experiência
Pedro J. Bondaczuk
A população toda está
ansiosa para colher com rapidez os frutos sazonados desta movimentada
experiência colocada em prática pelo governo Fernando Collor de
Mello na área econômica. Não há ninguém no País que não esteja
de pleno acordo com a erradicação total daquele processo
inflacionário descontrolado, transtornando por muito tempo a vida de
tanta gente. Por sinal, nos últimos tempos, todos os governos
procuraram controlar esse fenômeno na medida do possível. No início
da década dos anos 60, ao assumir o governo, o então presidente
Jânio Quadros, adotando medidas rigorosas de contenção à espiral
inflacionária, ameaçou a todos, dizendo abertamente que "a
hora era de apertar os cintos".
Logo a seguir, nos anos 70, o
então ministro Delfim Netto chegou a anunciar o "milagre
econômico" de uma inflação permanente em torno de 13%, porém,
de sentido inteiramente artificial. E o que dizer do então ministro
Mário Henrique Simonsen, fazendo das tripas coração, tentando
segurar a taxa de inflação na casa dos 5% ao mês?
Por outro lado, não se diga
ter o governo José Sarney permanecido totalmente omisso à questão.
Foram lançados em sua administração quatro planos distintos, todos
caindo melancolicamente na vala comum do fracasso. Contou o Plano
Cruzado, por exemplo, com o apoio de toda a Nação. Funcionou a
contento nos primeiros meses de implantação, todavia, com o correr
do tempo, acabou em completo malogro. E no final de seu mandato,
desolado, em meio a uma fogueira inflacionária de 70% ao mês, disse
de viva voz não ter o seu governo condições e instrumentos para
debelar o processo de inflação instaurado no País. Dando uma de
Pilatos, nada mais fez que lavar as mãos, desejando apenas boa sorte
a seu sucessor.
A verdade é que os
brasileiros querem trabalhar e produzir dentro de um sistema de
estabilidade econômica. A moeda precisa ter um valor intrínseco
como retribuição efetiva. Aliás, como o Hino Nacional ou a nossa
bandeira, a moeda deveria também representar um dos símbolos
nacionais. Lamentavelmente, há muito tempo perdeu ela consistência.
Pretende agora o Banco Central ser um verdadeiro guardião de nossa
moeda, dentro de uma preocupação das mais louváveis. Entretanto, a
pretensão nesse sentido se nos afigura das mais difíceis, de
alcance problemático, não tanto pela ineficiência de dispositivos
afins, mas pela formação de mentalidade de nossa gente, pois, o
governo gasta sempre mais daquilo que arrecada; o cidadão que vende
não se contenta com margens pequenas de lucros, isto até por razões
óbvias, enquanto o cidadão que compra, consumista ao exagero, pensa
que o mundo vai acabar amanhã.
A estabilidade socioeconômica
é desejada por todos. Deixando de lado aspectos negativos do plano,
não se pode negar a ele condições para o alcance desse objetivo.
Entretanto, o caminho a seguir será um tanto ingrato. É o caso até
de se conjeturar se um eventual sucesso será mesmo duradouro. A
impressão clara é de que a sociedade e o País, ambos a um só
tempo, não se encontravam suficientemente preparados para receber e
assimilar as novas regras de comportamento, apesar do projeto
governamental reunir muito "engenho e arte", daí ter o
Congresso Nacional enorme responsabilidade na conversão das
propostas em lei.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 29 de março de 1990)
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