A nossa “máquina do
tempo”
Pedro
J. Bondaczuk
O escritor inglês H. G.
Wells escreveu, em um de seus livros – no publicado em 1896, que praticamente
inaugurou o gênero de ficção científica – colocando na boca de um dos seus
personagens: “Todos nós temos nossas máquinas de tempo. Algumas nos levam de
volta: elas são chamadas recordações. Algumas nos levam adiante: elas são
chamadas sonhos”. Essa afirmação ganhou o mundo, com maior velocidade do que a
da página escrita, através da magia do cinema. Alcançou milhões de pessoas, que
nunca leram o tal romance, no qual as duas versões cinematográficas (a última,
de 2002) se basearam. No filme, quem faz essa declaração (tão verdadeira que é
absolutamente óbvia) é o personagem “Über-Morlock” (protagonizado, na refilmagem
de 2002, pelo ator Jeremy Irons).
Calma, paciente leitor,
já vou pôr ordem nessa miscelânea de informações vagas, pois meu instinto de
jornalista assim o exige. O livro de H. G. Wells, no qual se basearam as duas
versões cinematográficas (ambas, claro, com o mesmo título do romance) é “A
máquina do tempo”, clássico (e suponho que pioneiro) do gênero ficção
científica. Ah, vocês querem saber quem é esse personagem de nome tão estranho?
Bem, “Über”, na história, é o líder supremo dos “morlocks”. Não resolveu muito?
Quem não leu o livro e nem assistiu a nenhuma das duas versões do filme
continua no ar? Pois é, entra aí a fértil imaginação do escritor inglês e seu
genial talento para tornar algo inverossímil em verossímil.
Os “morlocks”, no
romance, eram seres humanóides, que viviam nos subterrâneos da Terra, em uma
era muitíssimo distante da nossa. Estamos, qualquer criança sabe, no século XXI
depois de Cristo. H. G. Wells, todavia, situa seu enredo (pasmem) no século
(não no ano) 8.028 d.C. Trata-se de um tempo tão à frente do nosso que é melhor
nem referenciá-lo em algarismos romanos. Os “morlocks” eram mutantes da espécie
humana. Descendiam das pessoas que se abrigaram nos subterrâneos do Planeta,
após uma arrasadora guerra nuclear que o devastou. O leitor menos atento não
notará o fato de que, quando o livro foi escrito – nos anos finais do século
XIX – as armas atômicas não existiam. Não passavam de teoria, quando não de
ficção. Pouquíssimos cientistas acreditavam que elas seriam possíveis (se é que
algum, mais arrojado ou imaginativo, cria nessa possibilidade). A primeira
bomba atômica ficou pronta em 1945 – praticamente duas semanas antes de ser
lançada sobre a cidade japonesa de Hiroshima, em 6 de agosto – e foi testada no
deserto do Novo México, se não me falha a memória, em 16 de julho desse ano.
H. G. Wells, portanto,
previu a construção dessa terribilíssima arma, que pode nos destruir a todos e
acabar com a vida na Terra, pelo menos 49 anos antes do Projeto Manhatan
desenvolvê-la e concretizá-la. Foi, pois, um gênio!!! Nenhum profeta
conseguiria prever algo assim (suponho), com tamanha precisão. E ele nem era
cientista, mas escritor. Mas... voltemos aos “morlocks”. Eles foram “produtos”
de mais de 800 mil anos de “evolução” (ou seria de “involução”?). Eram
criaturas extremamente pálidas, em decorrência da falta de melanina, e quase
cegas. Obviamente, eram sensíveis à luz do sol, que não viam e nem poderiam
ver. E do que se alimentavam, já que não podiam plantar coisa alguma naqueles
subterrâneos? Pode-se dizer que eram antropófagos. Comiam “Elois”, também
mutantes humanos, mas dos que permaneceram na superfície do Planeta e
sobreviveram, de maneira que Wells não explica, à mortífera radiatividade. Por
milhares de anos, essa raça teria vivido de forma pacífica, fazendo da Terra um
paraíso, já que teria banido as guerras. Até que... surgiram, subitamente, como
do nada, em seu caminho, os “morlocks”, que se tornaram seus predadores.
E onde quero chegar com
todo esse bla-bla-blá? À convicção de H. G. Wells, pioneiro em tratar dessa
fantasiosa hipótese, de que uma hipotética “máquina do tempo” era possível, mas
apenas, no terreno artístico (no da Literatura, por exemplo). E os artistas têm
como “ferramenta” a imaginação, que como todos sabem, é livre e ilimitada e faz
das coisas mais absurdas e impossíveis, possíveis. Caso contrário, não
colocaria na boca do Über-Morlock, personagem que criou, a afirmação (esta sim
lógica e até óbvia), de que “já temos”, (e todos nós sem exceção), esse
mecanismo que nos leva, com a velocidade da luz, ao passado e ao futuro. No
primeiro caso, mediante (unicamente) a “recordação” e, no segundo, só mesmo
através dos “sonhos”.O tema é tão fascinante (posto que inútil, em termos
práticos) que me proponho a voltar a ele oportunamente.
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