O que precisamos saber?
Pedro
J. Bondaczuk
O ato de pensar é um
mistério (pelo menos para mim e, suponho que, também, para os especialistas que
se debruçam no estudo da mente humana). Envolve inúmeras indagações e poucas
(talvez nenhuma) certezas. Seu produto é abstrato: é o “pensamento”, que pode
ser definido como concepção, combinação e comparação de idéias. Como se dá tal
processo? O homem é o único animal que tem essa capacidade? Tem controle sobre
o ato, ou seja, pensa quando quer, ou os pensamentos lhe vêm à mente à sua
revelia? Baseado em minha experiência pessoal, a única a que posso recorrer,
não temos controle sobre o ato de pensar. Ou seja, não pensamos o que e quando
queremos. Pelo menos, não sempre. Os pensamentos (a imensa maioria) ocorrem
espontaneamente, sem nossa interferência. A maior parte vem confusa e disforme,
embora, misteriosamente, os entendamos. Alguns, até conseguimos expressar.
Outros tantos, não, mesmo depois de elaborados e revestidos de palavras
lógicas, não por sua lógica, mas por sua
inconveniência.
Os pensamentos, caso
não os expressemos por qualquer motivo, permanecem rigorosamente inacessíveis
para terceiros. Posso, por exemplo, estar pensando mal de alguém, mas se não
expressar essa minha avaliação negativa, ele jamais saberá disso. Já imaginaram
se pudéssemos ler pensamentos alheios (e vice-versa, ou seja, se os outros
pudessem ler os nossos)? Seria o caos! Conflitos e mais conflitos se
sucederiam. Ouso afirmar que seria impossível a existência de qualquer tipo de
sociedade, quer da família, quer de algum outro tipo de associação.
O homem é um animal que
ainda está em processo de evolução, que tende a ser sumamente lento, de
milhares, quiçá milhões (ou mesmo bilhões) de anos. É possível (seria
provável?) que um dia conseguirá controlar, plenamente, o ato de pensar e que,
com muito treino, na base de tentativa e erro, já consiga determinar a
qualidade e o teor de alguns desses pensamentos. É um esforço que vale a pena.
Afinal, mesmo que não venhamos a nos dar conta, somos, de fato, o que pensamos.
Se pensarmos que somos infelizes e fracos, assim seremos. Se nutrirmos
pensamentos negativos, de mágoas, ressentimentos, ciúmes e vinganças, sem os
“expulsarmos”, pensando outras coisas que não sejam negativas, estaremos
apostando na infelicidade. E seremos, dessa forma, infelizes.
Victor Hugo nos lembra:
“Há pensamentos que são orações. Há momentos nos quais, seja qual for a posição
do corpo, a alma está de joelhos”. Esta é a postura dos que têm fé, dos que não
abrem mão da esperança e dos que vivem com qualidade e alegria. Nada no ser
humano é mais nobre e maior do que a razão. Nada se compara à sua capacidade de
raciocinar, de analisar e de entender tudo e todos que o cercam e de criar, com
a simples força do pensamento, o abstrato, ou seja, o que não existe. Não fora
sua racionalidade, esse animal, fatalmente, já teria desaparecido da Terra. O
filósofo e pacifista inglês, Bertrand Russel, constatou: “O pensamento é
grande, livre e rápido: é a luz do mundo e a glória mais alta do ser humano”.
Muito do que pensamos
e, por conseqüência, do que somos e fazemos, depende de nossas circunstâncias:
do lar em que nascemos, da educação que recebemos, das oportunidades que nos
aparecem e que aproveitamos, das pessoas que conhecemos, dos livros que lemos
etc.etc.etc. Elas determinam, caso não consigamos alterá-las, quando
desfavoráveis, o teor e a qualidade das nossas idéias. Boa parte (é impossível
quantificar) dos nossos pensamentos não conseguimos, nunca, revestir de
coerência. São confusos, caóticos, difusos, embora, às vezes, tenhamos intuição,
se não certeza, que caso conseguíssemos expressá-los, de maneira lógica,
poderíamos fazer maravilhas. Fernando Pessoa escreveu a respeito: “Tenho
pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova
luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos
homens”. Eu também os tenho. Você também tem, paciente leitor, mesmo que nunca
tenha se dado conta e nem parado para refletir a respeito.
Se conseguirmos dar
coerência a esses pensamentos grandiosos e fazê-los viver, se tivermos
convicção da nossa grandeza, na devida proporção da nossa humanidade, e se nos
convencermos de que estamos destinados ao sucesso, dificilmente deixaremos de
ser vencedores naquilo que empreendermos
(claro, desde que seja factível e que ajamos nesse sentido). O sábio budista
Pali Tripitaki concluiu: “O que somos hoje é uma conseqüência do nosso
pensamento de ontem, e o nosso pensamento presente constrói a nossa vida de
amanhã: a nossa vida é uma criação do nosso espírito”.
Não podemos (ainda), é
fato, controlar o ato de pensar, mas podemos nos predispor a que seu produto (o
pensamento), seja coerente, positivo e construtivo, pelo menos na sua maior
parte. Como? Isso é algo que cada um tem que descobrir por si. Fernando Pessoa
observou que “o homem não sabe mais que
os outros animais; sabe menos. Eles sabem o que precisam saber. Nós não”. É
esse segredo que nos compete desvendar. O que precisamos saber e não sabemos?
Sim, o que?
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment