Um plano tipo Marshall para a América Latina
Pedro
J. Bondaczuk
As consequências
políticas e, especialmente, as sociais causadas pela virtual insolvência dos
países latino-americanos, começam a despontar, aqui e ali, ameaçando o
continente com uma convulsão incontrolável, se em pouco tempo não for
encontrada uma solução para o problema do endividamento externo. No mês passado
foram os dominicanos que se insurgiram contra o plano de austeridade proposto
(ou imposto?) pelo FMI. Consequência: um número oficial de 94 mortos, além de
grande quantidade de feridos e prejuízos materiais incalculáveis.
Durante a semana a
Bolívia esteve sob insuportável tensão, até que seu governo tomou a decisão de
não pagar seus débitos externos deste ano. Chile, Equador, Peru, Venezuela e
Argentina são outros países em que a economia está na ordem do dia, com
profundos reflexos políticos e indisfarçável tensão social.
Os argentinos, por
exemplo, desafiam abertamente o sistema financeiro internacional, num titânico
braço-de-ferro, em que tudo leva a crer que o governo de Raul Alfonsin levará a
pior. Às vésperas da reunião dos 11 endividados da América Latina, na cidade
colombiana de Cartagena, há um visível clima de perplexidade em todo o
continente. Os países devedores vêm registrando recordes e mais recordes de
queda do Produto Interno Bruto (PIB), com recessão, desemprego, e falta de
perspectivas numa região em que a taxa de natalidade é uma das mais altas do
mundo. A cada dia que passa, mais o problema se agrava, pois a “cegonha” não
espera que os tecnocratas consigam efetuar os ajustes econômicos exigidos pelos
banqueiros. Existe um célebre aforismo que diz: “Da desordem das coisas, vem a
desordem das idéias”. E da desorganização da vida nacional dos países do
continente só se pode esperar desagregação social, indesejáveis confrontos de
classe e, finalmente, o caos.
Se houver bom senso,
por mínimo que seja, por parte dos países industrializados, será criado, mais
cedo ou mais tarde, algo semelhante ao Plano Marshall, isto é, um programa de
reconstrução continental, semelhante ao que os EUA implantaram na Europa após a
Segunda Guerra Mundial. Se os europeus obtiveram, em curto período de tempo,
sua recuperação, por que nós também não conseguiríamos?! Caso contrário, os
ricos estarão mandando para a panela a galinha dos ovos de ouro, fonte
inesgotável, até aqui, da sua imensa riqueza.
(Artigo publicado na Editoria
Internacional, do Correio Popular, em 20 de junho de 1984).
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