Thursday, January 14, 2016

Ganância maior que a prudência



Pedro J. Bondaczuk


Barreiras ideológicas ou políticas quase nunca são levadas em conta na hora de se comerciar. Principalmente quando esse comércio é o mais próspero dos diversos ramos de atividade, qual seja, o de armamentos.

Governantes de vários países ocidentais manifestaram-se temerosos por uma vitória iraniana, por exemplo, na guerra de três anos e meio que esse país trava com o Iraque, por causa do risco de fechamento do Golfo Pérsico, de onde saem 20% do petróleo consumido no Ocidente.

Entretanto, uma coisa que ninguém pode entender é como o regime do aiatolá Khomeini, virtualmente batido nos seis primeiros meses do conflito, sem armamentos, com o exército desorganizado, conseguiu tão espantosa recuperação. Com paus e com pedras é que não foi.

É evidente que os seus arsenais foram reforçados com armamentos moderníssimos e que seus caças Phantoms F-4 receberam um enorme estoque de peças de reposição. Entretanto, a pergunta que fica no ar é:  “quem rearmou o Irã se, oficialmente, tanto os aliados dos EUA no Ocidente, quanto os integrantes do Pacto de Varsóvia, pelo menos perante a opinião pública, se dizem adversários do regime de Khomeini?”.

É claro que as transações de armamentos com o Irã não foram feitas de governo a governo. E nem seria preciso. Existem, para esse fim, centenas de empresas fantasmas, no mundo todo, para acobertar tal comércio. Que não lamentem depois se o pior acontecer.

Outra coisa que nos chama a atenção é a possibilidade da Bélgica dar assistência à Líbia, para a construção de uma estação de energia nuclear. E isso menos de um mês depois do incidente ocorrido na embaixada líbia em Londres, que motivou o rompimento de relações diplomáticas entre a Inglaterra e o regime do coronel Muammar Khadafy.

De duas uma. Ou o governante líbio não é o autor das loucuras que lhe são atribuídas freqüentemente ou, se é, mais louco é aquele que lhe facilita o acesso a uma tecnologia tão perigosa, como é a nuclear.

Será que os comerciantes da morte perderam o senso de perspectiva e passaram a amar mais o dinheiro do que suas próprias vidas? Como não viver apavorado, em contínua neurose nuclear, diante de atitudes tão contraditórias?
 

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 19 de maio de 1984)

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