A vibrante poesia
nórdica
Pedro
J. Bondaczuk
Os poetas nórdicos –
suecos, noruegueses, dinamarqueses, islandeses e finlandeses – são,
praticamente, ignorados fora do âmbito europeu (sobretudo, no Brasil), como se
nesses países gélidos não houvesse poesia. Todavia há, e de alta qualidade:
vibrante, vigorosa e lírica. Há quem atribua esse desconhecimento a
dificuldades lingüísticas, o que faz com que poucos deles sejam traduzidos para
o português. Isso é verdade, mas somente em parte. Mesmo os traduzidos, embora
excelentes poetas, permanecem desconhecidos. Por que? Por desconhecimento? Por
preconceito? Sei lá! Tomo como exemplo o caso do dinamarquês Piet Heim.
“Descobri-o” por acaso. Um amigo, que fazia “limpeza” em sua biblioteca,
sabendo do meu fascínio por poetas e, sobretudo, dos pouco conhecidos (ou
totalmente desconhecidos), me presenteou com um livreto desse escritor, do qual
iria, de qualquer forma, se desfazer (uma heresia!)..
Li-o, avidamente, e não
consegui esconder, primeiro, minha surpresa e na sequência, meu entusiasmo pelo
teor desse livro, bastante judiado e que requeria alguns reparos para não se
desfazer. Escrevi uma série de comentários a propósito e, a partir daí,
encontrei, finalmente, referências a seu respeito e a vários de seus poemas,
sobretudo dos que mais enfatizei. Não afirmo que isso tenha se devido à minha
humilde intervenção, mas estou seguro que ela teve, sim, certa influência
nessa, se não popularização, pelo menos relativa divulgação da poesia de Piet
Heim. Por coincidência, ganhei o citado livreto em 1996, ano da sua morte
(ocorrida num 17 de abril). Se bobear, o presente (que o presenteador, reitero,
pretendia se desfazer jogando-o no lixo) me foi dado na data exata em que o
dinamarquês morreu. Se não o foi... foi em ocasião muito próxima.
Fiquei conhecendo
vários poetas nórdicos (a maioria, suecos) da mesma maneira que conheci o
dinamarquês Piet Heim. Ou seja, por “coincidência”. Ou recebi livros deles de
amigos (porém, todos traduzidos para o espanhol, e nenhum para o português), ou
seus poemas esparsos, que guardo como relíquias, mas não apenas pelo valor
sentimental, mas, sobretudo, por sua alta qualidade literária. São os casos,
por exemplo, dos suecos Lars Gustafsson (que além de poeta, é novelista e
ensaísta), Torny Lindgren (autor de “Poemas de Vimmerby”) e Tomas Transtromer,
ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 2011. Aliás, sobre este último, que
faleceu recentemente, em 26 de março de 2015, proponho-me a tecer
(oportunamente) comentários mais detalhados, pela coragem com que enfrentou
sério problema de saúde que lhe limitou seus últimos 25 anos de vida, em
decorrência de um AVC, que o deixou virtualmente sem fala e hemiplégico, mas
que não impediu que escrevesse seus melhores livros nesse período e, principalmente,
pela altíssima qualidade de sua poesia.
Mas não foram, apenas,
suecos os poetas nórdicos que tive o privilégio de conhecer praticamente por
acaso. Posso citar, dos que me lembro agora (sem consultar nenhuma anotação e
nem vasculhar meus arquivos), o dinamarquês Henrik Norbrandt, autor de “Nosso
amor é como Bizancio” e o islandês Sjón, pseudônimo de Sigurjón B. Sigurosson,
prolífico escritor, autor, ainda, de sete novelas e de três livros infantis.
Este último é um escritor que particularmente mais aprecio, tanto por sua
criatividade quanto por comprovar que a pequenina e acidentada Islândia, com
sua multiplicidade de vulcões ativos, tem uma Literatura vibrante, viva e da
mais refinada qualidade literária.
É mister citar, ainda,
os noruegueses Rolf Jacobsen, Astrid Hjertenaes Andersen e Gunvor Hofmo; os
dinamarqueses Torbe Bronston e Inger Christensen e o finlandês Lars Hulden,
todos com livros traduzidos para o espanhol. Suponho que nenhum deles possa ser
lido no nosso idioma. Uma pena!! Para não ficar, apenas, no bla-bla-blá,
partilho, com vocês, dois pequenos-grandes poemas de Tomas Transtromer, o
ganhador do Nobel de Literatura de 2011, repletos de lirismo, caracterizados,
sobretudo, pelas imagens que o autor traz à baila, numa espécie de “aquarela”,
posto que “pintada” com palavras:
Novembro
“Quando o esbirro se
aborrece,
torna-se perigoso.
O céu constrói-se, em
chamas.
Sinais de pancadas
ouvem-se
de cela em cela.
E do solo, coberto de
neve,
o espaço jorra.
Algumas pedras brilham
como luas cheias”.
(Tradução do alemão
para português por Luís Costa).
Formiga
“Quieta, a formiga
acorda,
espreita para dentro do
nada. E para além das
gotas
da escura folhagem
e do murmúrio noturno,
profundo no
desfiladeiro do verão,
não se ouve mais nada”.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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