Desarmamento
é necessidade óbvia
Pedro J. Bondaczuk
As
potências mundiais intensificam movimentos no rumo de um desarmamento global
que, se não for concretizado, tende a mergulhar a humanidade numa crescente
violência --- maior do que a atual, que já é insuportável --- capaz de chegar
ao paroxismo.
Somado
ao fato, de como afirmou Sigismund Freud, o homem ser, por si só, por instinto,
um animal violento, não falta motivo para que se lance mão de meios destrutivos
para dizer um "basta" às injustiças e corrupções. Todavia, qualquer
pessoa medianamente inteligente sabe, ou intui, as conseqüências dos atos de
força.
Destruir
não possui nenhuma ciência. Saddam Hussein e os 42 países que se opuseram a ele
na guerra do Golfo Pérsico que o digam. Eles são especialistas em
"demolições". Resta saber o quanto há de sinceridade, de verdadeiro e
legítimo empenho das grandes potências em desarmar os povos. Afinal, o comércio
de armas representa, por baixo, 30% de todas as transações comerciais do
Planeta.
Que
o mundo precisa se desarmar, e com urgência, é mais do que óbvio. Mas antes de
tudo requer-se que se desarmem os espíritos. O norte-americano Paul Kennedy
(que não tem nada a ver com o célebre clã de Hiannys Port, do Massachusetts),
constatou: "Em 1985, as despesas militares mundiais chegaram a US$ 940
bilhões, muito mais do que a renda da metade mais pobre da população do
Planeta. Esse gasto em armas aumenta mais depressa do que a expansão da
economia global e da maioria das economias nacionais".
Um
ano depois, o mundo passou a investir US$ 1,3 trilhão em armamentos, mais do
que a totalidade da dívida externa do Terceiro Mundo, que anda pela casa do US$
1,1 trilhão. Os recursos, por sinal esgotáveis, da Terra estão sendo
desperdiçados, portanto, para a preparação do suicídio coletivo da humanidade.
Afinal, as armas tem uma e somente uma única finalidade: matar.
A
guerra do Golfo Pérsico, da maneira como foi noticiada, em especial pela mídia
televisiva, certamente deve ter provocado uma considerável aceleração na
corrida armamentista e, por ironia, justamente entre os povos mais pobres. E
portanto compreensivelmente mais propensos à violência.
Em
determinados instantes, algumas matérias, em canais de televisão, só faltaram
dar aos ditadores no poder (e aos potenciais que o aspiram conquistar mediante
golpes) o endereço dos fabricantes dos caças, tanques, mísseis e equipamentos
bélicos de todas as espécies.
A
pretexto de "ilustrar" as reportagens, eram fornecidas fichas
técnicas completas desses armamentos, como se eles fossem a maravilha das
maravilhas. Como se neles estivesse a grande solução para os problemas que
afligem a humanidade, como a fome, o fanatismo, a ignorância, o analfabetismo,
a exploração do homem pelo homem, as agressões absurdas à natureza, as doenças
e tantas outras mazelas que tornam tão penosa essa fascinante aventura que é a
de viver,
Só
se os líderes mundiais, num ataque de esquizofrenia, estiverem pensando em
resolver a questão da pobreza matando todos os pobres. O jornalista Eduardo
Galeano adverte que só "o orçamento da Força Aérea dos Estados Unidos é
maior do que a soma de todos os orçamentos de educação infantil no chamado
Terceiro Mundo".
É
preciso citar mais algum dado para mostrar que o desarmamento global é hoje,
mais do que uma questão de bom senso, o comportamento mais óbvio que se espera
desse ser que se diz racional? E por tudo isso, não é difícil entender o poeta
Guilhermino César quando desabafa: "A civilização é uma coisa de mau
cheiro/orgulhosa de seus pudores mecânicos/de sua baba erudita, de seus
crimes/polidamente bem arrotados na Bolsa".
(Artigo
publicado na página 15, Internacional, do Correio Popular, em 5 de junho de
1991).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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