Ganância
maior que a prudência
Pedro J. Bondaczuk
Barreiras ideológicas ou políticas quase nunca são
levadas em conta na hora de se comerciar. Principalmente quando esse comércio é
o mais próspero dos diversos ramos de atividade, qual seja, o de armamentos.
Governantes de vários países ocidentais
manifestaram-se temerosos por uma vitória iraniana, por exemplo, na guerra de
três anos e meio que esse país trava com o Iraque, por causa do risco de
fechamento do Golfo Pérsico, de onde saem 20% do petróleo consumido no
Ocidente.
Entretanto, uma coisa que ninguém pode entender é
como o regime do aiatolá Khomeini, virtualmente batido nos seis primeiros meses
do conflito, sem armamentos, com o exército desorganizado, conseguiu tão
espantosa recuperação. Com paus e com pedras é que não foi.
É evidente que os seus arsenais foram reforçados com
armamentos moderníssimos e que seus caças Phantoms F-4 receberam um enorme
estoque de peças de reposição. Entretanto, a pergunta que fica no ar é: “quem rearmou o Irã se, oficialmente, tanto
os aliados dos EUA no Ocidente, quanto os integrantes do Pacto de Varsóvia,
pelo menos perante a opinião pública, se dizem adversários do regime de
Khomeini?”.
É claro que as transações de armamentos com o Irã
não foram feitas de governo a governo. E nem seria preciso. Existem, para esse
fim, centenas de empresas fantasmas, no mundo todo, para acobertar tal
comércio. Que não lamentem depois se o pior acontecer.
Outra coisa que nos chama a atenção é a
possibilidade da Bélgica dar assistência à Líbia, para a construção de uma
estação de energia nuclear. E isso menos de um mês depois do incidente ocorrido
na embaixada líbia em Londres, que motivou o rompimento de relações
diplomáticas entre a Inglaterra e o regime do coronel Muammar Khadafy.
De duas uma. Ou o governante líbio não é o autor das
loucuras que lhe são atribuídas freqüentemente ou, se é, mais louco é aquele
que lhe facilita o acesso a uma tecnologia tão perigosa, como é a nuclear.
Será que os comerciantes da morte perderam o senso de
perspectiva e passaram a amar mais o dinheiro do que suas próprias vidas? Como
não viver apavorado, em contínua neurose nuclear, diante de atitudes tão
contraditórias?
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do
Correio Popular, em 19 de maio de 1984)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment