Friday, January 01, 2016

Os livros mais vendidos de 2015

Pedro J. Bondaczuk

O “ranking” dos livros mais vendidos em 2015 é, para mim, dos mais decepcionantes, com todo respeito aos autores que conseguiram a façanha de obter sucesso de vendas em um país que, convenhamos, não prima pelo hábito (e pelo gosto) da leitura. Refiro-me, aqui, especificamente, à relação divulgada pelo site Publishnews, especializado em pesquisa do mercado editorial. Tem, portanto, total credibilidade. Ademais, ele não difere muito de outras tantas listas divulgadas por outras mídias. É certo que o ranking ainda é parcial, sujeito a mudanças. Mas não creio que estas aconteçam nas principais posições. No “top 10”, não há, por exemplo, nenhum livro de poesias, o que sequer me espanta e nem surpreende, por não ser nenhuma novidade. Poetas temos muitos, e bons. O que não temos é leitores que apreciem poesia. Pior para eles. Crônicas e contos, igualmente, não aparecem entre as obras mais vendidas nas principais livrarias do País, muito menos ensaios, filosofia e peças teatrais.

Lideram a relação dos dez mais vendidos no ano dois livros que nem mesmo são livros. Têm seu formato e aspecto, é verdade, mas não têm textos, apenas desenhos. Destinam-se a serem coloridos, mas não por criancinhas do jardim de infância, como acontecia há não muito tempo, mas por marmanjos. Refiro-me a “Jardim secreto” e “Floresta encantada”, ambos da ilustradora escocesa Johanna Basford, lançados pela Editora Intrínseca, que ocupam, respectivamente, a primeira e segunda colocação do “top 10” da Publishnews. Vem em terceiro lugar um livro precioso, mas não de Literatura, como a entendo. Trata-se de “Philia”, do Padre Marcelo, tratando das questões de amor, notadamente pelo enfoque espiritual. É, porém, uma obra que recomendo. Foi lançada pela Editora Principium.

O quarto livro mais vendido de 2015 é “Nada a perder”, parte 3, do bispo Edir Macedo. É uma espécie de autobiografia do fundador da Igreja Universal, portanto, com público específico e vendas garantidas. Foi lançado pela Editora Planeta do Brasil. O 5º colocado no “top 10” tem tudo a ver com a internet. Trata-se do livro “Muito mais que 5inco minutos” (e não cometi erro de digitação: o cinco do título da obra aparece com o numeral 5 no lugar da letra “c”). Sua autora é a atriz, escritora e “vloger” curitibana Kefera Buchmann. Não me espanta seu sucesso editorial, já que ela conta com praticamente doze milhões de seguidores nas redes sociais (pobre de mim que não tenho sequer 1.200!!!). Seu livro, lançado pela Editora Paralela, pode ser considerado autobiográfico, já que ela narra várias histórias de situações que viveu.

Chegamos ao sexto lugar. Este é ocupado pela obra “Ansiedade: como enfrentar o mal do século”, de autoria de um campeoníssimo de vendas, que em todos os anos está, invariavelmente, presente, nos “top 10”, ou seja, Augusto Cury. O leitor já adivinhou que este lançamento da Editora Saraiva é um livro da linha de auto-ajuda. É uma obra que também recomendo, pelo seu útil e oportuno conteúdo. O sétimo lugar cabe ao polêmico “Grey”, da não menos polêmica autora inglesa E. L. James. Trata-se de novo livro da franquia “Cinquenta tons de cinza”, em que a história é contada do ponto de vista de Christian Grey. Também tem público cativo, sobretudo, o feminino. Se tivesse quer fazer uma avaliação dessa obra, assinaria embaixo a opinião do “Telegraph”, que a considerou “tão excitante quanto o diário de um agressor sexual”. Barbaridade!!!!

O oitavo colocado é um fenômeno no mundo, que atravessa o tempo e encanta sucessivas gerações. Foi lançado no ano em que nasci (1943), pouco antes de eu completar três meses de idade, e desde então não parou de ser vendido mundo afora. Refiro-me a “O pequeno príncipe”, de Antoine de Saint-Éxupery. Em três semanas, completarei 73 anos de idade, e o livro do aviador francês continua vendendo a rodo. Ouvi muito medalhão, metido a entendedor de Literatura, dizer, com arrogância, que se trata de “história melosa e piegas”. Fico pasmo com a burrice de certas pessoas. Considero “O pequeno príncipe” delicadíssimo poema em prosa, daí encantar a tantas gerações. Esta edição, que foi a oitava em vendas de 2015, é da Editora Agir.

Estamos chegando ao final do “top 10” e, até aqui, não apareceu nenhum livro de impacto (à exceção da obra de Saint-Éxupery), desses geniais, lançados para durar. E... não vai aparecer. O nono colocado tem, também, tudo a ver com a internet. Trata-se de “Eu fico loko” (escrito assim mesmo, com “k” e sem o “u”, para caracterizar quem é tomado pela loucura), de autoria de Christian Figueiredo de Caldas. O título do livro é o mesmo do “vlog” que ele mantém no Youtube, com mais de 1,5 milhão de seguidores e mais de 100 milhões de visualizações. O autor conta, em vídeos (no Youtube) e em textos (no livro), histórias reais e inéditas, algumas das quais meio que constrangedoras, da sua infância e adolescência. Há quem goste. O que fazer?!

Finalmente, o “top 10” termina com uma obra de ficção. Trata-se de “Não se apega, não”, de Isabela Freitas, lançamento da Editora Intrínseca. A autora narra os percalços vividos por sua personagem para encarar a vida e não se apegar ao que não presta. Ah, apenas a título de informação, o décimo primeiro livro mais vendido de 2015 é, também, de Isabela. O título é um tanto parecido com o anterior: “Não se iluda, não”, do qual é uma espécie de continuação.

E daí, leitor, ficou decepcionado com o (mau) gosto literário dos que podem comprar livros (e que por isso compraram)? Eu fiquei. A culpa, porém, não é das editoras, que oferecem ao público aquilo que ele quer e que, ademais, lançaram obras muito boas que, no entanto, não “emplacaram”. Concluo que a culpa é dos professores de português, das escolas (públicas e particulares) dos vários graus. É fácil de concluir que eles estão pecando em apresentar aos alunos livros e autores que realmente valem a pena. E isso fará diferença enorme na vida deles, no futuro.


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