Tuesday, January 05, 2016

Até quando?


Pedro J. Bondaczuk


A economia brasileira, desde o início do Plano Real, segue uma trajetória comparável à de um doente ciclotímico: alterna períodos de euforia com os de depressão (mais esta do que aquela). A um simples reaquecimento --- em geral ditado por fatores sazonais ou fortuitos --- das vendas, a equipe econômica do governo se apavora, temendo uma corrida ao consumo, e fecha as torneiras do crédito. Mas não regula o fechamento e restringe demais.

De imediato, as atividades congelam-se. O perigo de uma explosão de consumo, como a que caracterizou os primeiros dias do Plano Real, porém, está fora de questão, já que o poder aquisitivo do brasileiro, de lá para cá, permaneceu estagnado, e a inflação, embora em patamares baixos para os nossos padrões, continuou crescendo.

A cada aperto, as taxas de desemprego crescem mais --- nunca deixaram de crescer nos últimos dois anos --- e mais pessoas se vêem em dificuldades. Caem na inadimplência, por ficarem sem fonte alguma de renda. Passam a ser assediadas, em conseqüência, por cobradores, ou acabam despejadas de seus imóveis, agravando a crise social.

É verdade que o controle da inflação possibilitou à população de baixa renda ter relativo acesso ao consumo, notadamente de alimentos. Isto ocorreu, no entanto, com aqueles que conservaram o emprego. Porque a maioria das demissões ocorreu nessa faixa de mão de obra não qualificada.

Parcela considerável de trabalhadores não tem carteira assinada. Desse enorme contingente, não é poss¡vel saber quantos estão empregados e quantos não. O que se tem são estimativas, ao sabor de quem as faz. Ou nem mesmo isso. Observando os números disponíveis sobre desemprego, chega-se à conclusão que as taxas não são altas, comparadas com as de outros países, como a vizinha Argentina, onde 17,1% da População Economicamente Ativa estão desempregados, e muito menos alarmantes.

Mas estas detectam a minoria da mão de obra do País. A maioria não aparece nas estatísticas. Não é protegida por leis trabalhistas, por falta de registro. Em maio passado, o mercado começou a retomar um tímido otimismo sobre um eventual reaquecimento, notadamente no comércio, face um ligeiro aumento das vendas, ditado por uma discreta ampliação do crédito ao consumo.

A alegria --- muito longe da euforia --- durou só um mês. Em junho, os negócios tornaram a cair, a inadimplência aumentou e o desemprego cresceu. E de crise em crise, o brasileiro vai tocando sua sofrida vida, alimentado apenas pela esperança de dias melhores, que teimam em não chegar, e pelo seu alto poder de adaptação a situações críticas. A pergunta que se impõe é: até quando?


(Artigo publicado na página 3, Opinião, do Correio Popular, em 2 de agosto de 1996)

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