Thursday, January 21, 2016

O mistério da vida


Pedro J. Bondaczuk

A vida é um mistério! Para mim, esta é uma afirmação acaciana, de tão óbvia, embora, invariavelmente, quando trago o assunto à baila e afirmo isso com tamanha convicção, sou contestado por muitos (com argumentos ou sem eles), que julgam entendê-la. Será que entendem mesmo? É muita presunção! Não sou dono da verdade (que, aliás, não tem donos e que é conceito tão ambíguo que comporta infinidade de significados), mas é a certeza que tenho. Como a vida surgiu? Restringe-se, apenas, a este planeta específico em que vivemos? Está espalhada universo afora? Onde? Caso a resposta seja positiva (o que ninguém jamais comprovou e talvez nunca possa comprovar), de que forma ela se apresenta? Afinal, aqui na Terra, há bilhões de seres vivos diferentes uns dos outros. Alhures, a probabilidade seria que as diferenças beirassem o infinito.

Cientistas afirmam (sem qualquer base concreta) não haver lógica alguma caso a vida seja restrita, exclusivamente, “apenas” (e perdoem a redundância) à Terra. Mas... quem disse que o universo é lógico, pelo menos da forma como entendemos esse conceito? A dúvida é a salvaguarda do homem racional, que requer um mínimo de comprovação para dar qualquer coisa como “favas contadas”. Reduzamos, porém, nosso questionamento, ou nossas conjecturas como queiram, a um bilionésimo (quiçá trilionésimo) das espécies vivas que povoam a Terra: à nossa, dos humanos.

Nossa vida tem alguma lógica, algum sentido, alguma finalidade, ou nós é que “procuramos” algum (ou alguns)  e nos aferramos a ele (ou a eles), como se fosse (ou fossem) a mais lídima expressão da verdade? É movida por nossa vontade, posto que não exclusivamente por ela, ou está por conta, apenas, do acaso? Até concordo que o tema não seja nada prático, que não vá, por exemplo, baixar a cotação do dólar, mas, convenhamos, é magnífico assunto para reflexão, para exercitarmos o que temos de mais característico e nobre e que nos diferencia dos outros seres vivos: o raciocínio. Muitos não gostam quando faço citações e interpretam-nas (não sei baseados no que), como mera manifestação de pedantismo da minha parte. Rebato e afirmo que tais insinuações são no mínimo “burras” (e me perdoem a deselegância). Ademais, quem não gostar desse meu procedimento está liberado de continuar lendo estas reflexões, combinado?

Pesquisei em minha biblioteca livros de alguns de meus autores favoritos e topei com opiniões um tanto convergentes sobre a questão da vida humana. Claro que não concordo (e nem discordo) liminarmente com todas elas, mas juro que reflito atentamente a respeito. Afinal, esta é uma das finalidades (não sei se a principal) da Literatura: a de nos induzir ao raciocínio. O colombiano Gabriel Garcia Marquez (saudoso Gabo!), observou certa feita, por exemplo: “A vida de uma pessoa não é o que lhe acontece, mas aquilo que recorda e a maneira como o recorda”. Não tenho como discordar. Como também não discordo disso que o português Vergílio Ferreira escreveu: “A nossa vida é toda ela feita de acasos. Mas é o que em nós há de necessário que lhes há de dar um sentido”.Afinal, não escolhemos a época e nem o país em que nascemos, muito menos a classe social em que estaremos inseridos e sequer quais serão nossos pais. Todo esse “pacote” já vem prontinho e fechado quando do nosso nascimento. Ou não?

Oscar Wilde, porém, entendia que temos, sim, certa margem de escolha. Será? Porém, não a quantificou. Escreveu a propósito: “Há momentos em que é preciso escolher entre viver a sua própria vida plenamente, inteiramente, completamente, ou assumir a existência degradante, ignóbil e falsa que o mundo, na sua hipocrisia, nos impõe”. Albert Camus, por sua vez, entendia que a descoberta de um sentido para nossa existência poderia ser, de fato, um mal, e não o bem que supomos; Declarou: “Antes, a questão era descobrir se a vida precisava  ter algum significado para ser vivida. Agora, ao contrário, ficou evidente que ela será vivida melhor se não tiver significado”. Desconfio que esteja com a razão, posto não ter certeza.

José Saramago – o único escritor de língua portuguesa a ser premiado com um Nobel de Literatura – chegou a uma constatação que entendo  acaciana, de tão óbvia, posto que muitos e muitos e muitos não se dêem conta. Escreveu:  “A vida, que parece uma linha reta, não o é. Construímos a nossa vida só nuns cinco por cento, o resto é feito pelos outros, porque vivemos com os outros e às vezes contra os outros. Mas essa pequena percentagem, esses cinco por cento, é o resultado da sinceridade consigo mesmo”. A menos que me provem o contrário, estou convicto que nosso sucesso e nosso fracasso estão, em grande parte (talvez em 90% ou mais) em mãos alheias. Mas... não posso jurar....

Finalmente, para não maçá-los além da conta, reproduzo a visão de Florbela Espanca a propósito. Ela soa, é verdade, sumamente pessimista, em se tratando de uma poetisa. Escreveu, em uma de suas tantas cartas: “A vida é apenas isto: um encadeamento de acasos bons e maus, encadeamento sem lógica, nem razão; é preciso a gente olhá-la de frente com coragem e pensar, mas sem desfalecimentos, que a nossa hora há de vir, que a gente há de ter um dia em que há de poder dormir, e não ouvir, não ver, não compreender nada”..

Todavia, para não encerrar estas descompromissadas reflexões em tom pessimista (o que estou longe de ser), reproduzo a confissão feita por George Bernanos, que expressou, “ipsis literis”, minha posição a respeito. O ilustre escritor e jornalista francês declarou: “Se pudesse recomeçar a vida, eu procuraria fazer meus sonhos ainda mais grandiosos, porque a vida é infinitamente mais bela e maior do que eu pensava, mesmo em sonhos”. Todavia... é insondável mistério, como tudo o que nos cerca, em um universo absurdamente imenso (infinito?), turbulento, dinâmico, aparentemente caótico e... inexplicável.


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