Os livros mais vendidos
de 2015
Pedro
J. Bondaczuk
O “ranking” dos livros
mais vendidos em 2015 é, para mim, dos mais decepcionantes, com todo respeito
aos autores que conseguiram a façanha de obter sucesso de vendas em um país
que, convenhamos, não prima pelo hábito (e pelo gosto) da leitura. Refiro-me,
aqui, especificamente, à relação divulgada pelo site Publishnews, especializado
em pesquisa do mercado editorial. Tem, portanto, total credibilidade. Ademais,
ele não difere muito de outras tantas listas divulgadas por outras mídias. É
certo que o ranking ainda é parcial, sujeito a mudanças. Mas não creio que
estas aconteçam nas principais posições. No “top 10”, não há, por exemplo,
nenhum livro de poesias, o que sequer me espanta e nem surpreende, por não ser
nenhuma novidade. Poetas temos muitos, e bons. O que não temos é leitores que
apreciem poesia. Pior para eles. Crônicas e contos, igualmente, não aparecem
entre as obras mais vendidas nas principais livrarias do País, muito menos
ensaios, filosofia e peças teatrais.
Lideram a relação dos
dez mais vendidos no ano dois livros que nem mesmo são livros. Têm seu formato
e aspecto, é verdade, mas não têm textos, apenas desenhos. Destinam-se a serem
coloridos, mas não por criancinhas do jardim de infância, como acontecia há não
muito tempo, mas por marmanjos. Refiro-me a “Jardim secreto” e “Floresta
encantada”, ambos da ilustradora escocesa Johanna Basford, lançados pela
Editora Intrínseca, que ocupam, respectivamente, a primeira e segunda colocação
do “top 10” da Publishnews. Vem em terceiro lugar um livro precioso, mas não de
Literatura, como a entendo. Trata-se de “Philia”, do Padre Marcelo, tratando
das questões de amor, notadamente pelo enfoque espiritual. É, porém, uma obra
que recomendo. Foi lançada pela Editora Principium.
O quarto livro mais
vendido de 2015 é “Nada a perder”, parte 3, do bispo Edir Macedo. É uma espécie
de autobiografia do fundador da Igreja Universal, portanto, com público
específico e vendas garantidas. Foi lançado pela Editora Planeta do Brasil. O
5º colocado no “top 10” tem tudo a ver com a internet. Trata-se do livro “Muito
mais que 5inco minutos” (e não cometi erro de digitação: o cinco do título da
obra aparece com o numeral 5 no lugar da letra “c”). Sua autora é a atriz,
escritora e “vloger” curitibana Kefera Buchmann. Não me espanta seu sucesso
editorial, já que ela conta com praticamente doze milhões de seguidores nas
redes sociais (pobre de mim que não tenho sequer 1.200!!!). Seu livro, lançado
pela Editora Paralela, pode ser considerado autobiográfico, já que ela narra
várias histórias de situações que viveu.
Chegamos ao sexto
lugar. Este é ocupado pela obra “Ansiedade: como enfrentar o mal do século”, de
autoria de um campeoníssimo de vendas, que em todos os anos está,
invariavelmente, presente, nos “top 10”, ou seja, Augusto Cury. O leitor já
adivinhou que este lançamento da Editora Saraiva é um livro da linha de
auto-ajuda. É uma obra que também recomendo, pelo seu útil e oportuno conteúdo.
O sétimo lugar cabe ao polêmico “Grey”, da não menos polêmica autora inglesa E.
L. James. Trata-se de novo livro da franquia “Cinquenta tons de cinza”, em que
a história é contada do ponto de vista de Christian Grey. Também tem público
cativo, sobretudo, o feminino. Se tivesse quer fazer uma avaliação dessa obra,
assinaria embaixo a opinião do “Telegraph”, que a considerou “tão excitante
quanto o diário de um agressor sexual”. Barbaridade!!!!
O oitavo colocado é um
fenômeno no mundo, que atravessa o tempo e encanta sucessivas gerações. Foi
lançado no ano em que nasci (1943), pouco antes de eu completar três meses de
idade, e desde então não parou de ser vendido mundo afora. Refiro-me a “O
pequeno príncipe”, de Antoine de Saint-Éxupery. Em três semanas, completarei 73
anos de idade, e o livro do aviador francês continua vendendo a rodo. Ouvi
muito medalhão, metido a entendedor de Literatura, dizer, com arrogância, que
se trata de “história melosa e piegas”. Fico pasmo com a burrice de certas
pessoas. Considero “O pequeno príncipe” delicadíssimo poema em prosa, daí
encantar a tantas gerações. Esta edição, que foi a oitava em vendas de 2015, é
da Editora Agir.
Estamos chegando ao
final do “top 10” e, até aqui, não apareceu nenhum livro de impacto (à exceção
da obra de Saint-Éxupery), desses geniais, lançados para durar. E... não vai
aparecer. O nono colocado tem, também, tudo a ver com a internet. Trata-se de
“Eu fico loko” (escrito assim mesmo, com “k” e sem o “u”, para caracterizar
quem é tomado pela loucura), de autoria de Christian Figueiredo de Caldas. O
título do livro é o mesmo do “vlog” que ele mantém no Youtube, com mais de 1,5
milhão de seguidores e mais de 100 milhões de visualizações. O autor conta, em
vídeos (no Youtube) e em textos (no livro), histórias reais e inéditas, algumas
das quais meio que constrangedoras, da sua infância e adolescência. Há quem
goste. O que fazer?!
Finalmente, o “top 10”
termina com uma obra de ficção. Trata-se de “Não se apega, não”, de Isabela
Freitas, lançamento da Editora Intrínseca. A autora narra os percalços vividos
por sua personagem para encarar a vida e não se apegar ao que não presta. Ah,
apenas a título de informação, o décimo primeiro livro mais vendido de 2015 é,
também, de Isabela. O título é um tanto parecido com o anterior: “Não se iluda,
não”, do qual é uma espécie de continuação.
E daí, leitor, ficou
decepcionado com o (mau) gosto literário dos que podem comprar livros (e que
por isso compraram)? Eu fiquei. A culpa, porém, não é das editoras, que
oferecem ao público aquilo que ele quer e que, ademais, lançaram obras muito
boas que, no entanto, não “emplacaram”. Concluo que a culpa é dos professores
de português, das escolas (públicas e particulares) dos vários graus. É fácil
de concluir que eles estão pecando em apresentar aos alunos livros e autores
que realmente valem a pena. E isso fará diferença enorme na vida deles, no
futuro.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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