Moeda
aviltada
Pedro J. Bondaczuk
A Casa da Moeda, a continuar na atual escalada
inflacionária no País, vai precisar dispor de um imenso cadastro de
personalidades a serem homenageadas nas novas cédulas que terá de emitir. É
verdade que não faltam os que merecem homenagens, por terem se destacado nos
campos da cultura, da ciência, da arte e do esporte. Todavia, a lembrança acaba
sendo efêmera demais. Em pouco tempo as notas são recolhidas e substituídas por
valores mais altos. Coisas de um país que convive com a absurda taxa de
inflação de 35% ao mês.
A Casa da Moeda, por exemplo, já está preparando as
novas cédulas de Cr$ 10 mil e de Cr$ 50 mil, que vão entrar em circulação no
início de 1994. E vão surgir já valendo bem menos, em termos reais. As previsões
são de que a taxa inflacionária no período se mantenha no atual patamar.
A nova nota de Cr$ 5 mil, que entra em circulação no
final deste mês e que foi aprovada em julho, irá chegar aos nossos bolsos com
um poder de compra de Cr$ 1.510,00! Um absurdo! Os 230% da inflação acumulada
no período são responsáveis por esse estrago. Não se pode, portanto, dizer que
o País dispõe de uma moeda, no verdadeiro sentido da palavra.
Algumas das cédulas chegam a ter um custo maior do
que seu valor nominal. Ou seja, compram menos do que custam. E a população, que
não é tola, não confia nelas. Na verdade, à exceção de pequenos negócios
triviais do dia-a-dia, são as moedas paralelas, que circulam com fartura, as
utilizadas nas várias transações. Até cachorro-quente já é cotado em dólar!
Somos, por acaso, um país soberano?
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 18 de outubro de 1993)
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