Nem tanto ao céu nem
tanto à terra
Pedro
J. Bondaczuk
A Literatura tem alguma
importância prática em nossa vida, ou não passa de mero passatempo (posto que
muito agradável), uma espécie de refinado lazer? Essa é uma pergunta
recorrente, que faço continuamente, a mim mesmo e a outros (escritores ou não)
e a resposta, invariavelmente, é no sentido de exaltar, mesmo que
moderadamente, seu valor. Nem tanto ao céu, nem tanto à terra. Trouxe este tema
à baila vezes sem conta e, portanto, não é necessário que meus críticos
gratuitos (aqueles que só vêem defeitos no que escrevo, sem reconhecer qualquer
virtude) venham me dizer que estou sendo repetitivo. De fato, estou! Prefiro,
entretanto, afirmar que estou sendo “reiterativo” e a reiteração é uma espécie
de rotina na profissão que exerço: o jornalismo.
Como admiti em uma das
minhas tantas crônicas a propósito – admissão que faço sem nenhum
constrangimento – sou suspeito (suspeitíssimo) para opinar sobre a importância
da Literatura, posto que vivo dela. E, há tempos (mais de 60 anos) em suas duas
principais vertentes; na condição de leitor e na de produtor. Em ambas tive
satisfações (muitas) e decepções (razoáveis). No primeiro caso, tive o
privilégio de ler livros que, se não mudaram os rumos da minha vida (alguns
mudaram), determinaram minha visão de mundo. Contudo, decepcionei-me com
determinadas obras literárias (minhas e de terceiros), até mesmo bem escritas
em termos formais, mas... ocas. Totalmente sem conteúdo. São os tais livros que
podem (e devem) ser enquadrados na categoria de “bonitinhos, mas ordinários”.
Não citarei nenhum para não ferir suscetibilidades e para conservar uma norma
que adotei e que, para mim, é regra inflexível, uma espécie de “cláusula pétrea”:
a de não destruir e nem contribuir para a destruição de nenhum escritor, por
pior que ele seja. Entendo que sempre possa melhorar e, quem sabe, tornar-se
“excelente”.
A Literatura, para mim,
é muito mais do que meio de aprendizagem e forma sofisticada e nobre de lazer
(embora seja, “também”, tudo isso). É o meio pelo qual obtenho meu sustento (aí
considerando o jornalismo, que se vale de muitas técnicas literárias e das
mesmas ferramentas: as regras do meu idioma). Entendo, todavia, que a Literatura
é muito importante para a “fermentação” de idéias, para o estudo do
comportamento das pessoas e para me indicar, sobretudo, o que não devo fazer,
caso tenha intenção de obter sucesso no que me empenho e na convivência do dia
a dia. Neste ponto estou, propositalmente, sendo repetitivo. Aliás, na verdade,
reiterativo. Contudo, sou, principalmente coerente. Pelo menos nesse aspecto,
não me contradigo.
Todavia, os
relativamente muitos anos que vivi alteraram, ligeiramente, minha visão sobre a
importância da Literatura. Quando mais jovem, imbuído de idealismo, considerava
que ela era “absoluta”. Hoje sei, talvez só intuitivamente, que é apenas
“relativa”, Nem é inútil, como acusam os que não sabem ou não gostam de ler
(uma infinidade de pessoas, sobretudo no Brasil, onde é atividade de risco,
eivada de frustrações e decepções de toda a sorte) e nem essencial à vida, como
pretendem os que a produzem (e como eu pretendi há não muito). O ensaísta
escocês, Thomas Carlyle, advertiu a propósito: “A literatura é o vinho da vida,
mas não pode ser o seu alimento” (já citei esta declaração). A bebida, se
tomada com moderação, nos dá prazer. Mas se ingerida em excesso... embriaga,
não alimenta e, para complicar, pode viciar. E vício algum, convenhamos, é
minimamente recomendável
Se a Literatura é
importante na vida das pessoas (e estou absolutamente convicto que é, mesmo que
relativamente), qual é seu verdadeiro papel no estudo dos seres vivos
(principalmente dos humanos)? Para quê ela serve? Para divertir, ou para instruir,
orientar, analisar e concluir? Alguém pode, a esta altura, perguntar: “mas não
temos a ciência para isso?”. Temos. Mas somente ela não basta. A vida (pelo
menos para o “Homo Sapiens”, único animal dotado de razão), não se restringe a
leis naturais e imutáveis. Ademais, nenhum ser vivo reage de forma
absolutamente igual. Ela é sutil e não comporta análises mecânicas e genéricas.
Para sua compreensão, são necessários exemplos, das várias formas de
comportamento das pessoas. Ainda assim, somos incapazes de compreender em
profundidade esse maravilhoso mistério, esse privilégio, essa magnífica
aventura que é viver. O escritor, sociólogo e filósofo francês, Roland Barthes,
constatou: “A ciência é grosseira, a vida é sutil, e é para corrigir essa
distância que a literatura nos importa”.
Nem todos livros,
todavia, nos ensinam adequadamente, ou mesmo nos divertem sem nos aborrecer, já
que o aborrecimento não se coaduna com diversão. Diria que, apenas, 10% (sendo
sumamente otimista) preenchem uma dessas condições e um percentual bem menor
satisfaz a ambas. Dependem, claro, do conteúdo, mas não apenas dele. A forma
também é importante. Os livros têm que ser claros, corretíssimos, e em estilo
limpo, simples e atrativo. E são poucos os escritores que conseguem aliar as
duas características. Creiam-me, não estou sendo pessimista. Além do que, a
utilidade ou inutilidade de determinada obra, depende bastante de quem a lê. O
polêmico e temperamental filósofo alemão, Friedrich Nietzsche, opinou: “Os
leitores extraem dos livros, consoante o seu caráter, a exemplo da abelha ou da
aranha que, do suco das flores retiram, uma o mel, a outra o veneno”. E não é o
que ocorre?!!! Pense nisso!
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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