Saturday, January 30, 2016

Novo comando



Pedro J. Bondaczuk


A segurança volta a ser a preocupação número um da população do Estado de São Paulo, conforme mostram recentes pesquisas, superando problemas (tanto ou mais angustiantes para o brasileiro), como o desemprego, a saúde, a inadimplência e outros que sequer precisam ser citados.

Esse quadro agravou-se ainda mais nos últimos dias, com a participação de policiais militares em seqüestros de crianças. Isso é intolerável para a opinião pública, que por isso intensificou a cobrança junto às autoridades (e com razão), para que fatos lamentáveis como esses nunca mais se repitam e os criminosos sejam exemplarmente punidos.

Um desses casos foi mais grave, por ter sido seguido de morte e por haver ocorrido perto de nós, aqui na Capital, bem ao lado de Campinas. Foi o do menino Yves Ota, de oito anos, morto com dois tiros no rosto e enterrado no quarto da casa de um dos seqüestradores (ex-informante da polícia), que mesmo tendo assassinado seu indefeso refém, exigiam resgate da família.

O outro episódio, embora ocorrido em Brasília, pôs mais lenha na fogueira, pelo envolvimento de um tenente da PM, com possibilidades de outros integrantes da corporação terem participado do ato criminoso. Foi o seqüestro da menina Cleucy, de 12 anos, filha do empresário e deputado distrital de Brasília, Luiz Estêvão.

A publicidade negativa desses dois casos certamente pesou na balança para o governador Mário Covas decidir demitir o comandante-geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo, coronel Claudionor Lisboa, e substituí-lo por um oficial com fama de disciplinador, embora partidário do óbvio em relação a qualquer problema (e mais ainda quando se trata de segurança), ou seja, a prevenção: coronel Carlos Alberto de Camargo.

A definição das candidaturas para as eleições do ano que vem pesou, certamente, e muito, na balança para que ocorresse essa alteração. Desde o episódio da Favela Naval de Diadema, em fins de março passado, a PM vinha sendo duramente criticada por causa da indisciplina de vários de seus membros, que exorbitavam do poder e descambavam inclusive para a marginalidade, extorquindo, torturando e matando cidadãos aos quais juraram defender.

Ninguém está generalizando e nem se poderia. A maioria dos integrantes da corporação é séria, abnegada e competente. Mas para o público, as "maçãs podres" são as que aparecem. A maior parte das críticas era a de que a PM carecia de uma liderança firme, que fizesse seus integrantes andarem na linha, dentro das rígidas normas disciplinares dos militares.

O governador, na oportunidade em que o caso da Favela Naval ganhou as manchetes, prestigiou Lisboa, resistindo a todas as pressões para que efetivasse, já naquela ocasião, a mudança que ocorre agora.

Como bom político, no entanto, Covas teve que se curvar aos críticos. Até porque, seus prováveis adversários na corrida sucessória, o pepebista ex-prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, e o peemedebista Orestes Quércia, certamente vão bater muito nesta tecla durante a campanha. Aliás, já estão batendo e conquistando preciosos pontinhos nas pesquisas.

Espera-se, no entanto, que a mudança no comando não implique apenas em troca de nomes. A expectativa é que toda a filosofia de segurança mude, e para muito melhor.

Diz-se que Camargo é mais policial do que militar. Goza de inegável prestígio junto à tropa e é reconhecido como emérito disciplinador. Tem, portanto, todos os requisitos para se sair bem em mais essa missão (espinhosa, convenhamos): a de reduzir a criminalidade, que atinge índices alarmantes e absolutamente intoleráveis no Estado. Tomara que tenha sucesso.


(Texto escrito em 14 de setembro de 1997 e publicado como editorial na Folha do Taquaral).

Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk 

No comments: