Friday, January 15, 2016

Certezas e surpresas das urnas



Pedro J. Bondaczuk


Os resultados das eleições do dia 3 passado apresentaram algumas confirmações, determinadas surpresas e uma certeza: a de que o País está no caminho da consolidação democrática. As urnas trouxeram alegrias para uns, decepção para outros e insegurança para os que terão de enfrentar um árduo segundo turno, como é o caso dos candidatos ao governo do Estado de São Paulo, Mário Covas, do PSDB e Francisco Rossi, do PDT. Em 15 de novembro próximo, os eleitores paulistas serão convocados, mais uma vez, agora para decidir entre esses dois políticos.

A principal confirmação destas eleições foi a vitória categórica, limpa, e que não deixou nenhuma margem de dúvida, do senador Fernando Henrique Cardoso. Em fevereiro passado, neste mesmo espaço, havíamos prognosticado que o mentor do Plano Real jogaria todas as suas fichas no programa de estabilização que elaborou.

Afirmamos que, caso a inflação despencasse, como se projetava, até as vésperas da votação, e não houvesse nenhum “acidente de percurso”, seria uma barbada. Seria eleito e, possivelmente, no primeiro turno. Nem era necessário ser nenhuma pitonisa. Bastava andar pelas ruas para saber qual era a grande angústia do cidadão, às voltas com taxas inflacionárias absurdas, que tornavam a vida da maioria uma autêntica “corda-bamba”.

Aliás, sequer faltou um abalo significativo na campanha do então candidato tucano e que não foi, como muitos erroneamente entendiam, o caso da “parabólica”, embora as inconfidências do ex-ministro da Fazenda, Rubens Ricúpero, quase pusessem a perder esforço, dinheiro, estratégia, contatos e tudo o mais objetivando a vitória nas urnas.

O momento crítico foram as revelações sobre o então candidato à vice-presidência de FHC, Guilherme Palmeira, acusado de estar envolvido em negociatas com empreiteiras. A questão foi contornada com habilidade, mas a escolha do substituto não deixou de ser arriscada.

Afinal, Marco Maciel, pelo seu passado vinculado à ditadura militar, pouco, ou nada, tinha (e ainda não tem) a ver com Fernando Henrique. Mas o poder do Plano Real era tão irresistível, que mesmo assim, apesar da aliança com o PFL, o senador tucano logrou se eleger, e sem a necessidade do segundo turno (como também previmos neste espaço, logo no início da propaganda gratuita por rádio e televisão).

E o que será da nova moeda? Esta é a pergunta que os cidadãos, confiantes de que os adversários do presidente eleito é que estavam errados ao prever o naufrágio da estabilização, fazem. Todos (ou pelo menos a grande maioria) esperam que o Real permaneça estável. E que o programa não seja, como se apregoou insistentemente em determinados círculos, outro “estelionato eleitoral”.

Pelo menos até aqui, apesar de uma ameaça ou outra, os preços vêm se comportando razoavelmente bem. Agora, as coisas já não dependem do governo, mas do consumidor, que precisa mostrar que é esperto e não se deixar enganar por empresários gananciosos, quando não incompetentes em conquistar e reter fregueses. Não pague ágio. “Não seja otário”, como diz o ministro Ciro Gomes.

As surpresas, trazidas pelas urnas, ficaram por conta de determinados “caciques”, de alguns “coronéis”, que não conseguiram se eleger. É certo que muitos maus políticos obtiveram novo mandato, às custas do despreparo de eleitores ingênuos ou, sabe-se lá que expedientes utilizados.

Provavelmente foram eleitos às custas dos malfadados (e ainda muito presentes, principalmente em algumas áreas do Nordeste) “currais eleitorais”. Mas a Câmara teve 50% de renovação, o que é muito saudável. Sua nova composição mescla experiência com sangue novo. Tem condições, portanto, de fazer as reformas de que o País tanto necessita e que só não fará se não quiser.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, da Folha do Taquaral, em 15 de outubro de 1994).


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