Sunday, January 31, 2016

Para atender a leitores

Pedro J. Bondaczuk

O futebol está presente em minha Literatura (e, de certa forma, em minha vida). É verdade que não na mesma proporção do interesse (diria melhor, paixão) que desperta em bilhões de pessoas mundo afora. Longe disso. A estranha veneração que multidões nutrem pelos vários clubes vencedores (raros se interessam pelos meros “coadjuvantes”), e por astros e estrelas consagrados dessa modalidade esportiva, é crescente. Aumenta, praticamente, na mesma proporção do aumento da população mundial. Esse comportamento, claro, me intriga, enquanto intelectual que analisa friamente os costumes do seu tempo. Sobretudo quando analiso a proporção “custo/benefício”. Mas... quem se importa com isso?

Hoje em dia, a imensa maioria das pessoas valoriza muito mais um jogador de futebol do que um cientista que, por exemplo, descubra a cura de alguma doença que tenha sido até então incurável. Aliás, personalidade alguma, do presente ou do passado, e nenhum profissional, seja de que área de atividade for, rivaliza, sequer de longe, em termos de valorização, de popularidade e de idolatria, com os mais hábeis praticantes desse esporte das multidões. Estes contam, além de tudo, com remuneração muitíssimo superior às de um médico, um magistrado, um filósofo e até de um presidente da República, apenas para citar alguns casos. Professores, então... nem é bom comparar. Soa ridícula a comparação, tamanho o desnível. Todavia, quem é mais importante para o futuro da sociedade e da civilização: um mestre ou um jogador de futebol? Ora, ora, ora... Até o mais bronco dos broncos, o soberano dos beócios sabe que é o professor. Comparar com escritores, então, nem pensar!

Estranha (de fato surreal) ou não, o fato é que essa obsessão generalizada com algo de tão escassa importância intrínseca, existe. Portanto, não é façanha alguma o fato de algum escritor fazer dela tema para sua produção literária. Estranhável, sim, é quando um assunto tão evidente é ignorado, como se não estivesse onipresente em nossa vida no cotidiano. Escrevi, porém, muito pouco a respeito. Em termos de ficção, abordei-o, e raramente de forma específica, em cinco de meus contos. E apenas um trata do futebol diretamente. É o que dá título ao meu livro “Lance fatal”, publicado em 2010 pela Editora Barauna.

Em poesia, compus um único e solitário poema sobre o assunto. E não foi dedicado ao consensualmente considerado o mais completo jogador de futebol que já apareceu, Pelé. Foi inspirado na performance de Garrincha na Copa do Mundo de 1962, no Chile, quando foi um dos responsáveis pela conquista do bicampeonato mundial pela Seleção Brasileira. Escrevi-o quase um ano após esse tão comemorado êxito esportivo: em 22 de abril de 1963.        

Para não deixá-lo “no ar”, paciente leitor, transcrevo-o abaixo. Seu título é “Guerreiro alado” e diz:

“Garrincha, pequeno pássaro encantado,
alado guerreiro, ingênuo e inocente,
que faz desfilar, no presente, galhardia,
e humor e graça, as sementes do amanhã,
e que alimenta nossa fragílima fantasia
no palco grandioso do Maracanã.

 Mameluco cavaleiro do sonho,
de auriverde manto sagrado,
corcel veloz, galopa e voa
a felicidade perfeita dos simples
nos gramados da América e Europa.

Pés alados. Pés de anjo. Pés calçados
de couro e poesia, de poder e magia,
na luta heróica, com espírito lúdico,
faz acenos familiares à glória
e, em danças, coreografias, corrupios,
bêbedo de luz, sorve o vinho da vitória.

Líder nato, sem bazófia ou arrogância,
dançando, com dez exímios bailarinos,
tece, com os pés, o painel encantado da vida
no teatro, dramática arena dos bravos,
do Estádio Nacional de Santiago.

A fama é tênue e pesa toneladas.
Heróis despencam no esquecimento
vítimas da ingratidão covarde e infeliz.
Mas Garrincha voa, flutua, ganha alento
e, com arte, com magia e encantamento
desperta, orgulha e enaltece um país”.

Admito que não se trata de nenhuma obra-prima, de eventual jóia rara, que me credencie, exagerando bastante (e põe exagero nisso!) a um Prêmio Nobel de Literatura. Longe (um milhão de anos-luz de distância) disso! Mas, convenhamos, o poema tem lá seu encanto (descontando os exageros que cometi, a pretexto de “licenças poéticas”). Destaco que no terreno da não-ficção, escrevi um livro inteiro sobre futebol, intitulado “Copas ganhas e perdidas”. Foi escrito em 2010 e eu tinha expectativa de publicá-lo antes do traumático Mundial de 2014, “imortalizado” com o vexame da Seleção Brasileira, que fez história sofrendo o inexplicável placar de 7 a 1 diante da implacável Alemanha, mesmo jogando em seus domínios. Esse desastre futebolístico ainda vai dar muito pano para manga, com certeza. Atualizei, claro, o livro com os detalhes da Copa de 2014 e tenho expectativa de publicá-lo antes do Mundial da Rússia, em 2018.


Sinceridade? Não tenho muita esperança (quase nenhuma) de interessar alguma editora, para publicar esse livro, tendo em vista o fracasso nas negociações que mantive com algumas, entre 2011 e 2013. Mas... nunca se sabe. Não sabemos nem mesmo o que pode nos acontecer no minuto seguinte, quanto mais nos próximos três anos, não é mesmo? E por que trouxe esse assunto à baila, neste espaço nobre voltado à Literatura? Não, meus críticos implacáveis, não foi para me vangloriar (até porque, não há motivo para tanto). Foi para atender à solicitação de dezenas de leitores (sem exagero) feita por e-mail, o que, óbvio, me lisonjeia. Faço-o, pois, com inegável satisfação, mesmo correndo o risco de ser mal interpretado (o que é quase certo que serei). É o que tenho a declarar a propósito, por ora

Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk.

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