Saturday, January 09, 2016

Um plano tipo Marshall para a América Latina

Pedro J. Bondaczuk

As consequências políticas e, especialmente, as sociais causadas pela virtual insolvência dos países latino-americanos, começam a despontar, aqui e ali, ameaçando o continente com uma convulsão incontrolável, se em pouco tempo não for encontrada uma solução para o problema do endividamento externo. No mês passado foram os dominicanos que se insurgiram contra o plano de austeridade proposto (ou imposto?) pelo FMI. Consequência: um número oficial de 94 mortos, além de grande quantidade de feridos e prejuízos materiais incalculáveis.

Durante a semana a Bolívia esteve sob insuportável tensão, até que seu governo tomou a decisão de não pagar seus débitos externos deste ano. Chile, Equador, Peru, Venezuela e Argentina são outros países em que a economia está na ordem do dia, com profundos reflexos políticos e indisfarçável tensão social.

Os argentinos, por exemplo, desafiam abertamente o sistema financeiro internacional, num titânico braço-de-ferro, em que tudo leva a crer que o governo de Raul Alfonsin levará a pior. Às vésperas da reunião dos 11 endividados da América Latina, na cidade colombiana de Cartagena, há um visível clima de perplexidade em todo o continente. Os países devedores vêm registrando recordes e mais recordes de queda do Produto Interno Bruto (PIB), com recessão, desemprego, e falta de perspectivas numa região em que a taxa de natalidade é uma das mais altas do mundo. A cada dia que passa, mais o problema se agrava, pois a “cegonha” não espera que os tecnocratas consigam efetuar os ajustes econômicos exigidos pelos banqueiros. Existe um célebre aforismo que diz: “Da desordem das coisas, vem a desordem das idéias”. E da desorganização da vida nacional dos países do continente só se pode esperar desagregação social, indesejáveis confrontos de classe e, finalmente, o caos.

Se houver bom senso, por mínimo que seja, por parte dos países industrializados, será criado, mais cedo ou mais tarde, algo semelhante ao Plano Marshall, isto é, um programa de reconstrução continental, semelhante ao que os EUA implantaram na Europa após a Segunda Guerra Mundial. Se os europeus obtiveram, em curto período de tempo, sua recuperação, por que nós também não conseguiríamos?! Caso contrário, os ricos estarão mandando para a panela a galinha dos ovos de ouro, fonte inesgotável, até aqui, da sua imensa riqueza.


(Artigo publicado na Editoria Internacional, do Correio Popular, em 20 de junho de 1984).

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