Saturday, January 30, 2016

Diante de uma telinha em branco

Pedro J. Bondaczuk

O que escrever? Essa é pergunta constante que o escritor se faz, a todo momento – antigamente diante de uma folha de papel em branco e, nos tempos atuais (salvo exceções) à frente da telinha do computador vazia de caracteres, à espera de ser preenchida. A dúvida, na maioria das vezes, não se prende à falta de assunto, mas, pelo contrário, á sua abundância, ao excesso deles. Há dias, porém, que por maior que seja a variedade de temas pipocando em nossa cabeça, não se destaca nenhum que naquele exato momento se imponha e que consideremos “maduro” para ganhar existência em letras de forma. Essa, aliás, não é uma pergunta que atormenta somente escritores, e nem mesmo é a única (antes fosse), mas, às vezes, se constitui em drama para todo redator  O que escrever?

Caso se trate de tarefa rotineira, a dúvida vem acompanhada de pressão. Aí a coisa pega e se complica de vez!! Digamos que você tenha coluna fixa de crônica (ou de artigo, não importa) em algum jornal de circulação diária e que, para complicar, tenha cometido a imprudência de elaborar o tal texto, aguardado com ansiedade e explicável impaciência pelo editor (que tem que cumprir um deadline) na última hora. Caso não tenha que entregar sua produção no mesmo dia e não esteja convicto sobre o que escrever, pode, simplesmente, adiar a redação para outro dia. Com tempo, portanto, para planejar e decidir. Mas, na hipótese que levantei, isso não é possível. O editor já telefonou três vezes, cobrando o tal texto, e você sequer definiu qual o assunto que vai abordar. O que fazer? Pior, o que escrever?

Essa é uma situação muito mais comum do que o leitor possa imaginar. Volta e meia passo por ela, por mais que me previna. De um jeito ou de outro – nem mesmo sei como – tenho me saído bem. Caso contrário... há muito que minhas colunas teriam sido substituídas pelas de outros redatores e eu teria perdido preciosos espaços para divulgar minha produção. Alguns, sob pressão, não conseguem escrever nada. As idéias embaralham-se, não raro dá um súbito “branco” na mente e não conseguem pensar em absolutamente nada. No meu caso, todavia, tenho longo treinamento no jornalismo.

Nas várias redações pelas quais passei fui condicionado a escrever sob todo tipo de pressão. Mas não a redigir qualquer coisa, mal e porcamente, o que não é solução, mas agravamento do problema, porquanto se o fizesse perderia o emprego. Fui treinado a, mesmo quando pressionado, a escrever com qualidade. Claro que nem todo texto é uma obra-prima, um primor de perfeição. Aliás, no meu caso, e no de tantos e tantos escritores, produções que sobrevivam ao tempo e ao esquecimento, por serem impecáveis, são raras, raríssimas. Dou-me por satisfeito quando as redações saem claras, sem erros de nenhuma espécie (sobretudo gramaticais) e com conteúdo. Têm que sair! É o mínimo dos mínimos que se cobra de um redator.

A maior dificuldade, quando me vejo envolvido nas circunstâncias que descrevi, tão logo defina o assunto a tratar (que, não sei por que sortilégio, brota, como lampejo, de repente na mente) é como iniciar e como concluir o texto. Não sei explicar a razão, mas o “miolo” da crônica (quando é o caso), sai macio e suave, para a minha (agradável) surpresa. Nunca empaquei nessa parte. As coisas são bem mais simples quando o tema a abordar me é imposto por quem encomenda o tal texto. Nessas circunstâncias, nunca encontrei dificuldades em escrever. Mesmo quando se trate de assunto que exija vasto conhecimento. Modéstia a parte, conto, a meu favor, nestes casos, com considerável cultura geral, fruto não somente da minha razoavelmente boa trajetória acadêmica, mas, principalmente, de uma “overdose” de leitura.


Trago isso, hoje, à baila, como modesta contribuição aos escritores novatos, que quando se vêem confrontados com circunstâncias como estas, chegam a duvidar do próprio talento. Acham que esse vazio mental diante de uma folha de papel em branco ou da telinha do computador acontece só com eles e que, portanto, não têm vocação para a atividade que tanto amam. Contam, ingenuamente, que terão na hora que quiserem o que se convencionou chamar de “inspiração”, quando Literatura, na verdade, se faz com pelo menos 99% de transpiração. É um trabalho braçal, exaustivo e quase nunca compensador.  Para estes, que desanimam diante de dificuldades que são generalizadas, informo (e espero que me acreditem) que elas são sumamente comuns para qualquer redator, embora quase todos neguem enfaticamente  já terem passado por algo assim. Mentem desavergonhadamente, claro.

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