Saboreando
duplamente a vida
Pedro J. Bondaczuk
O escritor, não importa o gênero
que utilize para expor sua criação, é, sobretudo, o cronista do seu tempo. Não,
amigo leitor, não estou sendo repetitivo, embora tenha escrito essa mesma coisa
“n” vezes. Estou sendo “reiterativo”, o que comporta certa diferença, posto que
sutil. Há conceitos que devem ser repetidos e repetidos e repetidos vezes sem
conta para que se fixem na mente nas pessoas. Este é um deles. O escritor
retrata comportamentos, gostos, cenários, personagens etc. do período em que
viveu, o que é importantíssimo para as futuras gerações.. Por mais que sua obra
tenha caráter ficcional, reflete a realidade de determinada época e lugar: os
que ele testemunhou.
Escrever e partilhar os textos
com milhares, milhões de pessoas que não se conhece, é um ato de generosidade.
Ainda mais quando essa partilha é espontânea, gratuita e, portanto, sem nenhum
custo, como muitos escritores fazem utilizando esse instrumento fantástico
(quando usado com critério, responsabilidade e sabedoria) que é a
internet.Gosto de, a cada dia, visitar os blogs de alguns escritores com os
quais tenho afinidade e usufruir das idéias e reflexões que eles, generosamente,
partilham comigo, além de suas experiências, não raro sem saberem, sequer, que
existo. Claro que temos que ser seletivos. A rede mundial tem de tudo. Tem
inclusive uma enxurrada de tolices e de idéias, digamos, “perniciosas”, para
dizer o mínimo, quando não destrutivas. Mas não se pode generalizar o que,
ademais, é uma burrice. Há muita coisa que nos engrandece e instrui e doada,
por muitos, graciosamente, de forma generosa e nobre.
Há quem interprete esse exercício
de escrita como mera vaidade. Até pode ser. Mas... que mal há no fato do
escritor querer ser minimamente reconhecido? É preciso atentar que ele encara
um trabalho “braçal” na elaboração das suas crônicas, contos, romances, poemas
etc. Lê, pesquisa, estuda, medita e, finalmente, escreve. Seus textos não
brotam do nada, como num súbito passe de magia. Mais generoso, ainda, é aquele
que vive desse ofício e que, ainda assim, reserva parte do seu tempo, em que
poderia estar ganhando dinheiro, para escrever de graça, ofertando o sumo do
seu pensamento, o licor da sua emoção, a magia do seu talento e criatividade a
pessoas que não conhece e dificilmente irá conhecer. E de graça.
Toda leitura, porém, desde que
feita com critério e sabedoria, é importante, e por várias razões, que sequer é
necessário mencionar, de tão óbvias que são. Há quem seja refratário, por
exemplo, aos clássicos, achando que são ultrapassados e que nada têm a aprender
com eles. Tremendo equívoco! É um preconceito tolo, incompatível com pessoas
inteligentes que buscam sabedoria. Na leitura dos clássicos, por exemplo,
observamos (entre tantas outras coisas) o quanto os costumes mudam, a moral se
altera e as expectativas oscilam ao longo do tempo. Todavia, as características
básicas do único animal da natureza que tem a faculdade de pensar permanecem
com o passar dos anos, das décadas, dos séculos e dos milênios: o egoísmo, a
ganância, a falta de solidariedade, a vaidade, a corrupção etc.etc.etc.
Quem quiser fazer rigoroso estudo
do comportamento de determinada sociedade, portanto, a par de livros
específicos sobre o assunto, tem que ler, necessariamente, poemas, contos,
romances, novelas e peças teatrais do período que pretender estudar. A
Literatura, como se vê, está muito longe de ser, apenas, uma forma de
entretenimento, como outra qualquer, como muitos, aliás (talvez a maioria)
ainda pensam. A verdadeira história de um povo não é a narrada por seus
historiadores, mas a descrita pelos seus ficcionistas.
Anais Nin descreveu com precisão
qual é a principal função dos que escrevem livros: “O papel de um escritor não
é dizer aquilo que todos são capazes de dizer, mas sim aquilo que não somos
capazes de dizer” Como se vê, a
Literatura é muito mais importante, e prática, do que a maioria supõe. Para
quem não se lembra, ou não sabe, informo que Anais Nin foi uma escritora
francesa do século passado, falecida em 1977, filha do ilustre compositor
cubano Joaquim Nin. É dela, também, a observação de que “escrevemos para
saborear a vida duas vezes: no momento e em retrospectiva”. Esta é, segundo
entendo, uma das recompensas, creio que a principal, dos escritores. Pense
nisso, caríssimo leitor.
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