Até quando?
Pedro J. Bondaczuk
A
economia brasileira, desde o início do Plano Real, segue uma trajetória
comparável à de um doente ciclotímico: alterna períodos de euforia com os de
depressão (mais esta do que aquela). A um simples reaquecimento --- em geral
ditado por fatores sazonais ou fortuitos --- das vendas, a equipe econômica do
governo se apavora, temendo uma corrida ao consumo, e fecha as torneiras do
crédito. Mas não regula o fechamento e restringe demais.
De
imediato, as atividades congelam-se. O perigo de uma explosão de consumo, como
a que caracterizou os primeiros dias do Plano Real, porém, está fora de
questão, já que o poder aquisitivo do brasileiro, de lá para cá, permaneceu
estagnado, e a inflação, embora em patamares baixos para os nossos padrões,
continuou crescendo.
A
cada aperto, as taxas de desemprego crescem mais --- nunca deixaram de crescer
nos últimos dois anos --- e mais pessoas se vêem em dificuldades. Caem na
inadimplência, por ficarem sem fonte alguma de renda. Passam a ser assediadas,
em conseqüência, por cobradores, ou acabam despejadas de seus imóveis,
agravando a crise social.
É
verdade que o controle da inflação possibilitou à população de baixa renda ter
relativo acesso ao consumo, notadamente de alimentos. Isto ocorreu, no entanto,
com aqueles que conservaram o emprego. Porque a maioria das demissões ocorreu
nessa faixa de mão de obra não qualificada.
Parcela
considerável de trabalhadores não tem carteira assinada. Desse enorme
contingente, não é poss¡vel saber quantos estão empregados e quantos não. O que
se tem são estimativas, ao sabor de quem as faz. Ou nem mesmo isso. Observando
os números disponíveis sobre desemprego, chega-se à conclusão que as taxas não
são altas, comparadas com as de outros países, como a vizinha Argentina, onde
17,1% da População Economicamente Ativa estão desempregados, e muito menos
alarmantes.
Mas
estas detectam a minoria da mão de obra do País. A maioria não aparece nas
estatísticas. Não é protegida por leis trabalhistas, por falta de registro. Em
maio passado, o mercado começou a retomar um tímido otimismo sobre um eventual
reaquecimento, notadamente no comércio, face um ligeiro aumento das vendas,
ditado por uma discreta ampliação do crédito ao consumo.
A
alegria --- muito longe da euforia --- durou só um mês. Em junho, os negócios
tornaram a cair, a inadimplência aumentou e o desemprego cresceu. E de crise em
crise, o brasileiro vai tocando sua sofrida vida, alimentado apenas pela
esperança de dias melhores, que teimam em não chegar, e pelo seu alto poder de
adaptação a situações críticas. A pergunta que se impõe é: até quando?
(Artigo publicado na página
3, Opinião, do Correio Popular, em 2 de agosto de 1996)
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