Para atender a leitores
Pedro
J. Bondaczuk
O futebol está presente
em minha Literatura (e, de certa forma, em minha vida). É verdade que não na
mesma proporção do interesse (diria melhor, paixão) que desperta em bilhões de
pessoas mundo afora. Longe disso. A estranha veneração que multidões nutrem pelos
vários clubes vencedores (raros se interessam pelos meros “coadjuvantes”), e
por astros e estrelas consagrados dessa modalidade esportiva, é crescente.
Aumenta, praticamente, na mesma proporção do aumento da população mundial. Esse
comportamento, claro, me intriga, enquanto intelectual que analisa friamente os
costumes do seu tempo. Sobretudo quando analiso a proporção “custo/benefício”.
Mas... quem se importa com isso?
Hoje em dia, a imensa
maioria das pessoas valoriza muito mais um jogador de futebol do que um
cientista que, por exemplo, descubra a cura de alguma doença que tenha sido até
então incurável. Aliás, personalidade alguma, do presente ou do passado, e
nenhum profissional, seja de que área de atividade for, rivaliza, sequer de
longe, em termos de valorização, de popularidade e de idolatria, com os mais
hábeis praticantes desse esporte das multidões. Estes contam, além de tudo, com
remuneração muitíssimo superior às de um médico, um magistrado, um filósofo e
até de um presidente da República, apenas para citar alguns casos. Professores,
então... nem é bom comparar. Soa ridícula a comparação, tamanho o desnível.
Todavia, quem é mais importante para o futuro da sociedade e da civilização: um
mestre ou um jogador de futebol? Ora, ora, ora... Até o mais bronco dos
broncos, o soberano dos beócios sabe que é o professor. Comparar com
escritores, então, nem pensar!
Estranha (de fato
surreal) ou não, o fato é que essa obsessão generalizada com algo de tão
escassa importância intrínseca, existe. Portanto, não é façanha alguma o fato
de algum escritor fazer dela tema para sua produção literária. Estranhável,
sim, é quando um assunto tão evidente é ignorado, como se não estivesse
onipresente em nossa vida no cotidiano. Escrevi, porém, muito pouco a respeito.
Em termos de ficção, abordei-o, e raramente de forma específica, em cinco de
meus contos. E apenas um trata do futebol diretamente. É o que dá título ao meu
livro “Lance fatal”, publicado em 2010 pela Editora Barauna.
Em poesia, compus um
único e solitário poema sobre o assunto. E não foi dedicado ao consensualmente
considerado o mais completo jogador de futebol que já apareceu, Pelé. Foi
inspirado na performance de Garrincha na Copa do Mundo de 1962, no Chile,
quando foi um dos responsáveis pela conquista do bicampeonato mundial pela
Seleção Brasileira. Escrevi-o quase um ano após esse tão comemorado êxito
esportivo: em 22 de abril de 1963.
Para não deixá-lo “no
ar”, paciente leitor, transcrevo-o abaixo. Seu título é “Guerreiro alado” e
diz:
“Garrincha,
pequeno pássaro encantado,
alado
guerreiro, ingênuo e inocente,
que
faz desfilar, no presente, galhardia,
e
humor e graça, as sementes do amanhã,
e
que alimenta nossa fragílima fantasia
no
palco grandioso do Maracanã.
Mameluco cavaleiro do sonho,
de
auriverde manto sagrado,
corcel
veloz, galopa e voa
a
felicidade perfeita dos simples
nos
gramados da América e Europa.
Pés
alados. Pés de anjo. Pés calçados
de
couro e poesia, de poder e magia,
na
luta heróica, com espírito lúdico,
faz
acenos familiares à glória
e,
em danças, coreografias, corrupios,
bêbedo
de luz, sorve o vinho da vitória.
Líder
nato, sem bazófia ou arrogância,
dançando,
com dez exímios bailarinos,
tece,
com os pés, o painel encantado da vida
no
teatro, dramática arena dos bravos,
do
Estádio Nacional de Santiago.
A
fama é tênue e pesa toneladas.
Heróis
despencam no esquecimento
vítimas
da ingratidão covarde e infeliz.
Mas
Garrincha voa, flutua, ganha alento
e,
com arte, com magia e encantamento
desperta,
orgulha e enaltece um país”.
Admito que não se trata
de nenhuma obra-prima, de eventual jóia rara, que me credencie, exagerando
bastante (e põe exagero nisso!) a um Prêmio Nobel de Literatura. Longe (um
milhão de anos-luz de distância) disso! Mas, convenhamos, o poema tem lá seu
encanto (descontando os exageros que cometi, a pretexto de “licenças
poéticas”). Destaco que no terreno da não-ficção, escrevi um livro inteiro
sobre futebol, intitulado “Copas ganhas e perdidas”. Foi escrito em 2010 e eu
tinha expectativa de publicá-lo antes do traumático Mundial de 2014,
“imortalizado” com o vexame da Seleção Brasileira, que fez história sofrendo o
inexplicável placar de 7 a 1 diante da implacável Alemanha, mesmo jogando em
seus domínios. Esse desastre futebolístico ainda vai dar muito pano para manga,
com certeza. Atualizei, claro, o livro com os detalhes da Copa de 2014 e tenho
expectativa de publicá-lo antes do Mundial da Rússia, em 2018.
Sinceridade? Não tenho
muita esperança (quase nenhuma) de interessar alguma editora, para publicar
esse livro, tendo em vista o fracasso nas negociações que mantive com algumas,
entre 2011 e 2013. Mas... nunca se sabe. Não sabemos nem mesmo o que pode nos
acontecer no minuto seguinte, quanto mais nos próximos três anos, não é mesmo?
E por que trouxe esse assunto à baila, neste espaço nobre voltado à Literatura?
Não, meus críticos implacáveis, não foi para me vangloriar (até porque, não há
motivo para tanto). Foi para atender à solicitação de dezenas de leitores (sem
exagero) feita por e-mail, o que, óbvio, me lisonjeia. Faço-o, pois, com
inegável satisfação, mesmo correndo o risco de ser mal interpretado (o que é
quase certo que serei). É o que tenho a declarar a propósito, por ora
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk.
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