O mistério da vida
Pedro
J. Bondaczuk
A vida é um mistério!
Para mim, esta é uma afirmação acaciana, de tão óbvia, embora, invariavelmente,
quando trago o assunto à baila e afirmo isso com tamanha convicção, sou
contestado por muitos (com argumentos ou sem eles), que julgam entendê-la. Será
que entendem mesmo? É muita presunção! Não sou dono da verdade (que, aliás, não
tem donos e que é conceito tão ambíguo que comporta infinidade de
significados), mas é a certeza que tenho. Como a vida surgiu? Restringe-se,
apenas, a este planeta específico em que vivemos? Está espalhada universo
afora? Onde? Caso a resposta seja positiva (o que ninguém jamais comprovou e
talvez nunca possa comprovar), de que forma ela se apresenta? Afinal, aqui na
Terra, há bilhões de seres vivos diferentes uns dos outros. Alhures, a
probabilidade seria que as diferenças beirassem o infinito.
Cientistas afirmam (sem
qualquer base concreta) não haver lógica alguma caso a vida seja restrita,
exclusivamente, “apenas” (e perdoem a redundância) à Terra. Mas... quem disse
que o universo é lógico, pelo menos da forma como entendemos esse conceito? A
dúvida é a salvaguarda do homem racional, que requer um mínimo de comprovação
para dar qualquer coisa como “favas contadas”. Reduzamos, porém, nosso
questionamento, ou nossas conjecturas como queiram, a um bilionésimo (quiçá
trilionésimo) das espécies vivas que povoam a Terra: à nossa, dos humanos.
Nossa vida tem alguma
lógica, algum sentido, alguma finalidade, ou nós é que “procuramos” algum (ou
alguns) e nos aferramos a ele (ou a
eles), como se fosse (ou fossem) a mais lídima expressão da verdade? É movida
por nossa vontade, posto que não exclusivamente por ela, ou está por conta,
apenas, do acaso? Até concordo que o tema não seja nada prático, que não vá,
por exemplo, baixar a cotação do dólar, mas, convenhamos, é magnífico assunto
para reflexão, para exercitarmos o que temos de mais característico e nobre e
que nos diferencia dos outros seres vivos: o raciocínio. Muitos não gostam
quando faço citações e interpretam-nas (não sei baseados no que), como mera
manifestação de pedantismo da minha parte. Rebato e afirmo que tais insinuações
são no mínimo “burras” (e me perdoem a deselegância). Ademais, quem não gostar
desse meu procedimento está liberado de continuar lendo estas reflexões, combinado?
Pesquisei em minha
biblioteca livros de alguns de meus autores favoritos e topei com opiniões um
tanto convergentes sobre a questão da vida humana. Claro que não concordo (e
nem discordo) liminarmente com todas elas, mas juro que reflito atentamente a
respeito. Afinal, esta é uma das finalidades (não sei se a principal) da
Literatura: a de nos induzir ao raciocínio. O colombiano Gabriel Garcia Marquez
(saudoso Gabo!), observou certa feita, por exemplo: “A vida de uma pessoa não é
o que lhe acontece, mas aquilo que recorda e a maneira como o recorda”. Não
tenho como discordar. Como também não discordo disso que o português Vergílio
Ferreira escreveu: “A nossa vida é toda ela feita de acasos. Mas é o que em nós
há de necessário que lhes há de dar um sentido”.Afinal, não escolhemos a época
e nem o país em que nascemos, muito menos a classe social em que estaremos
inseridos e sequer quais serão nossos pais. Todo esse “pacote” já vem prontinho
e fechado quando do nosso nascimento. Ou não?
Oscar Wilde, porém,
entendia que temos, sim, certa margem de escolha. Será? Porém, não a
quantificou. Escreveu a propósito: “Há momentos em que é preciso escolher entre
viver a sua própria vida plenamente, inteiramente, completamente, ou assumir a
existência degradante, ignóbil e falsa que o mundo, na sua hipocrisia, nos
impõe”. Albert Camus, por sua vez, entendia que a descoberta de um sentido para
nossa existência poderia ser, de fato, um mal, e não o bem que supomos;
Declarou: “Antes, a questão era descobrir se a vida precisava ter algum significado para ser vivida. Agora,
ao contrário, ficou evidente que ela será vivida melhor se não tiver
significado”. Desconfio que esteja com a razão, posto não ter certeza.
José Saramago – o único
escritor de língua portuguesa a ser premiado com um Nobel de Literatura –
chegou a uma constatação que entendo
acaciana, de tão óbvia, posto que muitos e muitos e muitos não se dêem
conta. Escreveu: “A vida, que parece uma
linha reta, não o é. Construímos a nossa vida só nuns cinco por cento, o resto
é feito pelos outros, porque vivemos com os outros e às vezes contra os outros.
Mas essa pequena percentagem, esses cinco por cento, é o resultado da
sinceridade consigo mesmo”. A menos que me provem o contrário, estou convicto
que nosso sucesso e nosso fracasso estão, em grande parte (talvez em 90% ou
mais) em mãos alheias. Mas... não posso jurar....
Finalmente, para não
maçá-los além da conta, reproduzo a visão de Florbela Espanca a propósito. Ela
soa, é verdade, sumamente pessimista, em se tratando de uma poetisa. Escreveu,
em uma de suas tantas cartas: “A vida é apenas isto: um encadeamento de acasos
bons e maus, encadeamento sem lógica, nem razão; é preciso a gente olhá-la de
frente com coragem e pensar, mas sem desfalecimentos, que a nossa hora há de
vir, que a gente há de ter um dia em que há de poder dormir, e não ouvir, não
ver, não compreender nada”..
Todavia, para não
encerrar estas descompromissadas reflexões em tom pessimista (o que estou longe
de ser), reproduzo a confissão feita por George Bernanos, que expressou, “ipsis
literis”, minha posição a respeito. O ilustre escritor e jornalista francês
declarou: “Se pudesse recomeçar a vida, eu procuraria fazer meus sonhos ainda
mais grandiosos, porque a vida é infinitamente mais bela e maior do que eu
pensava, mesmo em sonhos”. Todavia... é insondável mistério, como tudo o que
nos cerca, em um universo absurdamente imenso (infinito?), turbulento,
dinâmico, aparentemente caótico e... inexplicável.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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