Wednesday, January 27, 2016

A grande ausente



Pedro J. Bondaczuk


A América Latina, onde 40% da população vive em pobrezas total, conforme estatísticas confiáveis das Nações Unidas, será a região menos representada na Reunião de Cúpula sobre Desenvolvimento Social, que começa nesta segunda-feira, em Copenhague, na Dinamarca, sob o patrocínio da ONU.

Cento e oitenta e quatro países estarão representados neste encontro de alto nível, a maioria com seus chefes de Estado ou de governo. Na oportunidade, vão assumir o compromisso de erradicar do Planeta a miséria absoluta.

Os pesos pesados do mundo, como Bill Clinton (Estados Unidos), Tomiichi Murayama (Japão), John Major (Grã-Bretanha), Edouard Balladur (França), Helmut Kohl (Alemanha) e Boris Yeltsin (Rússia), entre outros, deverão estar presentes.

Sente-se, no entanto, as ausências do nosso presidente, Fernando Henrique Cardoso, do argentino Carlos Menem, do mexicano Ernesto Zedillo e do uruguaio Júlio Maria Sanguinetti. Ou seja, justamente os líderes com maior poder de decisão da América Latina, continente onde as desigualdades sociais são extremamente acentuadas e onde as decisões que serão adotadas na cúpula têm necessidade mais urgente de serem postas em prática.

No início da década de 80, quando a Guerra Fria estava no auge, os grandes estudiosos sociais alertavam que o maior perigo para a paz e estabilidade mundiais não estava na confrontação entre as duas superpotências da época, mas no conflito Norte-Sul. O abismo existente entre as duas concepções de vida já era, então, bastante largo e estava se ampliando. E hoje, qual é a situação? A mais trágica possível!

O documento “Análises de Situação”, da Série Divulgativa Programa Regional Crianças em Circunstâncias Especialmente Difíceis, do Unicef, coordenado por Francisco Espert e William Myers, constata: “Há, atualmente (na América Latina) cerca de 170 milhões de pessoas vivendo em pobreza total, ou seja, 40% da população. Perto de 75 milhões são crianças, de 0 a 15 anos. As atuais tendências sugerem que, nos anos vindouros, a distribuição de renda será cada vez mais injusta e os pobres terão desvantagens maiores com respeito ao resto da população”.

A América Latina, ausentando-se (através de seus governantes) da cúpula de Copenhague, mostra que não leva muito a sério aquele que é justamente o seu mais grave problema, fonte de tensões, conflitos e do incremento da violência. É lamentável, sem dúvida. 

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 4 de março de 1995)


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