Crise contém contradições
Pedro J. Bondaczuk
A
crise do Golfo Pérsico traz em seu bojo uma série de contradições, de
autênticas armadilhas em que as duas partes se meteram e das quais não sabem
agora como sair. Respondendo a uma interpelação de um popular, anteontem,
durante um discurso de campanha em Des Moines, no Estado do Iowa, o presidente
George Bush negou que tenha mandado 200 mil homens e um aparato de guerra de
meter medo em qualquer oponente de bom senso, apenas para defender os senhores
do petróleo, afirmando que defendia, sim, o princípio da não agressão.
É
evidente que a sua decisão se prende a razões econômicas. Ao medo de que o
Iraque, em dominando a fonte do fornecimento de óleo cru do Ocidente, ou seja,
a Arábia Saudita, torne as grandes potências mundiais virtualmente suas
"reféns energéticas".
A
contradição reside no fato de se preparar uma guerra, de conseqüências
imprevisíveis --- todas elas, obviamente, o são --- num lugar tão inadequado
para se guerrear. Se Bush desejava proteger a fonte ocidental dessa importante
matéria-prima, não poderia ter escolhido forma pior de realizar tal tarefa.
Uma
confrontação bélica nessa zona certamente destruirá poços, oleodutos,
reservatórios, enfim, todo o complexo da indústria petrolífera local, onde
estão empatados bilhões de dólares. Ninguém consegue, em sã consciência, levar
a sério um suposto plano do Pentágono, divulgado na semana passada pela revista
francesa L'Express, que prevê o "esmagamento" do Iraque em apenas
quatro dias. Se as coisas fossem tão fáceis, já teriam sido postas em prática
há semanas.
Ao
invés de proteger sua fonte fornecedora de petróleo, portanto, os Estados
Unidos poderão desmobilizar toda a zona produtora por alguns anos. O mundo
contemporâneo apresenta uma outra e enorme contradição. O excesso de força dos
fortes acaba por fazê-los, na verdade, fracos.
Quem
admitiria, em 1964, por exemplo, a mais remota possibilidade dos
norte-americanos serem expulsos do Vietnã? Pois foi isso o que ocorreu!! Por
quê? Porque a superpotência ocidental não poderia sequer sonhar em usar alguma
das milhares de armas nucleares que possui.
O
mesmo aconteceu com a União Soviética no Afeganistão. E isto também tende a
ocorrer no Golfo Pérsico, a não ser que os Estados Unidos estejam dispostos a
se arriscar a um pagamento do barril do petróleo da ordem de US$ 100 ou mais,
por muito e muito tempo. Basta, somente, que se raciocine com um pouquinho de
lógica para chegar a essa óbvia conclusão.
(Artigo
publicado na página 16, Internacional, do Correio Popular, em 18 de outubro de
1990).
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