Surge rara safra de estadistas nas Américas
Pedro
J. Bondaczuk
A América Latina em
geral (e a Central em particular) em virtude de suas tradicionais práticas
caudilhescas, nunca foi farta em grandes estadistas. Às vezes aparece, um ou
outro, aqui ou ali, nos raros hiatos entre uma ditadura e outra, que geram
esperanças nas sofridas populações do continente, em geral frustradas não muito
tempo depois. Entretanto, de 1983 para cá, uma nova “safra” de políticos está
aparecendo na região. Gente com idéias novas e grande visão de futuro, como o
presidente argentino, Raul Alfonsin; como o peruano, Alan Garcia Perez, ou como
o uruguaio, Júlio Maria Sanguinetti. São poucos, é verdade, mas em raras vezes
os latino-americanos tiveram tantos líderes notáveis pela seu espírito público,
desprendimento e espírito e vocação democrática ocupando, ao mesmo tempo,
cargos de tamanha relevância, como agora.
A América Central, que
sempre se constituiu no patinho feio das Américas, em estereótipo de ditaduras,
a tal ponto de seus países serem chamados, jocosamente, de “Repúblicas de
Bananas”, não ficou de fora desse ressurgimento democrático, ainda cercado de
muitas ameaças. Tem, na figura do costarriquenho Oscar Arias Sanchez legítimo
estadista, capaz de conter ódios e ressentimentos (alguns até seculares) em
favor de uma causa maior: da estabilidade política, econômica e social dessa
sofrida região, para que ela deixe de ser o joguete que sempre foi, ao longo da
história contemporânea, dos ricos e poderosos e crie e siga seu próprio destino,
sem interferências de terceiros.
O plano de paz de Oscar
Arias para a América Central, posto que de execução ainda duvidosa face os
múltiplos obstáculos existentes, é uma obra de raro arrojo e de muita coragem.
A primeira vez que a proposta veio à baila na grande imprensa foi em janeiro
passado. Na oportunidade, foi acolhida com frieza e indisfarçável pouco caso.
Podemos dizer que até mesmo houve certa hostilidade à proposta. Ninguém
acreditava que um continente, tutelado por mais de um século e meio, pelos
Estados Unidos, pudesse achar, por iniciativa própria, seu caminho para sair da
magnífica enrascada em que se meteu. Arias, todavia, mostrou determinação, típica
dos visionários, dos idealistas, dos que acreditam no próximo e, claro,
confiança na própria capacidade de convencimento.
Com enorme paciência, o
líder costarriquenho foi tecendo a rede de entendimentos entre as várias partes
em conflito, atraindo o interesse dos outros quatro presidentes dos países
convulsionados por perversas e intermináveis guerras civis. Até que obteve o
que a muitos parecia um milagre quase impossível de acontecer. Reuniu, em torno
de uma mesma mesa de negociações, pessoas com idéias e interesses heterogêneos,
muito diferentes, conflitantes até acerca do papel da América Central no mundo
contemporâneo. Por isso, fica-se torcendo pelo sucesso da empreitada desse
líder conciliador. E mesmo que ela venha a fracassar, a simples emergência de
um estadista tão lúcido e pertinaz, como Oscar Arias Sanchez, já é uma vitória
do bom senso, que deve ser saudada por todos os latino-americanos, tão carentes
de lideranças autênticas e de cabeças pensantes lúcidas e arejadas.
(Artigo publicado na
editoria Internacional do Correio Popular, em 24 de setembro de 1987).
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