Chefe
responde por subordinados
Pedro J. Bondaczuk
O relatório final da comissão conjunta do Congresso
norte-americano que investigou o escândalo Irã-contras, divulgado ontem, embora
tenha sido contestado por membros dissidentes – republicanos, obviamente – do grupo
investigador, não poderia chegar a uma conclusão diferente da que chegou, sob o
risco de cair em total descrédito perante a opinião pública dos Estados Unidos.
Afinal, uma boa parte dos depoimentos foi
transmitida ao vivo pela TV para todo o país. E cada cidadão chegou ao seu
veredito pessoal. Tanto é que as pesquisas revelaram, logo após as aparições
dos principais personagens desse drama político nos vídeos, que cerca de 80%
dos consultados não acreditavam que o presidente Ronald Reagan houvesse dito
tudo o que sabia acerca do “affaire” escandaloso.
Qualquer pessoa que assume cargo de chefia sabe que
a partir do momento em que toma posse, passa a ser responsável, perante seus
superiores, pelos atos praticados pelos subalternos. Ainda mais quando esse
“delegado” da direção escolhe ele próprio esses colaboradores. O mandatário de
um país é esse chefe. Hierarquicamente, deve prestar contas aos seus eleitores,
que confiaram nele para que administrasse o Estado.
Por isso, todo e qualquer ato de seu pessoal deve
ser sempre assumido por ele. Quando o escândalo veio à tona, nós comentamos,
neste mesmo espaço, que as opções para Reagan na questão eram duas e somente
duas. Nenhuma delas, contudo, lhe era favorável. A coisa estava na base do se
correr o bicho pega, se parar, o bicho come.
O presidente poderia ser considerado conhecedor e,
mais do que isso, mentor da política de fornecimento de armas ao Irã e desvio
dos lucros assim obtidos para os rebeldes da Nicarágua. Neste caso, teria
cometido dois tipos de infração, um moral e outro legal. O ético seria o
referente à venda de material bélico a Teerã quando, oficialmente, seus aliados
estavam impedidos de agir de igual forma por um embargo. O delituoso, seria o
ato de prestar ajuda aos anti-sandinistas, quando uma lei do Congresso vedava
isso.
A Segunda opção seria ele não saber o que se passava
em “sua casa”. Estaria pecando, portanto, por omissão. E se há algo que o dono
de empresa alguma tolera é um chefe omisso, desleixado, que não cuida
adequadamente do que seus subordinados fazem em seu nome.
Prevaleceu, no “Irangate”, pelo menos nos dois
relatórios já divulgados sobre o caso (o do Comitê Tower, em fevereiro passado,
e o da comissão conjunta do Congresso, ontem) a Segunda hipótese. Pior para
Reagan que, por mais que faça, doravante, não conseguirá apagar de seu
currículo presidencial essa nota desabonadora.
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do
Correio Popular, em 19 de novembro de 1987)
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