Sunday, January 31, 2016

Moeda aviltada



Pedro J. Bondaczuk


A Casa da Moeda, a continuar na atual escalada inflacionária no País, vai precisar dispor de um imenso cadastro de personalidades a serem homenageadas nas novas cédulas que terá de emitir. É verdade que não faltam os que merecem homenagens, por terem se destacado nos campos da cultura, da ciência, da arte e do esporte. Todavia, a lembrança acaba sendo efêmera demais. Em pouco tempo as notas são recolhidas e substituídas por valores mais altos. Coisas de um país que convive com a absurda taxa de inflação de 35% ao mês.

A Casa da Moeda, por exemplo, já está preparando as novas cédulas de Cr$ 10 mil e de Cr$ 50 mil, que vão entrar em circulação no início de 1994. E vão surgir já valendo bem menos, em termos reais. As previsões são de que a taxa inflacionária no período se mantenha no atual patamar.

A nova nota de Cr$ 5 mil, que entra em circulação no final deste mês e que foi aprovada em julho, irá chegar aos nossos bolsos com um poder de compra de Cr$ 1.510,00! Um absurdo! Os 230% da inflação acumulada no período são responsáveis por esse estrago. Não se pode, portanto, dizer que o País dispõe de uma moeda, no verdadeiro sentido da palavra.

Algumas das cédulas chegam a ter um custo maior do que seu valor nominal. Ou seja, compram menos do que custam. E a população, que não é tola, não confia nelas. Na verdade, à exceção de pequenos negócios triviais do dia-a-dia, são as moedas paralelas, que circulam com fartura, as utilizadas nas várias transações. Até cachorro-quente já é cotado em dólar! Somos, por acaso, um país soberano?  

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 18 de outubro de 1993)


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