Um desesperado amor
interracial
Pedro
J. Bondaczuk
A escritora
norte-americana Pearl S. Buck – criada na China, onde passou cerca da metade da
vida – tinha, como tema recorrente dos seus romances, o amor interracial, que
na primeira metade do século XX era tabu. Havia forte preconceito a respeito o
que, a bem da verdade, ainda persiste, posto que de forma dissimulada,
camuflada, revestida de eufemismos e que não é, portanto, tão ostensiva como
então. A resistência a essas uniões entre pessoas de etnias diferentes,
todavia, permanece viva entre as famílias dos envolvidos, entre seus amigos,
conhecido e vai por aí afora. Claro que, como toda forma de preconceito, esta
também é absurda e inconcebível. Mas existe (ainda).
A propósito de Pearl
Buck citei, como personagem feminina “mais” inesquecível (o que pressupõe que
ela não criou uma única e solitária, com tal característica, mas várias) a
chinesa Kwei-Lan, protagonista do livro “Vento Leste vento Oeste”. Um leitor
questionou-me. Perguntou-me o que eu achava da japonesa Josui, que se apaixonou
pelo soldado norte-americano Allen, do romance “A flor oculta”. Confesso que já havia me esquecido desse
livro. Pudera, li-o em 1961 e depois dele, minha quantidade de leitura foi
absurdamente elevada. Haja memória! Por coincidência, tenho essa obra em minha
volumosíssima (porém caótica) biblioteca. Reli-o, pois, neste final de semana e
não posso deixar de dar razão ao leitor que me questionou. Josui é, mesmo,
personagem feminina inesquecível, sem tirar e nem por (desde que se tenha o
romance na memória).
Não é que o livro seja
desses que a gente esquece meses (ou mesmo dias) após concluída a leitura. Não
se trata disso. Ocorre que já se passaram 54 anos (uma vida) desde que o li.
Por isso é que desenvolvi o hábito da releitura. Para não cometer injustiça com
grandes romances e seus autores. “A flor oculta” (cujo título original é “The
didden flower”), foi lançado em 1960, pela Editora Globo, com tradução de Stela
Altenbernd e Gilberto Miranda. Tratava-se do volume 19 da Coleção Catavento.
Foi relançado em 1977 pela Edibolso.
O enredo lembra, de
alguma forma, “Madame Buterfly”, do drama teatral de David Belasco que, por sua
vez, se baseou numa história escrita pelo advogado norte-americano John Luther
Long. A peça inspirou o compositor Giácomo Puccini a compor sua famosa ópera
com esse nome, com libreto da dupla italiana Luigi Illica e Guseppe Giacosa que
estreou em 17 de fevereiro de 1904 no famoso Teatro Scala, de Milão. A maioria
das pessoas do meu círculo íntimo de amizades conhece essa história por haver
assistido à apresentação dessa célebre peça musical e não por assistirem o
drama no teatro ou por lerem o livro que a inspirou. Mas... isso não vem ao
caso.
No romance de Pearl
Buck, Josui é uma japonesa que havia vivido na Califórnia e que um dia
regressou ao Japão. Ali, conheceu Allen, soldado norte-americano, em missão na
terra do sol nascente. A despeito de suas diferenças culturais e realidades
pessoais e familiares muito diversas, ambos se encontraram, se apaixonaram e...
esbarraram no obstáculo quase que irremovível do preconceito racial. Nem a
família de Josui aceitava Allen e nem a dele aprovava seu relacionamento com a
bela japonesa. Óbvio que ambos sofreram horrores e se separaram. Mas desse
romance resultou algo de concreto e bom: o nascimento de Lennie, fruto desse
desesperado amor proibido, que conquistou simpatias gerais, e que é, ao fim e
ao cabo, a tal “flor oculta” do título do livro. Se puderem, leiam essa
memorável obra e se emocionem com o drama, com a emoção, com a tristeza e
posterior saudade de Josui, personagem feminina de fato inesquecível. Eu me
emocionei.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment