Sunday, January 24, 2016

Crise contém contradições


Pedro J. Bondaczuk


A crise do Golfo Pérsico traz em seu bojo uma série de contradições, de autênticas armadilhas em que as duas partes se meteram e das quais não sabem agora como sair. Respondendo a uma interpelação de um popular, anteontem, durante um discurso de campanha em Des Moines, no Estado do Iowa, o presidente George Bush negou que tenha mandado 200 mil homens e um aparato de guerra de meter medo em qualquer oponente de bom senso, apenas para defender os senhores do petróleo, afirmando que defendia, sim, o princípio da não agressão.

É evidente que a sua decisão se prende a razões econômicas. Ao medo de que o Iraque, em dominando a fonte do fornecimento de óleo cru do Ocidente, ou seja, a Arábia Saudita, torne as grandes potências mundiais virtualmente suas "reféns energéticas".

A contradição reside no fato de se preparar uma guerra, de conseqüências imprevisíveis --- todas elas, obviamente, o são --- num lugar tão inadequado para se guerrear. Se Bush desejava proteger a fonte ocidental dessa importante matéria-prima, não poderia ter escolhido forma pior de realizar tal tarefa.

Uma confrontação bélica nessa zona certamente destruirá poços, oleodutos, reservatórios, enfim, todo o complexo da indústria petrolífera local, onde estão empatados bilhões de dólares. Ninguém consegue, em sã consciência, levar a sério um suposto plano do Pentágono, divulgado na semana passada pela revista francesa L'Express, que prevê o "esmagamento" do Iraque em apenas quatro dias. Se as coisas fossem tão fáceis, já teriam sido postas em prática há semanas.

Ao invés de proteger sua fonte fornecedora de petróleo, portanto, os Estados Unidos poderão desmobilizar toda a zona produtora por alguns anos. O mundo contemporâneo apresenta uma outra e enorme contradição. O excesso de força dos fortes acaba por fazê-los, na verdade, fracos.

Quem admitiria, em 1964, por exemplo, a mais remota possibilidade dos norte-americanos serem expulsos do Vietnã? Pois foi isso o que ocorreu!! Por quê? Porque a superpotência ocidental não poderia sequer sonhar em usar alguma das milhares de armas nucleares que possui.

O mesmo aconteceu com a União Soviética no Afeganistão. E isto também tende a ocorrer no Golfo Pérsico, a não ser que os Estados Unidos estejam dispostos a se arriscar a um pagamento do barril do petróleo da ordem de US$ 100 ou mais, por muito e muito tempo. Basta, somente, que se raciocine com um pouquinho de lógica para chegar a essa óbvia conclusão.

(Artigo publicado na página 16, Internacional, do Correio Popular, em 18 de outubro de 1990).


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