A
grande ausente
Pedro J. Bondaczuk
A América Latina, onde 40% da população vive em
pobrezas total, conforme estatísticas confiáveis das Nações Unidas, será a
região menos representada na Reunião de Cúpula sobre Desenvolvimento Social,
que começa nesta segunda-feira, em Copenhague, na Dinamarca, sob o patrocínio
da ONU.
Cento e oitenta e quatro países estarão
representados neste encontro de alto nível, a maioria com seus chefes de Estado
ou de governo. Na oportunidade, vão assumir o compromisso de erradicar do
Planeta a miséria absoluta.
Os pesos pesados do mundo, como Bill Clinton
(Estados Unidos), Tomiichi Murayama (Japão), John Major (Grã-Bretanha), Edouard
Balladur (França), Helmut Kohl (Alemanha) e Boris Yeltsin (Rússia), entre
outros, deverão estar presentes.
Sente-se, no entanto, as ausências do nosso
presidente, Fernando Henrique Cardoso, do argentino Carlos Menem, do mexicano
Ernesto Zedillo e do uruguaio Júlio Maria Sanguinetti. Ou seja, justamente os
líderes com maior poder de decisão da América Latina, continente onde as
desigualdades sociais são extremamente acentuadas e onde as decisões que serão
adotadas na cúpula têm necessidade mais urgente de serem postas em prática.
No início da década de 80, quando a Guerra Fria
estava no auge, os grandes estudiosos sociais alertavam que o maior perigo para
a paz e estabilidade mundiais não estava na confrontação entre as duas
superpotências da época, mas no conflito Norte-Sul. O abismo existente entre as
duas concepções de vida já era, então, bastante largo e estava se ampliando. E
hoje, qual é a situação? A mais trágica possível!
O documento “Análises de Situação”, da Série
Divulgativa Programa Regional Crianças em Circunstâncias Especialmente
Difíceis, do Unicef, coordenado por Francisco Espert e William Myers, constata:
“Há, atualmente (na América Latina) cerca de 170 milhões de pessoas vivendo em
pobreza total, ou seja, 40% da população. Perto de 75 milhões são crianças, de
0 a 15 anos. As atuais tendências sugerem que, nos anos vindouros, a distribuição
de renda será cada vez mais injusta e os pobres terão desvantagens maiores com
respeito ao resto da população”.
A América Latina, ausentando-se (através de seus
governantes) da cúpula de Copenhague, mostra que não leva muito a sério aquele
que é justamente o seu mais grave problema, fonte de tensões, conflitos e do
incremento da violência. É lamentável, sem dúvida.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 4 de março de 1995)
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