Certezas e surpresas das urnas
Pedro J. Bondaczuk
Os resultados das eleições
do dia 3 passado apresentaram algumas confirmações, determinadas surpresas e
uma certeza: a de que o País está no caminho da consolidação democrática. As
urnas trouxeram alegrias para uns, decepção para outros e insegurança para os
que terão de enfrentar um árduo segundo turno, como é o caso dos candidatos ao
governo do Estado de São Paulo, Mário Covas, do PSDB e Francisco Rossi, do PDT.
Em 15 de novembro próximo, os eleitores paulistas serão convocados, mais uma
vez, agora para decidir entre esses dois políticos.
A
principal confirmação destas eleições foi a vitória categórica, limpa, e que
não deixou nenhuma margem de dúvida, do senador Fernando Henrique Cardoso. Em
fevereiro passado, neste mesmo espaço, havíamos prognosticado que o mentor do
Plano Real jogaria todas as suas fichas no programa de estabilização que
elaborou.
Afirmamos
que, caso a inflação despencasse, como se projetava, até as vésperas da
votação, e não houvesse nenhum “acidente de percurso”, seria uma barbada. Seria
eleito e, possivelmente, no primeiro turno. Nem era necessário ser nenhuma
pitonisa. Bastava andar pelas ruas para saber qual era a grande angústia do
cidadão, às voltas com taxas inflacionárias absurdas, que tornavam a vida da
maioria uma autêntica “corda-bamba”.
Aliás,
sequer faltou um abalo significativo na campanha do então candidato tucano e
que não foi, como muitos erroneamente entendiam, o caso da “parabólica”, embora
as inconfidências do ex-ministro da Fazenda, Rubens Ricúpero, quase pusessem a
perder esforço, dinheiro, estratégia, contatos e tudo o mais objetivando a
vitória nas urnas.
O
momento crítico foram as revelações sobre o então candidato à vice-presidência
de FHC, Guilherme Palmeira, acusado de estar envolvido em negociatas com
empreiteiras. A questão foi contornada com habilidade, mas a escolha do
substituto não deixou de ser arriscada.
Afinal,
Marco Maciel, pelo seu passado vinculado à ditadura militar, pouco, ou nada,
tinha (e ainda não tem) a ver com Fernando Henrique. Mas o poder do Plano Real
era tão irresistível, que mesmo assim, apesar da aliança com o PFL, o senador
tucano logrou se eleger, e sem a necessidade do segundo turno (como também
previmos neste espaço, logo no início da propaganda gratuita por rádio e
televisão).
E
o que será da nova moeda? Esta é a pergunta que os cidadãos, confiantes de que
os adversários do presidente eleito é que estavam errados ao prever o naufrágio
da estabilização, fazem. Todos (ou pelo menos a grande maioria) esperam que o
Real permaneça estável. E que o programa não seja, como se apregoou
insistentemente em determinados círculos, outro “estelionato eleitoral”.
Pelo
menos até aqui, apesar de uma ameaça ou outra, os preços vêm se comportando
razoavelmente bem. Agora, as coisas já não dependem do governo, mas do
consumidor, que precisa mostrar que é esperto e não se deixar enganar por
empresários gananciosos, quando não incompetentes em conquistar e reter
fregueses. Não pague ágio. “Não seja otário”, como diz o ministro Ciro Gomes.
As
surpresas, trazidas pelas urnas, ficaram por conta de determinados “caciques”,
de alguns “coronéis”, que não conseguiram se eleger. É certo que muitos maus
políticos obtiveram novo mandato, às custas do despreparo de eleitores ingênuos
ou, sabe-se lá que expedientes utilizados.
Provavelmente
foram eleitos às custas dos malfadados (e ainda muito presentes, principalmente
em algumas áreas do Nordeste) “currais eleitorais”. Mas a Câmara teve 50% de
renovação, o que é muito saudável. Sua nova composição mescla experiência com
sangue novo. Tem condições, portanto, de fazer as reformas de que o País tanto
necessita e que só não fará se não quiser.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, da Folha do Taquaral, em 15 de outubro de
1994).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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