Novo
comando
Pedro J. Bondaczuk
A segurança volta a ser a preocupação número um da
população do Estado de São Paulo, conforme mostram recentes pesquisas,
superando problemas (tanto ou mais angustiantes para o brasileiro), como o
desemprego, a saúde, a inadimplência e outros que sequer precisam ser citados.
Esse quadro agravou-se ainda mais nos últimos dias,
com a participação de policiais militares em seqüestros de crianças. Isso é
intolerável para a opinião pública, que por isso intensificou a cobrança junto
às autoridades (e com razão), para que fatos lamentáveis como esses nunca mais
se repitam e os criminosos sejam exemplarmente punidos.
Um desses casos foi mais grave, por ter sido seguido
de morte e por haver ocorrido perto de nós, aqui na Capital, bem ao lado de
Campinas. Foi o do menino Yves Ota, de oito anos, morto com dois tiros no rosto
e enterrado no quarto da casa de um dos seqüestradores (ex-informante da
polícia), que mesmo tendo assassinado seu indefeso refém, exigiam resgate da
família.
O outro episódio, embora ocorrido em Brasília, pôs
mais lenha na fogueira, pelo envolvimento de um tenente da PM, com
possibilidades de outros integrantes da corporação terem participado do ato
criminoso. Foi o seqüestro da menina Cleucy, de 12 anos, filha do empresário e
deputado distrital de Brasília, Luiz Estêvão.
A publicidade negativa desses dois casos certamente
pesou na balança para o governador Mário Covas decidir demitir o
comandante-geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo, coronel Claudionor
Lisboa, e substituí-lo por um oficial com fama de disciplinador, embora
partidário do óbvio em relação a qualquer problema (e mais ainda quando se
trata de segurança), ou seja, a prevenção: coronel Carlos Alberto de Camargo.
A definição das candidaturas para as eleições do ano
que vem pesou, certamente, e muito, na balança para que ocorresse essa
alteração. Desde o episódio da Favela Naval de Diadema, em fins de março
passado, a PM vinha sendo duramente criticada por causa da indisciplina de
vários de seus membros, que exorbitavam do poder e descambavam inclusive para a
marginalidade, extorquindo, torturando e matando cidadãos aos quais juraram
defender.
Ninguém está generalizando e nem se poderia. A
maioria dos integrantes da corporação é séria, abnegada e competente. Mas para
o público, as "maçãs podres" são as que aparecem. A maior parte das
críticas era a de que a PM carecia de uma liderança firme, que fizesse seus
integrantes andarem na linha, dentro das rígidas normas disciplinares dos
militares.
O governador, na oportunidade em que o caso da
Favela Naval ganhou as manchetes, prestigiou Lisboa, resistindo a todas as
pressões para que efetivasse, já naquela ocasião, a mudança que ocorre agora.
Como bom político, no entanto, Covas teve que se
curvar aos críticos. Até porque, seus prováveis adversários na corrida
sucessória, o pepebista ex-prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, e o peemedebista
Orestes Quércia, certamente vão bater muito nesta tecla durante a campanha.
Aliás, já estão batendo e conquistando preciosos pontinhos nas pesquisas.
Espera-se, no entanto, que a mudança no comando não
implique apenas em troca de nomes. A expectativa é que toda a filosofia de
segurança mude, e para muito melhor.
Diz-se que Camargo é mais policial do que militar.
Goza de inegável prestígio junto à tropa e é reconhecido como emérito
disciplinador. Tem, portanto, todos os requisitos para se sair bem em mais essa
missão (espinhosa, convenhamos): a de reduzir a criminalidade, que atinge
índices alarmantes e absolutamente intoleráveis no Estado. Tomara que tenha
sucesso.
(Texto escrito em 14 de setembro de 1997 e publicado
como editorial na Folha do Taquaral).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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